Não há mais segredos

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Demorei, mas cheguei... e com o que vocês estavam esperando desde antes do São João...

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Ninguém poderia imaginar o quão irritado Santiago estava consigo mesmo desde o começo daquela viagem para a República Dominicana. Por que ele estava se comportando daquele jeito, como se fosse um garoto jovem, que nunca havia visto uma mulher bonita na vida?

Por que ele estava com ciúmes de todos aqueles homens que tentavam paquerar sua esposa, quando ela não dava nenhum sinal de interesse?

Ele conhecia Elisa o suficiente para saber -e testemunhar -que ela só tinha olhos para o filho, e aquele "bando de gringos" tentava algo sem sucesso.

Todavia, em toda aquela confusão mental, o que realmente passava pela mente de Santiago é que ele havia se casado com Elisa dizendo algo para fora, mas sentindo algo muito importante por dentro. Ele tinha dito a si mesmo, para Alfredo e Cândida, que o motivo pelo qual estava se casando com Elisa era por uma questão jurídica: protegê-la e a Toninho, para que nem ela e o garoto ficassem desamparados caso alguma tragédia acontecesse. A existência do bunker e todo o treino com armas e o cavalo eram para isso também.

Era o que ele dizia para todos, e repetia para que acreditasse ser verdade.

No entanto, seu coração dizia outra coisa; seu corpo, que por anos ficou envolto em dores, agora só ansiava por um único prazer, de beijar a própria esposa com vontade e desejo. Santiago queria Elisa de verdade, como mulher, como a esposa que ele sempre ansiou em apresentar a todos, orgulhoso e protetor. Era diferente do que houve com Márcia – ele não era o mesmo homem de 15 anos atrás; e principalmente, a relação entre Santiago e Elisa começou porque a secretária buscava independência e o sustento dela e do filho. A dignidade e honestidade de Elisa, que jamais existiu em Márcia. As duas nem se comparavam.

Santiago estava apaixonado pela esposa, e precisava falar a verdade.

Ele não se lembrava porém, de quanto daquilo começou. Era um homem prático, sistemático, mas não conseguia atinar na mente a hora que seu sentimento, antes neutro, para com a secretária, se transformou em respeito, afeição, e repentinamente em desejo físico, como também amor.

Santiago não sabia se havia sido quando ela quis ir embora da fazenda Cascalho, após a forma grosseira como ele a tratou na noite do pesadelo; ou foi em todos os momentos que os dois trabalhavam, nas reuniões e conversas no escritório, sobre o destino dos Queijos Vale das Ouriçangas. Talvez fosse porque ela emitia opiniões, não tinha medo de dizer a verdade a ele; ou fato de que ela nunca se importou com a aparência física de Santiago. Ele sabia que algumas mulheres estranhavam a cicatriz grande no rosto, mesmo que ele escondesse com a barba e os cabelos mais longos. Outras achavam esquisita a luva, e apesar de Elisa nunca ter visto o que havia por dentro da camisa, ele entendia que ela não questionaria, não sentiria nojo ou repulsa.

Elisa era uma mulher boa, honesta, que não temia os desafios, e fazia tudo para ter um lugar para si e seu filho. Ela não esmorecia, lutava sempre, nunca desistiu, ao contrário dele, que passou anos tentando lutar contra os próprios pesadelos.

Ela era linda! Olhar para Elisa era ver uma mulher que reluzia sempre ao sorrir, quando estava ao lado do filho, quando confraternizava com os amigos, nos passeios a cavalo, os cabelos soltos ao vento, os cachos formando uma coroa – porque ela era uma rainha. A rainha do mundo dele, a dona daquela fazenda, o centro de seu universo.

Ao lado dela, Santiago se sentia um homem melhor, até mais bonito. Elisa tornava tudo mais bonito. O filho deles tornava o mundo mais bonito: Toninho, seu menino tão precioso e com tanta personalidade. Seu filho.

CascalhoOnde histórias criam vida. Descubra agora