Madeira Podre

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A entrada da mansão se apresentava em um estado lamentável, mostrando os estragos do tempo e da negligência. A porta de madeira, outrora majestosa, agora era apenas um amontoado de tábuas apodrecidas, atacadas por uma infestação de cupins que pareciam ter se banquetiado ali por décadas. Ao tocar na superfície deteriorada, a sensação era de que a estrutura poderia desmoronar a qualquer momento.

— Agh, acho que esse lugar não seria muito adequado para passar a noite... A menos que façamos uma reforma completa! — Comentei, cruzando os braços em desânimo.

A boneca passou por mim em silêncio, e em um movimento repentino, desferiu um chute na porta.

O vento gerado pela sua ação levou uma nuvem de poeira e fragmentos de madeira em minha direção, fazendo-me tossir violentamente.

— Cof! COF! O que você pensa que está fazendo?! Está louco? E se esta casa desabar sobre nós?!

Ele deu de ombros, virando-se para trás.

— Eu não morro, lembra? — Ele zombou, mostrando a língua em provocação.

— Mas eu morro! — Respondi, vendo-o entrar na casa. — Ei, volte aqui! Devia ter te deixado preso no chão!

Corri atrás dele, entrando na mansão abandonada, mas logo parei, tapando o nariz.

O cheiro lá dentro era horrível! Minha garganta reagiu imediatamente, trazendo uma ânsia agoniante. O mofo de séculos acumulado, insetos mortos espalhados pelo chão, ratos e restos de comida tornavam o ambiente insuportável. Enquanto o resto do jardim parecia um local confortável, aqui dentro a situação era grotesca.

— A-agh-... — Segurei a vontade de vomitar, retrocedendo em direção à porta da casa. — E-espera aí!

O boneco desapareceu rapidamente entre os corredores da mansão, o que me deixou furioso. Para onde ele estava indo? Ele me usou esse tempo todo?

Me sentei no chão, frustrado, colocando a mão sobre a cabeça que agora latejava. O mal cheiro era tão intenso que começou a me deixar enjoado rapidamente.

Já estava pensando que aquele boneco havia me abandonado, que não voltaria mais, que eu era apenas um idiota que ajudou aquela coisa a se soltar.

Mas alguns minutos depois, sua mão tocou meu ombro, e ele se abaixou ao meu lado, estendendo algo para mim.

— Hm? — Virei-me, pegando uma foto antiga. — Era isso que você estava procurando?

Peguei a foto, que estava um pouco deteriorada nos cantos, mas bem preservada. Nela, havia um rapaz de cabelos marrons com uma mexa vermelha do lado esquerdo, semelhante à minha, e ao seu lado... estava ele, o bonequinho que eu havia salvado, com uma roupa branca e completamente limpo, em total contraste com sua situação atual.

— Oh... Você estava procurando por isso? — Virei a foto, encontrando uma pequena anotação.

"Ao meu amado Kuni."

— Hm... Esse é o seu nome? — Perguntei, e ele concordou com a cabeça, fazendo um gesto de "mais ou menos" com a mão.

— Não... lembro... — Ele respondeu lentamente, sentando-se ao meu lado.

— Não lembra... O seu nome? — Perguntei, olhando para o rapaz.

Ele concordou com a cabeça, apontando para a foto.

— Mas ele... Me chamava assim... Isso eu lembro. — Ele abriu um sorriso singelo, lembrando-se do homem na foto. — Você lembra um pouco... dele...

— Oh... Sim, temos a mesma mexa vermelha no cabelo. — Eu sorri gentilmente. — Você poderia ter me falado que queria essa foto, não precisava arrombar a porta e sair correndo.

Reflexo Das Flores VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora