Capítulo 36

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— Ele nem olhou na minha cara — bradei.

Estava conversando no grupo com as minhas amigas e passei um áudio que mais parecia um podcast. Tinha contado toda a história, desde o encontro com Fernando no elevador, até a história do terraço.

Jú Madrasta: Essas enfermeiras são umas fofoqueiras mesmo, Sue. Não te contei nada porque me proibiu de falar sobre o Fernando, mas a coisa foi feia mesmo.

Eu vi o vídeo. Esqueceu? Deveria ter me contado assim mesmo.

Jú Madrasta: Também estava ciente desse vídeo, só não sabia de onde havia saído, agora o hospital pode tomar as providências, apesar de ter as câmeras de segurança. O foda é que o Fernando realmente chegou descendo a porrada no Yuri.

Lizie: Amiga, acho que ele não está falando com você porque está chateado, você disse a ele que achava que ele era um golpista e só queria o seu dinheiro. Não levou em consideração duas coisas: um, seu pai não estava no juízo perfeito quando fez a proposta. Dois, Fernando não precisa do seu dinheiro, o cara já é bem rico. Três, você é linda, gostosa, inteligente, e qualquer homem quer te comer, eu te comeria.

Abri um sorriso com as idiotices da Lizie.

Jú Madrasta: Foram três coisas, Liziane, mas está coberta de razão, te amo.

Desliguei o celular e joguei sobre o sofá sem querer mais falar com as duas. Elas eram minhas amigas, deveriam estar ao meu lado. E não do lado dele.

— Eu sou a errada então? — perguntei para o gato o qual estava me recusando a falar o nome. Ele ergueu a cabeça com ar de preguiça e voltou a deitar. — Ele escondeu de mim a proposta ridícula do meu pai, como vou saber se não aceitou? E eu sou a errada?

Abri a porta da sacada e o som do violão tocando os acordes de Aonde Quer Que Eu Vá de Os Paralamas do Sucesso tomou conta do espaço. Eu me aproximei do parapeito e ouvi a voz do Fernando cantando o trecho: "Longe daqui / Longe de tudo / Meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / Vem pro meu mundo / Eu sempre vou te esperar" fez meu coração disparar. Era como se fosse um pedido, uma súplica. E que voz linda.

Quando dei por mim estava parada na porta do apartamento dele digitando a senha.

— Meu Deus, o que estou fazendo? — sussurrei segurando a maçaneta incerta do que fazer. — Devo estar ficando doida, só pode.

Subi a escada lentamente tentando entender o que estava fazendo. Desci correndo indo para a porta. Minha mão ficou parada no ar sem tocar na maçaneta. Voltei a subir as escadas. Ele parou de tocar quando me viu chegar.

— Sue?

— Como soube que tinha sido o Yuri? — perguntei meio sem nexo, estava nervosa e a coerência pareceu sumir da minha mente.

— Veio aqui para perguntar isso?

— Eu vi o vídeo de vocês dois no hospital — esclareci me aproximando mais. — Vai me dizer como soube que foi o Yuri?

Ele colocou o violão ao lado do sofá.

— Depois que saí de sua casa eu fui direto para a portaria saber se alguém tinha vindo falar com você. Vi as imagens do Yuri e do amigo dele. Liguei no hospital e perguntei se ele estava por lá. Honestamente, não sei o que me deu de fazer uma besteira daquela, ele não valia o meu tempo, mas fiquei descontrolado, com muita raiva, quando dei por mim estava socando a cara dele.

— Não deveria ter feito isso.

— Você veio até aqui para me dizer o que já estou cansado de saber? O que veio fazer aqui realmente, Suellen? Veio só defender o Yuri?

Quebrando promessas? - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora