O inferno astral, o período de trinta dias que antecede o aniversário, dizem que para podermos renascer, é preciso deixar algumas coisas para trás para entrarmos no novo ciclo livres de algumas amarras que nos prendiam e que não fazem mais sentido, alguns se sentem melancólicos, preguiçosos até em relação ao emprego, querendo terminar o relacionamento e até mudar para outra casa, mas Malia não sentia isso, na verdade, ela não sente nada. A garota cheia de sonhos, amante da liberdade, ela não se sente mais digna de criar expectativas pois perdeu tanto, ela que antes ansiava por uma nova viagem agora teme, mas o mais assustador para ela é não conseguir falar ou gritar por socorro, guardando tudo para si como uma bomba relógio, o tic-tac está mais audível para o seu coração. Malia com os olhos cheios de lágrimas enterrava Chandler em uma caixa dourada, a sua tartaruga que acabará de morrer, ela nunca soube falar como se sente, mas sabia conversar com animais, a cada perda é como uma peça perdida de seu quebra cabeça. A manhã para ela é de luto, mas se esforça em sorrir para a criança que ela cuida, a garota trabalha como babá e também home office, o método de ganhar dinheiro para o seu sonho profissional de se tornar enfermeira, uma mensalidade da graduação é bastante alta. Ela cozinha, faz envios do trabalho, ensina matemática, retorna aos envios, leva a criança para escola e retorna para códigos, limpa a casa e mais envios, como um ciclo exaustivo que poderia causar tonturas em sua mente estável. A futura enfermeira liga para o trabalho de sua amiga Bernadette para avisar que a encontraria direto no ponto de encontro, logo desliga e faz uma ligação de emergência com sua outra amiga Addison, recordava do quanto pode ser horrível ser observada.
A tarde percorreu rapidamente, como a chaleira térmica que esquentava uma jarra de água a cada dez minutos para outra passada de café, Malia poderia ser considerada uma viciada em café. Ás 17:25hr o alarme despertou, avisando que está na hora da garota buscar a criança que cuida, o colégio é na mesma quadra de sua casa que facilita a chegada no horário exato, Malia saia de casa com uma xícara de café na mão com passos apressados, seu cabelo curto preso em um coque espigado, um short preto que para alguns homens é mais curto que sua sunga, ela vestia a única peça cumprida que seria a camiseta solta verde musgo com os dizeres "Vegetarian", a menina logo que a encontra corre em sua direção animada para contar sobre o seu dia na escola, os pais da criança não escutam sobre o que ela tem a dizer, todavia, suas conversas preferidas são com Malia. As duas correm retornando para a casa, pois precisavam se apressar para o banho da menina e preparar um café da tarde, enquanto a criança se banhava, a mais velha preparava sua especialidade, panqueca doce de baunilha, a mais nova vibra quando se aproxima da cozinha. A campainha toca e Malia abre a porta, era o pai da menina que se despede rapidamente com sua bolsa, a futura enfermeira fecha a porta e vira-se para organizar a bagunça, ou era isso que ela iria fazer.
- Abaixa a cabeça e continua. – Malia murmura.
Ela nota uma mulher em pé ao canto do cômodo, cabelos longos escuros, a pele embranquecidas, ela não havia globo oculares, apenas um vazio no lugar, um sorriso largo expressado em seu rosto pelo o desconforto que causou. Malia tem um dom que não se orgulha, ela pode ver aquilo que algumas pessoas não podem, como essa velha conhecida, ela não conhece o seu nome, apenas que ela sempre aparece quando chega má notícias e gosta de ver sua angustia. A única mulher viva segue até o armário e pega um incenso e um isqueiro, ela acende o incenso e com os olhos fechados ordenou.
- Vá embora, você não é bem-vinda. – Ela afirmou e pôs o incenso no incensário.
Encerrando a batalha espiritual, Malia se apressou e correu para se trocar, retirou sua roupa confortável e vestiu uma calça larga preta e uma blusa curta na cor cinza escuro, calçou uma sandália preta, optou por não se maquiar, afinal ela e as amigas iriam para uma noite de desabafo que poderia ocorrer choros. Ela sai de casa e caminha em direção a casa mal assombrada, o ponto de encontro é bem próximo a sua casa, uma distância de dez minutos caminhando e pode notar um borrão saltitante de sua amiga Bernadette ao lado de Addison.
- Atrasada Maria Malia. – Brincou a Florzinha Addison que vestia um vestido vermelho como a personagem. Ela costuma introduzir o nome Maria quando quer zombar de sua amiga, é surpreendente como a mais velha não se perde nos nomes tão parecidos.
- Sentiram tanto a minha falta?. – Malia provocou.
- Queremos viver uma aventura hoje. – Bernadette começou e apontou com o seu dedo indicador para a casa.
- Invasão de domicilio, é um crime não uma aventura. – Malia corrigiu. – Mas eu ainda tenho meu réu primário. – Ela conclui dando de ombros.
As três amigas se direcionam para a entrada da casa, haviam placadas de "Proibido ultrapassar", "Proibida entrada", "Propriedade da Policia", as três se agacham e passam pela as placas, a cada vez mais que se aproximam encontram pedaços de faixas da polícia escrito "Cena de crime", pisando em alguns cacos de vidros escondidos no gramado. A casa é antiga de madeira marrom escuro, havia um deque na entrada que rangia a cada degrau que pisam pela a idade e falta de cuidado, teias de aranhas pelo o teto demonstravam que há muito tempo ninguém vivo entrou no local, surpreendente a porta está aberta, logo que as amigas adentram a casa notam que haviam jogos de talheres e pratos quebrados pelo o chão, recordando o boato do primeiro amigo que morreu enquanto cozinhava. Elas caminhavam com cuidado, o lugar é perigoso por não ter confiança na estrutura antiga.
- Isso é bem bizarro... – Bernadette comenta.
- Estão sentindo esse arrepio?. – Addison pergunta enquanto observa a cozinha. – Malia?. – A mais velha chamou.
Malia segurava um porta retrato, ela observa fixamente a foto no objeto, os três amigos que viveram na casa, o rapaz da esquerda tinha cabelo escuros na altura de seus ombros e cortado em camadas, ele vestia uma blusa branca com listras vermelhas e uma jardineira jeans, seu rosto é fino e delicado, ele expressava um sorriso gentil, o homem do meio havia uma postura diferente, a mesma cor de cabelo do amigo mas um corte curto com singelo franja curta na lateral em sua testa, suas pálpebras são mais caídas, um sorriso que revelava suas covinhas, ele tem ombros largos realçados pela a camiseta preta que vestia, ao contrário do amigo, ele usava uma calça de moletom cinza, o amigo da direita, havia traços marcantes em seu rosto como o nariz um pouco maior que os outros dois, a sua expressão é séria, o seu cabelo escuro na altura da nuca cortado em camadas, a franja em seu rosto é dividida para as laterais um pouco abaixo dos olhos, ele vestia uma camiseta branca e um casaco preto da adidas por cima com um calção do mesmo conjunto, ele usava um brinco pequeno prata de argola em sua orelha. As três amigas rapidamente ficam encantadas com os rapazes, lamentando a chance de não estarem na casa com eles em vida.
- Que sorriso mais doce. – Addison elogia admirada pelo o amigo do meio.
- Olha que coisa mais fofa. – Bernadette exclama sorrindo boba pelo o amigo da esquerda.
- Eu adoraria ser o motivo dessa cara de bravo. – Malia diz maliciosa observando o amigo da direita.
Uma bola caindo pelo os degraus do segundo andar até o primeiro desperta as meninas dos encantos dos amigos falecidos. Talvez, não fossem as únicas presentes na casa. As três trocam olhares e caminham com cautela até a bola, elas encaram o objeto e erguem o rosto em direção ao segundo andar. Respiram fundo e pisam em cada degrau com cuidado, subindo a escada devagar até o andar desejado, a porta do banheiro está aberta, elas podiam observar a banheira cheia de água e balançando como se algo tivesse dentro, as três recuam os passos e seguram no apoio de madeira.
- Vão embora. – Três sussurros são pronunciados nos ouvidos das amigas que gritam e se impulsionam para trás, caindo do segundo andar inconscientes na entrada da casa mal assombrada.
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Amor da sua morte
Misterio / SuspensoO termo "amor da minha vida", a classificação de um amor para a vida toda, mas poucos conhecem o termo para um amor que encontramos em sua morte.