- Willian... - Olho para ele.
Seu semblante é devastador. Tudo bem que eu o conheço há pouco tempo, mas até então eu só havia visto um Willian sorridente e otimista. No entanto, agora ele parece outra pessoa.
O silêncio é sufocante. Sinto que estamos entrando em um terreno perigoso, sei que será difícil sair daqui depois disso.
- Você não precisa continuar, sério. - Tento amenizar a situação.
Ele apenas balança a cabeça.
- Seu nome era Nolan... ele tinha os olhos de Ester. Sempre que eu o olhava, não conseguia deixar de sorrir. Eu era um pai bobo e de coração mole.
Estou em silêncio. Mas não porque preciso, e sim porquê não consigo dizer nada agora.
- Alguns meses depois que fez 4 anos, nós três fomos fazer um piquenique. Era um dia lindo, estava perfeito. Em certo momento parei para ajudar Ester a preparar os lanches que iríamos comer. Foram poucos minutos, mas acabei me distraindo e perdendo Nolan de vista.
Cada palavra que Willian profere faz meu coração acelerar aos poucos. O ar estagnado está começando a sufocar meus pulmões.
- Procurei por toda parte, mas não o achava de jeito nenhum. Entrei em desespero, estávamos próximos a parte rasa do lago a nossa frente, então imaginei que ele pudesse ter caído lá.
Dessa vez eu me aproximo de Willian e coloco a mão em seu ombro. Quero confortá-lo. De modo algum sei oque ele está sentindo como pai, mas conheço muito bem qual é a sensação de perder alguém querido. E eu não desejo isso a ninguém, muito menos para alguém como ele.
Willian fecha os olhos e continua.
- Após alguns dias seu corpo foi encontrado. A correnteza do lago o levou para alguns quilômetros de onde estávamos. Ele prendeu o pé em algo no fundo, além de ter batido a cabeça.
Esse amontoado de informações faz meu estômago revirar. Não fazia ideia de que o Willian tinha um passado tão triste assim. Mesmo depois disso, ele ainda sorri. Eu acho que nunca conseguirei ser como ele.
- Passei muito tempo me sentindo culpado por isso, não sei nem como Ester ainda quis ficar comigo. Ela foi muito mais forte que eu, um pilar que sustentou nosso relacionamento.
Willian abre os olhos.
- David, me desculpe te contar tudo isso do nada, eu apenas senti que devia. Você é um bom amigo, sou grato por tê-lo conhecido.
Sinto minhas bochechas queimarem, não esperava por isso.
- Você pode contar comigo. - Dou um sorriso.
- Papai! - Grita uma voz infantil.
Olhamos em direção a porta, é a filha mais velha de Willian.
Ele a pega no colo e a coloca sentada em seu pescoço.
- Olha só, veio visitar o papai? - Pergunta.
É perceptível a mudança de humor em Willian. O clima tenso rapidamente foi embora assim que sua filha chegou.
- A mamãe também veio. - Anuncia, olhando para a porta.
Ester entra logo em seguida com a filha mais nova no colo enquanto segura algo.
- Querido. - Cumprimenta Willian, beijando sua face.
Ele sorri e olha para sua filha no colo de Ester.
- Olá David. - Cumprimenta Ester.
- Olá. - Respondo.
- Tio David, olha só minha boneca. - Diz a mais nova me mostrando seu brinquedo.
- Ei, que boneca mais linda. - Respondo com um sorriso.
- Vocês ficaram muito tempo aqui, então decidi trazer algo para comerem. - Levanta o pacote em sua mão. Só aí percebo que são duas marmitas.
Willian a beija com um sorriso. O amor e companheirismo que ambos sentem entre si é algo que eu jamais vi em minha vida. Agora consigo entender oque ele quis dizer quando falou que Ester foi o pilar da relação.
Sentamos para comer e descansar um pouco. Willian não chegou a mencionar nada mais relacionado a nossa conversa anterior. Acho melhor assim.
Ao invés disso, ele decidiu me contar seus planos para aqui.
- É bem simples. Você entende de negócios e eu de plantações. Produtos bons e baratos irão atrair mais clientes. - Explica empolgado.
- E você não tem medo do Dinkley tentar fazer algo a respeito disso?
Willian estala a língua.
- Aquele homem não presta, nunca fui com a cara dele. - Sua insatisfação é nítida, mas consigo perceber algo mais do que um simples desgosto. É ódio?
Olho para Ester, seu semblante é de infelicidade.
- Então, já pensou em qual nome dar ao nosso comércio? - Mudo de assunto na tentativa de melhorar o clima.
- D.W Mercearia. - Responde entusiasmado.
Olho para Ester que sorri envergonhada.
- Tem certeza disso?
- Absoluta! Vai ser um sucesso. - Consigo ver o brilho em seus olhos.
Eu apenas dou risada.
A tarde chega e finalmente conseguimos terminar a limpeza. Foi um trabalho cansativo, porém recompensador. Ainda falta algumas coisas, mas o mais difícil foi feito.
- Certo David, você está liberado agora, pode ir. - Diz Willian.
- Do jeito que você fala, é como se eu estive sendo obrigado a fazer isso. - O encaro.
- Bom, eu meio que te puxei pra esse trabalho. - Coça a cabeça envergonhado.
Me despeço de Willian e paro em frente a futura mercearia. Não tenho a menor ideia do que devo fazer agora.
Para meu alívio, descubro rápido assim que vejo Sophie regando algumas flores.
Me aproximo lentamente, não quero assustá-la.
- Sophie, olá. - Cumprimento parando ao seu lado.
No fim não adiantou de nada, pois ela se assustou da mesma forma.
- David... oi. - Responde.
Ela está diferente daquele dia, na verdade apenas voltou a ser como sempre foi.
- Isso são margaridas? - Aponto para as flores a nossa frente.
Sophie assente com a cabeça.
- Eu cuido deste pequeno jardim desde criança. - Explica com um sorriso.
- Caramba que incrível.
As flores estão todas alinhadas em um canteiro retangular, cercado por madeira. É um contraste amarelo bem bonito em relação ao marrom da terra.
- Se você realmente gostou, eu posso te levar no...
- Sophie! - Chama uma voz atrás de nós.
Sophie e eu nos viramos e encaramos a garota que nos olha com uma cara de brava. Não, ela me olha com uma cara de brava.
- Quem é você? - Pergunta me olhando.
- Ah, ele é o... - Sophie começa a falar, mas novamente é interrompida.
- Bom, não importa. Vem comigo. - Diz pegando a mão de Sophie e a puxando para longe de mim.
Observo aquela cena confuso, tentando entender oque acabou de acontecer.
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Fios do Destino
RomanceComo sair de uma rotina cansativa e monótona? Essa é a pergunta que David vem se fazendo há um tempo. Como um robô em sua empresa, ele segue ordens e excede seus limites sem se importar com as consequências. Porém, ao encontrar repentinamente uma ca...