Capítulo 31

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Sue

— Pai? — gritei assim que abri a porta da casa dele.

Joguei a bolsa no sofá e ia subir as escadas quando Fernando segurou em meu braço.

— Aonde você vai?

— Vou até o quarto dele, talvez esteja dormindo.

— É melhor esperarmos aqui.

— Pai? — gritei mais uma vez.

Ele apareceu no topo da escada vestido em um roupão cor de vinho.

— Duas vezes em um único dia? Deve ser seu recorde, Suellen. Fernando? Não deveria estar em São Paulo? Suellen não deveria ter...

— Sue fez o que você deveria ter feito há tempos, Saulo. Ainda não acredito que não falou comigo sobre a sua condição.

Meu pai desceu as escadas, apreensivo.

— Não quero falar sobre isso agora. Vocês dois podem ir embora e cuidar da vida de vocês. Amanhã...

— Não, pai, nós vamos falar sim. Fernando quer olhar os seus exames e avaliar... — Calei-me quando vi a Júlia descendo as escadas. — Júlia?

Meu pai soltou um suspiro longo, passou a mão nos cabelos e encarou-me com olhar suplicante. Ela estava usando um vestido solto e descalça. Seus cabelos estavam levemente úmidos e amarrados em um rabo de cavalo.

— Não é uma boa hora.

— Ela precisa saber, pai.

— O que está acontecendo? Fiquei muito preocupada com você, Sue. Não foi trabalhar, disseram que estava doente, não respondeu às minhas mensagens, não apareceu em casa. O que eu preciso saber?

A sala ficou em um silêncio constrangedor. Meu pai arrumou o laço do roupão antes de falar.

— Tenho um tumor no cérebro, é agressivo e posso ter de seis meses a cinco anos de vida, ou posso morrer amanhã.

Júlia ficou paralisada alguns segundos antes de começar a rir feito uma doida. Era uma reação normal dela quando estava em um estresse intenso. Ela simplesmente ria descontroladamente.

— Desculpe, eu... — Ela cobriu a boca com a mão e levantou indo em direção à cozinha.

Meu pai levantou para ir atrás dela, mas eu segurei sua mão.

— Deixe, ela vai ficar bem. Agora temos um assunto para resolver, onde estão os seus exames?

***

Duas horas depois, estávamos no hospital refazendo a tomografia do meu pai sob absoluto sigilo e contra a vontade dele. Isso porque não queria que ninguém soubesse que estava prestes a morrer. Patético.

Dentro da sala estávamos eu, Fernando e Júlia, que depois de rir teve uma crise de choro, em seguida ficou histérica xingando meu pai. Seria hilário se não fosse a situação trágica. Ver meu pai deitado naquela máquina, ouvir os termos técnicos que Fernando, Júlia e o Dr. Ernesto e Dr. Fabrício, amigos do meu pai, estavam falando quase me deixou com crise de pânico enquanto a máquina se movia.

— Eu vou pegar um café, uma água, alguém quer alguma coisa? Não consigo ficar aqui.

Fernando parou de falar e sorriu compreensivo. Ele tinha dito para que eu esperasse do lado de fora, mas teimosa disse que queria ficar.

Quebrando promessas? - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora