Pernas Desequilibradas

117 16 127
                                    

— W... W...

Abri os olhos lentamente, ouvindo uma voz vindo da minha esquerda, sem conseguir pro essar direito o que era.

— Waaa- c-cof cof. — A pessoa ao lado começou a tossir, engasgando na própria fala.

Me levantei, ficando sentado na minha caminha improvisada, e limpando os olhos com a mãos.

— Hm? O que aconteceu? — Me virei para o boneco, vendo o mesmo cospir algumas folhas no chão. — Ah! Você está bem?!

Ele abriu a boca, me mostrando a sua garganta, as flores que eu havia cortado ontem, já estavam crescendo novamente.

— Isso é... impressionante e ao mesmo tempo assustador. — Comentei, tentando processar o que estava acontecendo.

Balancei a cabeça bruscamente, tentando afastar a sonolência que meu corpo sentia, puxando minha bolsa para perto com os dedos trêmulos de ansiedade, a abri.

— Está tudo bem, eu vou cortar tudo de novo. — Falei, de modo firme e confiante, não queria assustar o outro.

Me aproximei da boneca, sentindo a tensão passar pelo meu corpo, Tomo, meu velho amigo, costumava dizer que eu era bonzinho demais, e que confiava rapidamente nas pessoas, mas eu não sinto nenhum tipo de perigo vindo dessa boneca, por mais estranha que ela seja.

As folhas caiam ao chão, se espalhando ao nosso redor, e em alguns minutos lá estava sua garganta, "limpa" novamente. Não pude evitar de abrir um sorriso gentil, me orgulhando do meu próprio trabalho.

— Admita, eu seria um ótimo jardineiro.

Ele fez bico, revirando os olhos.

— A, qual é! Sua garganta está limpinha, mal agradecido. — Um riso leve saiu da minha boca. — Certo, deixa eu ver...

Me levantei do chão, as folhas nas quais dormi estavam um pouco molhadas pela humildade, minha saúde pode ficar comprometida se continuar dormir no chão, preciso achar um local mais confortável.

— Hmm... Você sabe se tem algum lugar tipo uma casa aqui? — Questionei, me virando para o rapaz, enquanto espreguiçava meus braços.

O boneco olhou ao redor, enquanto dava um longo bocejar, seguido por uma tosse rouca, que trouxe desconforto aos meus tímpanos. Em seguida, concordou com a cabeça, apontando para um lado inexplorado do jardim.

— Lá tem uma casa?

Ele revirou os olhos novamente, com uma expressão de: Não foi isso que você perguntou, gênio?

— Certo, certo... Me desculpe. — Puxei minha bolsa, a abrindo e retirando alguns potes lá de dentro. — Então, o que você come?

Seu olhar se surpreendeu um pouco com a pergunta, arqueando as sobrancelhas, enquanto apoiava o braço em uma parte da grande estátua atrás dele.

— Que foi? Comida! — Levantei um pote, e ele suspirou, apontando para si mesmo com uma expressão debochada. —... Ah! Claro! Como não percebi antes, você não precisa comer...

Um leve riso foi ouvido da boca da boneca, tão baixo que pareceu um sussurro, e me deixou um pouco encantado. A voz dele é tão linda, combina perfeitamente com seu rosto angelical.

— Mesmo assim, você pode comer, não pode? Eu trouxe comida o suficiente para 1 mês... Eu acho. — Comentei, retirando os potes da bolsa. — A maioria estraga rápido, tipo as frutas, então é melhor começar com elas... Queria ter pensado melhor antes de sair, mas não queria que meu pai ouvisse o barulho...

—... Por que? — Ele perguntou em voz baixa, evitando forçar sua garganta machucada. — Vo-você f-fugiu d-e cas-a?

—... Fugi. — Suspirei fundo, pegando um pote com algumas frutas e colocando ao meu lado. — Não me orgulho disso, mas o meu pai não me entendia...

Reflexo Das Flores VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora