Capítulo 23

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  Bati na porta e esperei como qualquer funcionária faria. Não que eu fosse realmente agir como um empregado normal, pois usaria do privilégio de ser filha do chefe para conseguir aprovação em algo que eu desejava muito. Sabia que estava agindo de forma errada. Só não daria o gostinho para ninguém dizer que eu tinha privilégios por ser filha do chefe. Eu estava me esforçando muito, diga-se de passagem. Além do mais, nunca fiz algo parecido antes.

— Entre.

— Oi, pai, posso falar com o senhor?

Fechei a porta atrás de mim aguardando a sua resposta.

— Claro, filha, em que posso ajudar?

Abri um sorriso e me aproximei da sua mesa. Ele estava com o semblante cansado e isso me fez ter vontade de abraçá-lo e perguntar se estava tudo bem, mas me contive. Balancei a cabeça para espantar o pensamento estranho.

— Preciso da sua aprovação e assinatura destes documentos. Como foi a sua viagem?

— Foi boa. Estranho é você se importar com isso. — Pegou o envelope e observou o conteúdo atentamente.

— Nossa, claro que me importo. Não tem que estranhar isso.

Meu pai era um homem bonito, quando ficava concentrado formava um vinco em sua testa e ele mordia o canto direito do lábio inferior. Notei que eu tinha a mesma mania e um sorriso ameaçou se formar.

— Você precisa ver isso com o Fernando.

— Pai, eu sei que o senhor pode aprovar, também é o chefe.

— Qual o problema em ir falar com ele? Sim, de fato sou o chefe, mas essa parte é ele quem cuida.

— Eu prefiro falar com o senhor. Por favor, só dessa vez.

Ele soltou um suspiro profundo e começou a assinar os documentos.

— Pensei que vocês dois estivessem se dando bem.

— E estamos... quer dizer, eu só... deixa pra lá. O senhor vai levar alguém para a festa amanhã? — perguntei para mudar de assunto.

— Por que a pergunta? — inquiriu franzindo o cenho.

Ele terminou de assinar e me entregou os papéis.

— Por nada, só quero deixar claro que não vejo problema nenhum se o senhor quiser se relacionar com alguém. Digo, se quiser levar alguém para a festa. Na verdade, seria bom que levasse uma acompanhante.

— Eu irei com uma pessoa, Suellen.

— E não me falou nada?

— Não sabia que precisava.

Pisquei diversas vezes e abri um sorriso sem graça.

— Não precisa, eu só... gostaria que seguisse em frente. Já faz muito tempo que a mamãe morreu e... esquece. Obrigada por assinar.

Ele estava paralisado me encarando como se eu estivesse dizendo algum absurdo. Estava indo para a minha sala quando vi Fernando caminhando ao lado da irmã. Ele ria de algo que ela disse e fiquei paralisada naquele sorriso. Como se estivesse sendo atraído por meu olhar, ele virou em minha direção fazendo com que a irmã fizesse o mesmo. Ela ergueu a mão cumprimentando-me com um sorriso franco. Eu retribuí o cumprimento, eles voltaram a caminhar na direção oposta. Suspirei fundo sem entender por que meu coração estava batendo tão acelerado.

Fiquei trabalhando até mais tarde para ter certeza que o evento seria um sucesso. Marquei com as meninas para nos arrumarmos lá em casa e irmos juntas. Liziane estava encarregada de fazer a maquiagem, ela já fez diversos cursos e por ser modelo está acostumada com os pincéis.

Quebrando promessas? - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora