Não tive uma boa noite de sono. Os pesadelos, meus velhos inimigos, voltaram a me atormentar. Desta vez, sonhei que todos ao meu redor estavam congelados em um silêncio eterno, uma cena que me deixou confusa e perdida. Acordei sobressaltada, o coração batendo forte, com o som estridente do despertador invadindo meus ouvidos. Num impulso de frustração, agarrei o maldito aparelho e o lancei contra a parede, onde se espatifou em um protesto final.
Levantei da cama e vi Blue, já de olhos abertos, observando o mundo com curiosidade.
- Você está acordada desde que horas? - perguntei, ainda tentando afastar os resquícios do sonho.
- Ah, eu despertei com as primeiras luzes do dia - respondeu ela, com um bocejo preguiçoso. - Mas não vi sua amiga Raven quando abri os olhos.
- Ela tem o hábito de sair antes do amanhecer, agora só a vejo na sala de aula - expliquei, percebendo o olhar confuso de Blue. - Você não sabe o que é uma sala de aula? É um lugar onde aprendemos novas coisas, onde o conhecimento é compartilhado.
Caminhei até o banheiro e, ao me deparar com as mechas brancas refletidas no espelho, senti uma onda de pânico. Não era fruto da minha imaginação, era real. Precisava de respostas, e rápido. Coloquei um boné para esconder a mudança súbita e ajudei Blue a se arrumar. Ela parecia confusa com o pente, então assumi a tarefa, desembaraçando seus cabelos selvagens. Ela torceu o nariz para o uniforme, reclamando que era apertado e desconfortável.
- Vou te apresentar a uns amigos, vem comigo - convidei-a, e ela assentiu, seguindo-me para fora do dormitório.
- Por que precisamos usar sapatos? Eles são tão incômodos - queixou-se Blue, caminhando de maneira desajeitada.
Ignorando o desconforto dela, seguimos pelo corredor da escola até encontrarmos Mikael e Diana em meio a uma conversa animada. Acenei para eles e me aproximei com um sorriso.
- E aí, pessoal! Essa é a Blue, minha nova amiga. Encontrei-a no jardim durante o baile, e ela é uma garota raposa selvagem que perdeu a memória. O diretor decidiu que ela ficaria conosco enquanto tentamos encontrar sua família - expliquei, enquanto Blue se encolhia ao meu lado, visivelmente desconfortável com a atenção.
- Oi, Blue! Tudo bem? Eu sou a Diana e esse loirinho é o Mikael - disse Diana, estendendo a mão com um sorriso acolhedor.
Blue parecia um pouco deslocada e curiosa ao mesmo tempo. Ela observou Mikael e Diana com um olhar atento, como se estivesse tentando entender o que significava aquela interação social. Havia uma hesitação em seus movimentos, uma insegurança que era evidente pela forma como ela suas orelhas encolhiam um pouco quando as pessoas se aproximavam.
- Oi... - disse Blue timidamente, dando um aceno quase imperceptível com a mão. Sua voz era baixa, quase um sussurro, e ela desviou o olhar, fixando-o em algum ponto atrás de Diana e Mikael. - Eu sou Blue.
Mikael deu um passo à frente, com um sorriso encorajador.
- Não precisa ficar nervosa, Blue. Aqui todo mundo é amigo - disse ele, tentando quebrar o gelo.
Diana se juntou a ele, com um sorriso gentil.
- É isso aí! E se precisar de alguma coisa, pode contar com a gente - acrescentou ela, estendendo a mão em um gesto amigável.
Blue olhou para a mão estendida de Diana, hesitante, mas depois de um breve momento, ela estendeu a sua própria mão e apertou a de Diana levemente. Um pequeno sorriso começou a se formar em seus lábios, e seus ombros relaxaram um pouco, sinalizando que, talvez, ela começasse a se sentir um pouco mais à vontade.
Enquanto estavamos conversando Alex se aproximou de mim, mas eu decidi ignorá-lo, mantendo minha atenção na conversa com meus amigos. No entanto, ele disse algo que, contra minha vontade, capturou meu interesse.
- Vamos fazer uma trégua temporária - ele propôs, olhando diretamente para mim.
- Como assim uma trégua? O que você está tramando? - perguntei, não conseguindo esconder minha desconfiança.
- Preciso da sua ajuda. Os Born Killers estão aqui em Nova York, e eles são ainda mais perigosos agora. Enquanto eu quero o núcleo para propósitos menos sinistros, eles planejam aniquilar a raça humana. Além disso, eles já pegaram a sua coroa. Nunca pedi nada a ninguém antes, mas por favor, una-se a nós. Convença seus amigos a nos ajudarem também. Assim, pegaremos os itens antes deles e, quando derrotarmos os Born Killers, devolveremos tudo ao seu lugar. Eu prometo devolver a coroa a você. - Ele tentava me persuadir com suas palavras, mas eu podia sentir a falsidade nelas.
- E quem garante que você não vai nos trair? Hein? Não vou topar essa palhaçada. Vou pegar minha coroa de volta do meu jeito. - respondi, com firmeza.
A tensão entre nós era evidente. Eu sabia que ele teria dificuldades para me convencer, mas ele parecia desesperado por minha ajuda. Agora, era uma questão de ele me persuadir ou enfrentar um confronto.
Depois de sua proposta, eu franzi o cenho, avaliando-o com desconfiança. Meus olhos, que antes estavam focados em meus amigos, agora estavam fixos nele. A tensão no corredor era palpável, como se o próprio ar segurasse a respiração.
Ele parecia nervoso, lutando contra a decepção. - Entendo - ele disse, com uma voz mais áspera do que o habitual. - Mas se nos unirmos você não irá se arrepender.
Eu cruzei os braços, mantendo meu olhar firme nele.
- Não confio em você. E não vou arriscar a vida dos meus amigos por uma trégua duvidosa.
Eu que nao caio no papo dele, ele é um criminoso, por que eu acreditaria nele?
Ele se afastou, claramente sentindo o peso da derrota, enquanto eu permanecia imóvel, ponderando sobre a situação.
Voltei a conversar com meus amigos, mas de repente, tudo ao meu redor paralisou. Não apenas eles, mas o próprio tempo parecia congelar. Virei-me e deparei-me com um homem mascarado, segurando uma adaga e correndo em minha direção. Meu coração acelerou, e antes que eu pudesse reagir, Alex se lançou à minha frente, protegendo-me. A surpresa dessa ação me deixou paralisada. Nunca imaginei que ele faria algo assim. O que ele estaria tramando?
Ele olhou profundamente em meus olhos e murmurou:
— A trégua está feita — forçando o homem mascarado para trás. — Agora, vamos enfrentar os Born Killers juntos.
Naquele momento, nossos destinos se entrelaçaram. Assenti, e quando outra garota da gangue deles veio correndo na direção de Alex, apontei minha mão para ela e soltei uma rajada de fogo que passou ao lado dele, atingindo a garota e a mandando para longe. Eu o protegera.
— Eu não preciso da sua proteção — digo, com um tom de sarcasmo, enquanto me levantava e ficava ao lado dele.
Nossos olhares se encontraram novamente, mas logo desviei a atenção para outra pessoa: um garoto de cabelos ruivos que não parava de me encarar. Ele me lançou um sorriso, e eu sorri de volta instantaneamente. Quem seria ele?
Antes que pudesse pensar mais, outra figura mascarada apareceu, atacando o garoto ruivo. O que estava acontecendo ali?
Alex sussurrou para mim:
— Vamos acabar com eles.
Assenti. Teria que aceitar esse plano, mesmo que não soubesse o que nos aguardava. Juntos, enfrentaríamos o desconhecido.
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Contos de Etherium Vol I : Asas do Destino
FantasyNas sombras da escola Etherium, onde humanos e seres sobrenaturais se entrelaçam, a Princesa Sherry, uma anjo destemida, desafia o destino. Ela abandonou seu castelo em busca de respostas sobre sua mãe desaparecida, cuja coroa mágica a guiou até a e...