Capítulo 35

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Eu havia passado a noite de sábado e o domingo olhando para aquela maldita caixa azul aberta sobre a mesa de centro sem tocar nela. Fernando tinha deixado antes de sair, eu a abri por curiosidade e encontrei o anel mais lindo que já tinha visto na vida. Tinha uma enorme pedra de diamante amarelo rodeada de pequenas pedras de brilhante.

Era perfeito.

A caixa pareceu queimar na minha mão, rapidamente a coloquei de volta na mesa, sentei-me e fiquei encarando por horas enquanto lamentava e chorava. No fundo eu queria mesmo era nunca ter descoberto o que meu pai fez. Estava tão chateada com tudo que não queria falar com ele, olhar para ele. Confrontar o meu pai naquele momento não seria uma decisão sábia. Por isso, não atendi a sua ligação.

Mais tarde, levantei e peguei uma garrafa de vinho, depois uma de gin. Não demorou para ficar completamente embriagada. Estava fora de mim quando resolvi ir procurar briga no apartamento do vizinho.

Apertei a campainha, mas ele não atendeu. Bati com o punho com força até lembrar que sabia a senha. Abri a porta depois de errar umas três vezes e entrei no apartamento. Caminhei segurando nas coisas, tudo estava girando, balançando e escorregadio.

— Doutor Fernando Ris... sei?

Ele não respondeu. Depois de perambular por todo apartamento, percebi que ele não estava em casa. Sentei-me no corredor esperando que a porta do elevador se abrisse. Não tentei conter as lágrimas, não chorar estava sendo mais difícil bêbada do que sóbria. Estava me levantando para voltar para o meu apartamento quando o elevador abriu. Eu já não estava lá no meu juízo perfeito.

— Sue? — Ele se aproximou segurando-me para não cair.

— Mão... tira essa... quero dizer as duas... mãos de mim. — Eu me endireitei e tentei ficar em pé, mas minhas pernas pareciam duas marias-moles.

— Sue, se te soltar, você vai cair e se machucar.

— Meu coração já tá os... fredaços — dei de ombros empurrando seu peito com força — te odeio tanto, tanto por fazer... isso.

Ele me encarava com uma expressão séria, seu rosto dançava diante dos meus olhos e percebi que seu queixo estava machucado. Ele me soltou e eu fui parar direto no chão, de quatro, feito um cachorrinho. Comecei a rir feito uma doida e deixei meu corpo escorregar sem forças para o piso frio. Depois disso minha mente teve um enorme apagão.

***

Acordei com a cabeça latejando de dor. Levantei um pouco e percebi que estava deitada sobre o peito nu do Fernando e que havia babado nele deixando uma poça gosmenta sobre a pele e em meu rosto. Limpei a face com a manga do roupão atoalhado azul-marinho dele e depois passei por seu peito tirando a piscina de baba. Cobri o rosto com as mãos tentando lembrar o que tinha acontecido, mas minha mente era um nada confuso e desequilibrado.

Levantei bem devagar e saí da cama, meu cérebro não estava funcionando bem, meus miolos balançando a cada passo que dava quando corri para casa.

Merda.

Entrei em casa e corri para o chuveiro para tentar amenizar o mal-estar que estava sentindo. Depois tomei alguns remédios que me ajudariam com a dor de cabeça e ressaca. Deitei na minha cama e dormi.

Quando acordei, Nando estava deitado do meu lado me encarando.

— Bom dia, gatinho, o que acha de mudar o seu nome? — brinquei afagando sua cabeça. — Gato? Tom? João, o que prefere?

Minha boca estava com um gosto horrível e sentia muita sede. Levantei e fui para a cozinha. Encontrei Júlia sentada na sala lendo no Kindle.

— Bom dia! O que faz aqui tão cedo? — perguntei mal-humorada indo pegar a água.

Quebrando promessas? - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora