Mágoas passadas

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Depois de mais um treino desgastante, saio do balneário com o saco apoiado no ombro.

Vou distraída no telemóvel enquanto penso seriamente na minha doce e quente cama.

Levanto a cabeça ao reparar que a luz do campo continuava acesa. O corredor onde passava estava escuro, sinal de que a maioria da equipa já teria ido embora.

Aproximo-me para ver quem ainda estava a treinar. Não me admiro quando Kagami e Tetsu entram no meu campo de visão.

Sinto o cansaço deles ao longe. Mesmo assim, não desistem daquilo que almejam. Cruzam-se entre eles mesmos, correndo o campo de um lado ao outro, intercalando a bola uma e outra vez.

Sorrio internamente com o esforço. Sei que todos temos objetivos diferentes individualmente, mas também sei que só será possível realizá-los se o objetivo comum for mais forte.

No fundo, todos queremos vencer a geração milagrosa. Por mais que o tentemos esconder ou negar, sempre que começamos a treinar a vontade de os superar vem ao de cima.

Continuo a olhar para os dois, distraída no meu próprio pensamento.

Sem dar por ela, outra pessoa chega ao campo. A silhueta ergue-se no mesmo corredor escuro que eu, no entanto, na outra ponta, junto à porta de saída do ginásio.

Fico atenta para ver quem estaria a entrar no ginásio àquela hora. A sombra aproxima-se do campo de treino vagarosamente, como se estivesse com medo de ser descoberto, como se estivesse a cometer um pecado promíscuo e ninguém, ninguém mesmo o pudesse saber.

Fico atenta àquela postura, os meus olhos azuis curiosos não deixam perdê-la de vista.

Quando a sombra finalmente chega perto da beirada do corredor, a luz finalmente chega-lhe ao rosto. Para meu espanto, a figura de Aomine é revelada pelos raios fracos da iluminação.

Aomine ? O que é que o meu irmão estaria a fazer aqui ?

Escondo-me na penumbra para que fique ainda mais imperceptível, no entanto, aproveito um ângulo que dê para ver a cena estrategicamente. Espero por movimentos bruscos, gritos, uma discussão, mas nada. A única coisa que chega aos meus ouvidos é a batida incessante da bola que Kagami e Tetsu usavam.

Fixo o olhar na figura idêntica a mim, Aomine tem os olhos vidrados nos meus colegas de equipa. Tento imaginar o porquê, cavo consistente na minha memória para que algo seja relevante, mas não consigo.

Ele está imóvel, pensativo, enquanto olha para os dois amigos a treinar. Olho também eu para eles na tentativa de procurar explicações.

O que estaria Aomine a buscar ali ? Porquê ali ? Porquê esconder-se ?

Enquanto olho para Tetsu e Kagami, treinando passes imperceptíveis em jogo, penso que em tempos, já teria assistido a algo assim.

Talvez já o tenha assistido várias vezes, talvez já até tenha participado destes treinos acrescidos que adentram a madrugada por longas horas.

A minha mente gira e dá voltas mostrando a semelhança das cenas vividas aquando treinos da geração milagrosa.

Recuso-me a acreditar que Aomine esteja aqui por isso. De todo, não seria. Ou será que sim ?

Volto o olhar para o meu irmão. O sentimento que eu temia está agora estampado no rosto dele.

Nostalgia.

Habituada ao presente, por momentos, a minha mente eliminara a irmandade do Tetsu com o Aomine. Por momentos tinha-me esquecido que aqueles dois, um dia, teriam sido irmãos ligados pelo amor à bola de basquete, interligados por acasos do destino, funcionado como um só dentro das 4 linhas campais.

Aomine sisterOnde histórias criam vida. Descubra agora