Um dia atribulado

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Aquela silhueta erguia-se pelo meu quarto.
Macabra, aterradora, eu podia sentir todo o meu corpo arrepiar-se com a sensação dele invadir o meu espaço.

Eu estava escondida no armário como o Mine tinha pedido. No entanto, podia ver pelas friestas da porta que ele estava ali.

Ele, o diabo.

Tenho o choro entalado na garganta, mas não posso fazer barulho. Preciso de ser forte pelo menos uma vez.

"Aria querida, podes sair, não vou fazer-te mal" - Aquela voz melancólica e o cheiro a bebida enojam-me.

Tenho vontade de vomitar por momentos.

"ONDE É QUE ESTÁS MERDA ?" - A voz dele altera-se quando não obtém resposta. A voz dele alterava-se por qualquer dos motivos.

Eu tinha medo. Queria abraçar o meu irmão agora.

Sei que não o podia fazer, sobraria para os dois.

Sinto ele aproximar-se do meu esconderijo. O cheiro a álcool fica mais forte e cada vez mais enjoativo.

Ele estava a centímetros do armário, podia senti-lo.

A minha respiração para. Tento segura-la mais uns momentos.

Fecho os olhos, peço para que aquilo acabe rapidamente.

A porta do armário abre-se.

O diabo. O diabo olhava para mim com a feição irritada e destruidora de sempre.

Grito. Grito para que alguém me ouça.

Sei que ele vai ouvir, ouve sempre.

Uma mão segura no meu ombro e chacoalha com força. Tudo fica confuso.

Acordo num sobressalto com Aomine a chacoalhar o meu ombro.

"Lia, já passou, está tudo bem" - as vagas imagens do pesadelo invadem-me a memória novamente.

Abraço-me ao meu irmão como todas aquelas noites em que o pesadelo era real.

"Voltaste a ter esses pensamentos?" - Aomine agora está sério enquanto olha para mim.

"Há umas semanas" - acabo por confessar.

A distância que se tinha criado entre mim e ele acabou por desencadear a volta dos meus pesadelos.

"Aomine, posso nunca te ter dito, mas eu preciso de ti" - digo com sinceridade. - "És a única razão de estar viva, a única coisa que importa para mim." - as lágrimas começam a invadir o meu rosto.

Aomine abraça-me mais uma vez.

"Lia, és a pessoa mais importante da minha vida." - ele tem os olhos marejados.

Um oceano de azul completamente inundado.

"Tudo aquilo que passamos juntos, tudo aquilo que vivemos. Merecemos melhor, eu sei disso. Mas aquilo que tu procuras nunca te pude dar. Fui uma péssima irmã, mas achei que estava a fazer o melhor para os dois" - Confesso vivamente.

Afundar-me no trabalho nunca foi uma escolha, foi só a melhor hipótese.

Queria dar tudo o que o dinheiro compra ao meu irmão. Queria retribuir todo aquele tempo e amor que ele dedicou a mim.

Aomine sisterOnde histórias criam vida. Descubra agora