Capítulo 10

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Ainda preciso me acostumar com a rotina parada daqui. Os tomates ainda não cresceram. De acordo com Willian, levam mais ou menos 90 dias.

Sinto algo vibrar em meu bolso, é meu celular. Já faz um tempo que eu não o uso direito, mas não é como se eu precisasse usá-lo com frequência. Não aqui pelo menos.

Uma mensagem de Marco? Aqui diz que ele quer se encontrar comigo pra conversarmos. Já deve ter passado quase um mês desde que saí da cidade grande, acho que vou encontrá-lo.

Não consigo deixar de esboçar um sorriso quando vejo o local onde ele marcou. Lembro-me da primeira vez que viemos a esse café.

A princípio foi devido ao trabalho que faríamos juntos, mas no fim acabamos virando amigos. Posso dizer que foi mais por causa da insistência dele. Acabei cedendo e hoje somos grandes amigos.

Mais uma vez entro naquele ônibus que me trouxe para cá. Será que é tão normal assim não haver outros passageiros, ou o pessoal só não costuma sair da cidade?

A viagem é um pouco monótona, mas passa rápido. Quando o ônibus para, não preciso que a motorista diga algo para que eu me levante e saia.

Não sei se estou exagerando, mas após um tempo morando no interior, agora consigo perceber o quão ruim é o ar da cidade grande.

A todo momento olho em volta. Pessoas vêm e vão. Eu era assim antes. É difícil acreditar que eu dava conta disso.

Finalmente chego ao local marcado e assim que entro, o vejo acenando para mim. Ele está usando uma blusa cinza de manga comprida e uma calça preta.

- David, estava ansioso. Eu já pedi algo para você, sente-se. - Sorri.

- O que você pediu? - Estreito os olhos.

- Café expresso com muito açúcar. - Ele me olha como se esperasse uma aprovação.

Dou um sorriso e me sento.

- Uau, você está diferente. O que é esse cabelo grande? - Pergunta.

Acabei nem notando, mas meu cabelo cresceu bastante até. Antes costumava cortar por causa do trabalho, queria parecer mais formal.

- Não sei te responder. - Dou de ombros.

- Cara, tem sido um saco sem você naquela empresa.

- Colocaram alguém no meu lugar, não é? Pela sua cara você não se deu bem com essa pessoa. - Dou um sorriso para provocá-lo.

- Ah, nem me fale. Não suporto ele. Acredita que é sobrinho do chefe? - Dá uma risada fraca.

Ajeito os óculos pensativo.

- Sei não, mas acho que no fim ele só tava esperando você sair para poder colocá-lo em seu lugar.

- Será? - Pergunto.

Marco estala a língua.

- Certeza, nenhum dos administradores daquela empresa presta. Não vou ficar surpreso se isso acontecer com mais pessoas.

Sinto um certo nervosismo. É como se ele estivesse falando de si mesmo.

- Tudo bem, agora esquece todo esse papo ruim. Me diz por onde você têm andado.

Conto a ele sobre a carta e a herança de meu avô. Consigo perceber a felicidade genuína que emana de Marco por saber que estou bem.

- Caramba, nunca imaginei que te veria sendo um fazendeiro. - Ri alto.

Nesse momento parece que estou vendo Willian em minha frente. Acho que no fim eu sempre vou ter alguém assim ao meu lado.

- E as gatinhas? - Pergunta.

- Como assim? - O encaro.

- Ah, qual é? Não vai me dizer que tu virou dono de fazenda e mesmo assim não conseguiu uma mulher sequer? - Agora sinto certa indignação em sua voz.

Logo me vem a cabeça as 4 mulheres que conheci na vila. Não as vejo como algo a mais que conhecidas e sinto que elas também me veem assim.

- Sei lá, não tenho ninguém em mente.

- Tu é muito lerdo isso sim. Certeza de que em algum momento você despertou interessante em alguém e só não percebeu. Encarar as pessoas com esse olhar de peixe morto também não ajuda. - Ele me olha.

Eu o encaro com meu suposto olhar de peixe morto.

Conversamos durante muito tempo. Não só ali, mas enquanto andávamos pela cidade.

Marco contou do plano para levar sua esposa a um resort em comemoração aos 5 anos de casados.

Eu o admiro por isso e posso até dizer que me inspiro um pouco, ainda que considere impossível me imaginar com alguém, pelo menos por agora.

Me despeço já pela tarde e novamente pego um ônibus em direção a vila.

É estranho que haja apenas uma pessoa dirigindo para lá. No fim são dúvidas que nunca deixarão de existir em minha mente. Olhando para a motorista, duvido muito de que ela vai ter paciência para me explicar.

O ônibus enfim para e sem pensar decido ir para casa, mas paro ao ver uma certa comoção em direção a vila.

É um tanto anormal a quantidade de pessoas que vem e vão. Então tomado pela curiosidade, sigo a multidão.

Como imaginei, o centro da praça está bem mais movimentado do que o costume.

Vejo pessoas que não conheço. É bem uma verdade que não cheguei a fazer muitas amizades, mas ainda assim...

- David, finalmente o encontrei. - Chama uma voz conhecida.

É o prefeito. Ele está bem sorridente.

- Vai acontecer algum tipo de evento? - Questiono olhando em volta.

- Exatamente. Todo ano comemoramos o festival da colheita, para celebrar as boas plantações da primavera. - Ele abre um grande sorriso.

- Entendo. Será que posso ajudar em algo? - Acho que seria um bom jeito de ser útil na comunidade.

- Ah, você pode andar por aí e ver se alguém precisa de ajuda. - Responde antes de começar a caminhar.

Eu faço o mesmo, enquanto olho em volta.

- Ah, David, só mais uma coisa. - Chama o prefeito.

Eu o encaro.

- O festival começa as 20 horas, aproveite. E não perca o show de fogos.

- Fogos?

Ele apenas assente com a cabeça e volta a andar.

Há muitas barracas em construção espalhadas por aí, me pergunto quais tipos de comidas terão.

- David! - Grita Willian.

Olho em sua direção que vem correndo até mim.

- Ansioso pelo evento de amanhã? Pois eu estou. - É nítida a empolgação em sua voz.

- O que vai fazer amanhã durante o evento? - Pergunto.

- Eu vou aproveitar com minha família. Fazemos isso todos os anos.

E você? Vai passar com quem? - Pergunta cutucando meu braço com o cotovelo.

Não cheguei a pensar nisso e para ser sincero não faz muita diferença. Acho que oque mais importa é aproveitar o evento. Seja sozinho ou acompanhado.

Apenas dou de ombros e sua expressão muda.

- Você precisa arrumar alguém logo, pretende ficar sozinho até quando? - Cutuca minha testa com o dedo, tempo o suficiente para começar a me incomodar.

- Tudo no seu tempo, sem pressa. - Desconverso tirando sua mão de perto.

- Sei. Vê se não vai virar aqueles velhos amargos que furam as bolas de futebol das crianças. - Diz antes de começar a andar. Seu sorriso agora é de zombaria.

Eu apenas fecho a cara. Vou deixar ele ganhar dessa vez.

Caminho mais um pouco e vejo 4 rostos conhecidos.

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⏰ Última atualização: Jun 27 ⏰

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