Com o coração palpitando no peito, eu o empurrei, apenas o suficiente para que pudéssemos avaliar a situação. O jardim, antes um santuário cheio de flores lindas, agora parecia um labirinto sombrio, onde cada sombra poderia esconder perigos desconhecidos. Tentei me teleportar para longe, mas nao consegui.
— O que foi isso? — ele sussurrou, sua voz mal audível acima do meu próprio respirar acelerado.
— Como eu vou saber? — respondi —Mas precisamos descobrir. — Juntos, cautelosamente, demos os primeiros passos em direção à origem do som. Ele em minha frente e eu atrás.
— Como um jardim da escola se transformou em uma floresta tenebrosa? Será que tem fantasmas que mudam o ambiente por aqui? — Ele pergunta com uma voz trêmula, enquanto anda em minha frente, seus olhos vasculhando cada sombra que se movia com o vento.
— Ja era meu vestido... — Digo olhando para o meu vestido cheio de lama, logo em seguida tiro meua saltos que estavam dificultando eu andar— Que droga
Não posso acreditar que um marmanjo desse, líder de gangue, temido como um demônio, tem medo de fantasmas. Com esse pensamento, uma risada escapa dos meus lábios, mas é cortada por um uivo distante que ecoa entre as árvores retorcidas.
— Passa na minha frente — ele ordena com um tom de comando, mas sua voz vacila um pouco — você provavelmente deve ter mais conexão com os fantasmas, já que você está praticamente morta.
Ele murmurou essas palavras enquanto agarrou meu braço com mais força do que o necessário e me puxou para frente, como se quisesse se proteger atrás de mim.
— Eu não estou "praticamente morta", eu nasci anja. Não morri e virei uma — corrigi ele, com um suspiro de irritação. — Se eu tivesse morrido e virado uma anja, não daria pra esconder a auréola e as asas. Parece que nunca estudou sobre anjos na vida. Se fosse assim, você também estaria praticamente morto, no caso quando sairmos daqui você realmente vai estar. Eu sei que você não estuda, mas isso é conhecimento básico.
Reviro os olhos enquanto concentro energia nas pontas dos meus dedos, criando uma bola de luz que começa a brilhar, iluminando o caminho à nossa frente.
— Eu estudei em casa por bastante tempo e nunca aprendi esse "básico". Se eu aprendi, eu não me lembro — ele admite com um encolher de ombros, observando a luz que agora flutua ao nosso lado. — Eu não prestava atenção nas aulas que meus pais me davam.
A luz da esfera pulsava suavemente, lançando sombras dançantes sobre o caminho de terra e as folhas caídas. O silêncio era quase palpável, apenas o som dos nossos passos perturbava a quietude da floresta.
— Você ouviu isso? — ele sussurrou, parando abruptamente.
Eu parei ao lado dele, tentando ouvir além do nosso próprio respirar. Havia um som suave, quase como um sussurro, que parecia vir de todas as direções.
— Não deve ser nada demais — respondi com um sorriso, tentando aliviar a tensão. — Nem acredito que eu fiz isso. — Sussurro
Ele me encarou, incerto se deveria acreditar ou não. Antes que pudesse responder, uma figura surgiu à nossa frente, fazendo-nos gritar de susto. Iluminamos a figura e lá estava ela: uma raposa azul.
— Ah, uma raposa — suspirei aliviada — Espere, uma raposa preta azulada? Isso é possível?
— Se olhar bem, parece uma mistura de lobo com raposa, algo bem bizarro. Provavelmente não foi ela que gritou, então vamos voltar — disse ele, quase se virando, mas eu o puxei pelo braço.
— Voltar para onde? Gênio, nós não somos bruxos, o máximo que podemos fazer é teleportar, algo que tentei e não consegui — exclamei, encarando-o.
— E ago... — Ele começou a dizer, mas um brilho intenso surgiu de repente. Quando olhamos para o lado, a raposa azulada já não estava lá. Em seu lugar, havia uma garota com cabelos bagunçados, azul-escuros. Seu rosto estava cheio de ferimentos, e ela usava um moletom preto cheio de buracos. Ela parecia exausta e deu um passo à frente antes de desmaiar.
— Ixi, caiu dura. Será que morreu? — ele ironizou.
