UMA SEMANA ATRÁS
— Bom dia! — Distribuí sorrisos para os alunos naquela manhã fria. Eles me responderam de volta, ainda meio sonolentos por ser tão cedo.
Eram sete da manhã de uma segunda-feira, um ser humano normal talvez estaria caindo de sono e, muito provavelmente, arrumando algum jeito de se fundir com a cadeira no fundo de alguma sala com a touca cobrindo a cabeça. Mas não sou assim. Há tanto trabalho neste lugar que deixo todo o desânimo para os alunos, a maioria ainda jovens em seus 18 a 22 anos.
Andei pelos corredores brincando com meu crachá de identificação de Coordenadora-pedagoga, cantarolando uma melodia de alguma música aleatória que ouvi no rádio do carro durante a vinda.
Fui uma das primeiras funcionárias a chegar, como sempre. Eu simplesmente amava meu trabalho. Nossa assistente social — e minha melhor amiga — Olívia, sempre me pergunta como consigo ter tanta energia e bom humor pela manhã enquanto o resto dos instrutores estão parecendo zumbis. Respondo que talvez aquilo seja algo próprio, como se fosse parte da minha personalidade levemente caótica e barulhenta. Desde pequena sou agitada, hoje, com meus belos vinte e sete anos, percebo que não mudei nada.
— Bom dia. — Alguém passa pela porta, entrando na sala de descanso dos instrutores. Ele, o dono de um olhar desconfiado, uma cara de poucos amigos, uma voz grave meio rouca e um cabelo comprido tão escuro quanto seus olhos.
Eu o chamava de Severus Snape da shopee — sem ele saber, claro — Estou falando de Ricardo Martini, o novo supervisor.
— Bom dia. — Respondeu Olívia e eu apenas balanço a cabeça, evitando contato visual. Ele passa direto por nós e se senta em um dos sofás, parecendo pronto para hibernar.
Mas ele não ia hibernar.
Se por ser a única pessoa além de mim que chega cedo e não tira um cochilinho faz com que ele se pareça comigo estão enganados. Terrivelmente e escandalosamente enganados.
Eu faço o que faço por que amo meu trabalho.
Ricardo faz o que faz por que ama me atrapalhar trabalhar.
Não que eu fosse contra a decisão do chefe, longe de mim... Mas enviar de Belo Horizonte um sujeito de cara fechada para supervisionar nosso trabalho – agora um trabalho mais focado no público mais jovem que está iniciando em seu primeiro emprego, alternando aulas teóricas aqui e práticas em empresas locais de suas áreas de escolha como Jovem Aprendiz – não parecia nada eficiente. Como já disse, estamos lidando com jovens. JOVENS. Com cara de bunda já bastava eles todas as manhãs.
Mas quem sou eu pra julgar, não é?
Uma mão repousa no meu ombro. Eu reconheço o dono daquele toque e abro um sorriso quando ele beija meu rosto.
— Chegou cedo.
— Acordei com mais energia hoje. — Respondeu Henrique, meu namorado. Começamos a nos relacionar há uns quatro meses, felizmente não havia nada nas diretrizes da instituição sobre ser proibido o namoro entre funcionários.
Até porque se tivesse eu ia achar uma grande baboseira.
— Que bom.
Henrique se senta no outro lado da mesa, de costas para Ricardo, que continuava de braços cruzados encarando a televisão onde passava algum jornal.
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𝐒𝐞𝐧𝐡𝐨𝐫 𝐞 𝐬𝐞𝐧𝐡𝐨𝐫𝐚 𝐚𝐳𝐚𝐫
RomanceAngelina e Ricardo não se suportam. Para piorar, cada vez se encontram um desastre diferente acontece. Trabalhando juntos no polo da REP-Mg (Rede de Ensino Profissionalizante de Minas Gerais) de Nova Lima, fica complicado manter a distância, uma vez...