Capítulo 2

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Demorei cerca de uma semana para preparar tudo. Não podia simplesmente ir para lá assim, sem mais nem menos.

Conseguir dinheiro foi a parte fácil. Nunca tive um hobby ou vício que exigisse um grande gasto. Somando a venda de algumas coisas que não me seriam mais úteis, acabei juntando uma boa quantia.

Por fim, liguei para um número deixado dentro do envelope. Só fui encontrá-lo após pegar a carta novamente.

— Alô? – Chamo nervoso.

— Prefeito Carl falando, em que posso ajudá-lo? – Responde a voz do outro lado.

— Meu avô deixou este número juntamente com uma carta, mas eu não sei ao certo oque deveria fazer com isso. – Explico

— Seu avô? – Indaga confuso.

Ele passa alguns segundos em silêncio, até penso que a ligação caiu.

— Ah, sim, você fala do Oliver? Então só pode ser o senhor David Jones aí do outro lado? – Sua empolgação é evidente.

— Sim, sou eu...

Ele ri me interrompendo.

— Eu estava esperando por sua ligação. Acredito que irá tomar posse da velha fazenda de seu avô. Pois bem, estou aguardando sua chegada aqui na vila Luarbrilho. – Diz antes de desligar.

Fico um pouco desnorteado. Foi muita informação em tão pouco tempo. Eu nem ao menos sei onde fica este lugar.

Bom, agora está feito, não posso simplesmente recuar.

Com muito esforço consigo um ônibus que leva para esta vila, o curioso é que além da motorista, eu sou o único ali.

Reviso em minha mente os acontecimentos desde o dia em que fui demitido. É um pouco surpreendente que isso não tenha me afetado de maneira alguma.

Posso colocar a culpa nessa fazenda que ganhei? Talvez, mas acho que já queria de alguma forma seguir por esse rumo, só não tinha coragem.

O ônibus para e a motorista olha em minha direção.

— Chegamos garoto, pode descer. – Ordena com a voz grave.

Desço do ônibus e sou rapidamente recebido por um senhor e uma mulher.

— Ora, ora, David, muito prazer. – Diz o homem.

Aparentemente não costuma vir muitas pessoas para essa região.

— Muito prazer. – Digo apertando sua mão.

— Como falei ao telefone, me chamo Carl e sou o prefeito desta vila. E esta aqui é minha neta, Sophie. – Aponta sorridente para a mulher ao seu lado.

— Olá... – Cumprimenta envergonhada.

— Oi, tudo bem? – Respondo de forma gentil.

Ela recua um pouco me deixando confuso.

— Bom, bom. Você deve estar cansado da viagem, o que acha de irmos direto para sua fazenda? Descanse um pouco e mais tarde poderá conhecer melhor a cidade. – Sugere.

— Parece uma boa ideia. – Concordo com um sorriso.

Caminhamos por alguns minutos em uma estrada de terra.

— Sabe, seu avô foi um grande amigo meu, nos conhecemos há muitas décadas. – Relata o prefeito.

— Ele nunca me contou isso, apesar de eu já ter vindo aqui várias vezes. – Confesso.

Ele ri novamente.

— Sim, sim. Eu sei disso.

Não entendi ao certo oque ele quis dizer.

— Então, que tipo de pessoa meu avô era? – Pergunto de cabeça baixa.

Pode parecer uma pergunta estranha, mas a verdade é que minha lembrança em relação a este lugar foi se apagando com os anos.

— Oh, sim. Seu avô foi um homem incrível. Sabe, quando decidi fundar essa vila, ele foi uma pessoa muito importante para o desenvolvimento da mesma. – Responde com um sorriso.

Acho que não consigo esconder minha surpresa, pois ele continua.

— Ele era um homem simples, nunca gostou de chamar atenção para si, mas se dedicava muito no que se propunha a fazer.

Ouvi-lo falar assim de meu avô aquece meu coração. Eu sempre soube que ele era uma boa pessoa, mas descobrir seus feitos só fez com que minha admiração aumentasse.

— Bom, chegamos. – Diz o prefeito.

Acabei pensando demais e nem prestei atenção no caminho que seguimos.

Olho em volta, o quintal está uma verdadeira bagunça. Acho que o prefeito percebe essa minha observação silenciosa, pois rapidamente põe a mão em meu ombro.

— Não deixe que uma simples bagunça desanime você. – Diz num tom animador.

— Claro que não. – Respondo com um sorriso.

— Bom, vamos deixar que você descanse, espero que possa passar na cidade ainda hoje. – Pede antes de se virar.

Sua neta parece estar absorta, pois demora um pouco para fazer o mesmo.

Ela curva a cabeça levemente e se vira, mas não antes de me encarar.

Eu a encaro de volta fazendo suas bochechas ficarem vermelhas.

Entro na cabana. Até que é um lugar aconchegante, mas por algum motivo tenho a sensação de que era maior.

Descarrego algumas coisas, somente o essencial. E vou tomar um banho.

Após isso ando um pouco pela casa. Um quarto, sala, banheiro, cozinha e por fim um cômodo que está com a porta trancada. Não me lembro ao certo do que se trata.

Deito na cama e olho para o teto, não consigo dormir. Acho que estou pensando demais. Fui tão longe, não há nada que eu possa fazer além de seguir essa ideia. Só que... o que eu realmente estou almejando aqui?

Levando e caminho até a porta, quando a abro, vejo um homem parado em frente a ela.

— Bom dia vizinho. – Cumprimenta sorridente.

— Ah, bom dia. – Forço um sorriso.

— Quando eu soube que teríamos um novo morador, decidi que precisava ver com meus próprios olhos. Eu sou Willian, dono da fazenda ao lado. - Estende a mão.

— Me chamo David. – O cumprimento.

— David? Certo. Me diga, você tem algum compromisso para agora? – Pergunta olhando para o relógio em seu pulso.

— Agora? Não, não tenho nada. – Respondo.

— Gostaria de vir almoçar em minha casa? A comida da minha esposa é divina. – Relata com um sorriso.

Acho que não posso simplesmente recusar.

— Tudo bem, eu vou. - Digo saindo e fechando a porta.

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