— Cala a boca, dela só sai merda — respondi, ajoelhando-me perto da garota, tentando acordá-la. — Garota? Garota, acorda! Será que eu deveria usar...
— Usar o quê? — ele perguntou, cruzando os braços.
— Meu poder de cura angelical. Todos os anjos têm, mas eu não consigo dominá-lo. Normalmente, é o Mikael quem tem dominação, mas ele não está aqui — expliquei. A garota ainda estava desacordada, e eu me perguntava se meu dom poderia ajudá-la.
Ajoelho-me ao lado da garota, examinando seus ferimentos com cuidado. Seu rosto está pálido e os hematomas são evidentes. Com um suspiro, concentro-me em meu poder de cura angelical, canalizando a energia através das minhas mãos. Com gentileza, toco sua testa e sussurro palavras de conforto.
A luz dourada irradia de minhas mãos, envolvendo a garota. Sinto o calor da cura fluindo através de mim, reparando os danos em seu corpo. Os cortes começam a fechar, e sua respiração se torna mais regular. A garota geme, mas não acorda completamente.
— Isso é o maximo que consigo, acho que dá, por hora. Quando levarmos até a escola ela pode ser curada totalmente lá.— chego perto de sua boca e ouço sua respiração e sorrio aliviada — Vamos, você está segura agora — digo suavemente. — Precisamos levá-la para um lugar seguro. Teleportar é algo que não conseguimos devido a algum feitiço na floresta, mas podemos encontrar abrigo nas proximidades.
Olho para Alex ao meu lado. Ele parece surpreso com o que acabei de fazer. Talvez ele não soubesse sobre meu dom de cura. Ignoro sua expressão e me concentro na garota. Com cuidado, a levanto nos braços e começo a caminhar em direção à floresta próxima, procurando um local onde possamos descansar e protegê-la.
Enquanto andamos, penso no que poderia ter causado os ferimentos da garota. Quem é ela? De onde veio? E por que estava na forma de uma raposa antes de desmaiar? As perguntas giram em minha mente, mas uma coisa é certa: vou fazer o possível para ajudá-la a se recuperar e descobrir a verdade por trás desse mistério inesperado.
— Um detalhe, como iremos achar abrigo aqui sendo que estamos em uma floresta encantada? Você é burra? — Ele questiona e eu apenas revirei os olhos, ignorando a insinuação de que eu não tinha um plano.
Levantei o olhar para o céu noturno e vi a lua cheia emergir das nuvens, banhando a floresta com uma luz prateada que transformava as árvores em silhuetas de um jardim encantado. Meu coração se aliviou com a visão. De repente, um portal se materializou diante de nós, e Raven surgiu, impassível como sempre.
Quando me virei para segui-la, senti algo agarrar meu pé. Era aquela planta teimosa novamente. Com uma mão eu sustentava a garota desacordada e com a outra segurava meus sapatos; tentei me libertar sacudindo o pé, mas foi em vão. Foi então que senti um calor envolvendo meu tornozelo, um fogo que estranhamente não queimava. Olhei para Alex, que estava conjurando as chamas, e ele disse com um sorriso sarcástico:
—Você não é a única com poderes de fogo aqui, princesa.
Ele desapareceu antes que eu pudesse reagir.
— Droga, ele escapou novamente — murmurei, frustrada.
Com cuidado, coloquei a garota no chão do sótão, que, para minha surpresa, estava agora impecavelmente arrumado. Raven me lançou um olhar que dizia que ela tinha tudo sob controle. Levamos a garota para a enfermaria, onde tivemos que simplificar nossa história, omitindo as brigas e confusões, e apenas mencionamos que a encontramos no jardim. A enfermeira examinou-a e disse que seus ferimentos internos eram graves, e ela precisou ser levada ao hospital. Depois de toda aquela confusão, eu só queria voltar para o meu dormitório, ainda irritada por ter deixado Alex escapar mais uma vez.
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Contos de Etherium Vol I : Asas do Destino
FantasyNas sombras da escola Etherium, onde humanos e seres sobrenaturais se entrelaçam, a Princesa Sherry, uma anjo destemida, desafia o destino. Ela abandonou seu castelo em busca de respostas sobre sua mãe desaparecida, cuja coroa mágica a guiou até a e...