Prólogo

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Sempre esperavam o melhor de mim. Estudos, esportes, popularidade, não havia nada no qual eu falhasse e ainda assim não era o suficiente.

Cresci ouvindo que sempre deveria dar o meu melhor, ser o melhor. E eu fui.

Durante as férias de verão, quando me mudei temporariamente para a fazenda de meu avô, eu finalmente pude ser alguém comum.

Lembro-me de acordar cedo ouvindo o canto do galo e assim que saía do quarto, me deparava com uma mesa farta para o café da manhã.

Meus avós sorriam e me davam bom dia. Era algo simples, mas necessário.

Após isso eu ia brincar no quintal. E foi assim que eu a conheci.

Ela apareceu do nada lá no quintal, correndo e sorrindo.

De início acabei me assustando, mas em pouco tempo estávamos lá brincando juntos.

Sempre que lembro dela hoje em dia, sinto uma leve tristeza, pois seu rosto é como uma massa turva em minha mente, sem formato ou identidade.

Em momentos assim eu me permitia rir de minha própria desgraça, afinal tinha plena consciência da promessa que fiz a ela quando criança. Eu voltaria um dia para reencontrá-la, não importe quanto tempo demore.

Mas de nada adianta fazer apenas uma promessa vaga.

Olho para o relógio. São nove horas da noite, no entanto estou aqui, voltando para casa de metrô.

Quando me formei na universidade, pensei que teria uma vida mais fácil. Qualificação te leva a qualquer lugar, é isso que diziam. Só que estou preso em um emprego que consome minha energia.

Abro a porta de casa, meus olhos doem quando acendo as luzes. Quando foi que as coisas ficaram desse jeito? Ah sim, com a morte dos meus pais. Passei a me dedicar mais ao trabalho e acabei sobrecarregado. Eu sei bem a resposta, mas toda vez que penso nisso, sinto um gosto amargo na boca.

A quem posso culpar senão a mim mesmo? Eu ansiava por um desafio, algo no qual poderia me orgulhar de ter feito. Uma vida bem sucedida requer esforço e dedicação. Foi isso que mantive em mente.

Deito a cabeça no travesseiro, mas falho em dormir. Me pergunto oque poderia fazer de diferente.

Acordo no dia seguinte ainda grogue da noite anterior. Nada que um café bem forte não resolva. Hora de ir para o trabalho.

— Bom dia, senhor Jones. – Diz Olivia ao me ver.

Ela é minha secretária, trabalha comigo há um bom tempo.

— Oh, olá. Um ótimo dia para você. – Digo sem encará-la antes de entrar em minha sala.

Mal tenho tempo de sentar em minha cadeira e meu chefe adentra a sala.

— David, olha só. Eu vi os relatórios que você me enviou ontem, ficaram impecáveis. – Diz animado.

— Você achou? Que bom. – Digo entre bocejos.

— Sim, sim. Em vista disso quero te pedir um favor. – Diz colocando a mão em meu ombro.

Meio que eu já imaginava onde ele iria chegar com isso, mas após tanto tempo nesta empresa, aprendi a simplesmente deixar acontecer.

— Pode falar, em que posso ser útil? – Pergunto lentamente.

— Tenho esses relatórios aqui que estão atrasados. Acha que conseguiria terminá-los até amanhã?

Olho para a pilha de papéis que ele coloca em minha mesa.

— Mas é claro. – Digo com um sorriso.

— Eu já sabia. – Diz saindo.

Assim que a porta se fecha, solto um longo suspiro. São apenas consequências das minhas ações e desejos.

O almoço chega e ao invés de ir com os outros, decido comer por ali mesmo. A comida está sem gosto e quase fria.

— Ei David, o que acha de tomarmos umas cervejas depois do expediente? – Diz Marco.

Ele trabalha no setor de contabilidade, mas sempre que pode passa por aqui.

— Ah, me desculpe, desta vez vai ficar para a próxima. – Digo olhando para a pilha de papéis que não parece ter diminuído.

— Oh, de novo isso, cara? Você é um só, pega leve. – Recitou, colocando a mão em meu ombro.

Pegar leve? Acho que não posso me dar ao luxo de fazer isso agora.

Mais uma vez a noite chega e eu finalmente consigo terminar. O relógio marca 8:30, então acho que posso comemorar por ter saído mais cedo do que o esperado.

Antes de me levantar, abro uma gaveta para pegar um clipe de papel. Encontro um preso em uma folha. Quando a puxo, vejo um envelope amarelo com selo vermelho. Então era aí que ele estava o tempo todo.

Fios do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora