RECOMEÇO

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Durante a madrugada Andrea resolveu explorar a mansão, poderia estar cometendo um erro ao perambular pela casa de outra pessoa tão tarde, mas a falta de sono e seus pensamentos melancólicos a impediam de permanecer naquele cômodo. Uma das partes mais belas, em sua opinião, de seu pequeno passeio, eram as obras de arte penduradas por todas as paredes. A sensação era a mesma que sentia durante as visitas à galeria na qual sua avó trabalhava.

Entre as obras presentes, uma lhe chamou a atenção, o famoso quadro 'O Grito' do pintor Edvard Munch.

Ao vê-lo a jovem sentiu os recantos dos olhos encherem-se com lágrimas não vertidas, aquela obra em particular era uma das preferidas da avó Marie. As duas pretendiam ir a Oslo nas férias apenas para poder ver esse quadro, mas seus planos foram frustrados pela repentina decisão de sua mãe Jully em vir a Gotham.

Quando pequena, Andrea não entendia o verdadeiro significado que o autor queria passar através do quadro. Então, sempre que tinha dúvidas questionava o interesse de Marie.

Marie sempre dizia que o quadro tinha o poder de mostrar o mais íntimo da pessoa que o observava, seu significado não se prendia apenas a um, mas sim, vários.

Mesmo assim Andrea não sentia que o quadro mostrava o seu íntimo, quem sabe seja porque sua mente infantil não conhecia com profundidade o medo, a angústia ou até mesmo a solidão. Todavia, agora poderia dizer que entendia o quadro, não da mesma forma que sua avó compreendia, mas o entendia.

- Ficou sem sono? - Uma voz masculina preencheu o corredor.

Ao olhar para o final do mesmo, em direção a escadaria pôde notar Bruce observando-a como uma águia, suspirando vagarosamente a menina comentou.

- O sono não vem, não importa quantas vezes eu tente. - Ela manteve-se no mesmo lugar, os olhos voltados para o quadro.

- Você gosta de arte? - Bruce se aproximou cauteloso, tentando identificar o terreno que adentrava.

- Minha avó trabalhava em uma galeria e sempre me levava lá. Acabei pegando gosto. - Andrea notou a hesitação dele, no entanto não poderia se importar menos.

Bruce concordou sucinto, olhando na mesma direção que a jovem viu o quadro, e questionando-se acerca do interesse dela, comentou.

- Você gosta deste quadro? - Bruce sempre foi um amante da arte, não era à toa que sua casa era repleta de obras conhecidas e desconhecidas.

- Não, mas, também não odeio. - Quando seus olhos se encontraram Bruce jurou ter visto uma versão infantil dele mesmo no olhar da jovem.

O silêncio no ambiente durou alguns minutos a mais até Andrea caminhar para longe, de volta ao quarto. Apenas os sons de seus passos podiam ser ouvidos enquanto a mesma desaparecia na escuridão.

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Assim que o sol da manhã iluminou o céu, Andrea se encontrava no jardim, sentada em um balanço branco com lindas flores entrelaçadas ao redor. Em suas mãos um livro que trouxe consigo de Londres, um romance de época do qual tanto ela quanto a mãe apreciavam bastante.

A capa, envelhecida pelo tempo devido às inúmeras vezes que ambas o leram, enquanto se perdia entre páginas tão familiares, Andrea não notou a presença de uma segunda pessoa.

Dick observava a garota com um misto de sentimentos, tanto ela quanto o mesmo perderam seus entes queridos em acidentes trágicos, precisando viver com pessoas que não conheciam de fato. Simpatia, era esse o sentimento que predominava no momento dentro dele.

- O que está lendo? - Não conseguiu se conter.

- Um romance. - A resposta foi automática, algo muito normal para ela.

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