Cordas Vocais Destruídas

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Igual antigamente, eu sempre me sentia sozinho. Tinha amigos, sim, claro, eu nunca tive dificuldade para fazer amizades.

Mas havia algo que Heizou, Ayaka, Yoimiya, e os meus outros amigos simplesmente não entendiam.

— Kazuha, por que você continua lendo esses livros? — A voz do rapaz de cabelos ruivos era gentil, ele não falava aqui no sentido de deboche.

— É, eu entendo que você gosta de ler, mas é sempre sobre o mesmo assunto... — Ayaka completou o pensamento de Heizou, sinto que os dois me viam da mesma forma. — Meu irmão disse que essas flores são plantadas como uma forma de homenagear a própria Raiden Shogun por proteger nossa nação!

— Mas isso é só um achismo... — Comentei, me encolhendo atrás do meu livro.

Na época eu tinha cerca de 10 anos, e nós nunca chegamos a brigar por isso, mas era um assunto frequente na rodinha.

Talvez ontem de noite eu tenha tomado a pior decisão da minha vida, ou talvez não...

Mas a ideia de "ir para o exército da Raiden Shogun" me irritou profundamente, como podia o meu pai sequer cogitar algo assim?

Juntei minhas coisas, saindo de casa de madrugada, não, eu não tinha um lugar para ir, e abandonar meu pai daquele jeito doía o meu peito.

Se eu fosse para a casa da Ayaka, o Ayato ia acabar me entregando pro exército, eu sei o quanto ele é fiel a Raiden Shogun e ao exército.

O Heizou então, jamais conseguiria me esconder lá, fora ser o primeiro lugar que meu pai procuraria, então sem ter muito tempo para pensar, me direcionei ao velho jardim.

"Você está louco?!" Meus pensamentos intrusivos batiam na minha cabeça durante todo o caminho, enquanto eu olhava a minha mão machucada. "Aquela coisa lá dentro vai acabar te matando."

Tsk... Não é como se eu tivesse muito o que perder, eu já sou considerado um inútil por quase todo mundo.

Parei na frente do portão do jardim, ainda estava aberto... E havia uma trilha de sangue no chão, eu sei de quem é aquele sangue... Meu.

"Sangrou bem mais do que eu me lembrava, me pergunto como vou limpar isso."

Olhei para o fundo do jardim, estava muito escuro, era quase impossível de ver algo lá dentro, o que de certa forma me aliviava, eu tinha medo do que poderia ver.

O vento gélido do local fazia cada pelo do meu corpo se arrepiar, e eu fechei os olhos assustado.

Eu não estava assustado apenas com o local, eu também pensava frequentemente no meu pai e no que ele vai fazer quando perceber que eu fugi.

Peguei na minha bolsa uma lamparina, acendi o fogo, e fiquei o encarando por algum tempo.

"O que eu estou fazendo da minha vida?"

Puxei minha katana, e me levantei, encarando novamente aquele vazio e escuridão completa. Katana em uma mão e lamparina na outra, se fosse para morrer, eu pelo menos iria ferir aquela coisa um pouco.

Avancei em meio às sombras, ignorando toda a fraqueza que meu corpo apresentava, a luz da lamparina era fraca, e formava sombras por trás dos galhos de árvore do jardim, essas que pareciam todos os tipos de monstros que eu podia imaginar, nesses momentos a sua mente é o seu maior inimigo.

"Não olhe para trás" o pensamento me veio à mente, enquanto eu mordia meus lábios, e engolia a seco, paralisei por um instante, tentando recuperar as forçar para continuar a caminhada.

O medo se enraizava profundamente em meu peito, uma sensação visceral sendo comprimida pela coragem, as batidas do meu peito ecoavam na minha cabeça, era como se eu sentisse todo o meu corpo batendo junto, me sentia vulnerável em meio a toda aquela escuridão.

Reflexo Das Flores VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora