Dois Com Problemas de Abandono.

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Às vezes, em momentos de distração, eu me pegava encarando aquela estátua das duas irmãs, especialmente quando Kuni estava dormindo. O rosto delas me deixava intrigado: uma irmã possuía um enfeite de flor no cabelo e um largo sorriso no rosto. Suas roupas eram longas e tradicionais. A outra irmã, por sua vez, tinha um detalhe que lembrava um capacete de samurai, e suas vestes eram mais curtas e de um tom mais escuro, embora fosse difícil ter certeza, já que a pintura da estátua estava completamente desgastada.

Era estranho. A Raiden Shogun exibia todas essas características: as flores, o detalhe no cabelo, as mangas de tamanhos diferentes...

À medida que o sol nascia, seus raios batiam na estátua, revelando um brilho no pescoço de uma das irmãs.

— Hein? O que é isso... — Murmurei, enquanto me apoiava na estrutura da estátua e começava a escalá-la com cuidado.

O lado ruim de ser baixinho eram esses momentos, se eu fosse alto como o Ayato ou o Tomo não teria nenhuma dificuldade de puxar aquilo!

Segurei o braço de uma das irmãs e apoiei meu pé no kimono largo da outra, empurrando meu corpo para cima na tentativa de alcançar o objeto brilhante. Assim que meus dedos o tocaram, senti meu pé escorregar.

Meus olhos se arregalaram, enquanto tudo de repente parecia estar em câmera lenta.

— A-ah! — Gritei, agarrando com força o objeto brilhante, enquanto meu corpo caía da estátua. — Ohnt...

Bati na grama, o impacto amortecido pela terra macia, mas uma dor aguda irradiou da minha perna. Bati a cabeça levemente, o que não doeu tanto, mas a dor na perna era insuportável. Com esforço, olhei para o objeto em minha mão, ainda tentando entender o que tinha acabado de encontrar.

— Parece uma pena dourada... Ah! Devia ser isso que o Kuni estava procurando! — Tentei me levantar, mas minha perna fraquejou, me fazendo cair ao chão novamente.

Quando olhei, havia um grande corte no meu tornozelo, o que me fez surtar! Meu Deus, como eu vou enfaixar isso? Vai infeccionar! Nós não temos recursos para cuidar disso...

— K-kazuha! — Kuni me chamou ao longe, mas eu ainda não conseguia ver sua figura, aquela voz fraca e rouca era reconhecível em qualquer lugar.

Quando sai andar, ele ainda estava dormindo, é praticamente um milagre ele acordar bem quando eu preciso.

— Tsk... — Murmurei, pressionando o tornozelo na tentativa de estancar o sangue.

A dor era lancinante, cada movimento enviava ondas de agonia pela minha perna. Olhei ao redor, desesperado por algo que pudesse usar para improvisar um curativo. Precisava manter a calma, mas o pânico estava começando a tomar conta.

Kuni finalmente apareceu, correndo em minha direção com os olhos arregalados de preocupação.

— K-Kazuha! Vo-você está be-be...m?! — Ele se ajoelhou ao meu lado, seus olhos azuis brilhando de aflição.

O vermelho que escorria da minha perna parecia deixar o rapaz em choque, de repente vi seu rosto se avermelhado, e ele começou a respirar rapidamente, como se estivesse tendo uma crise de pânico.

— Eu... estou bem, só preciso... argh, enfaixar isso — respondi, tentando não deixar minha voz trêmula. — Não s-se preocupe.

Ele olhou rapidamente ao redor e, sem hesitar, rasgou um pedaço de sua própria roupa, improvisando uma faixa. Com cuidado, ele envolveu o corte no meu tornozelo, suas mãos firmes, mas gentis.

— Obrigado, Kuni... — murmurei, apreciando a ajuda e a proximidade.

Seu olhar era trêmulo como suas mãos, me pergunto se essa reação é por conta da quantidade de sangue.

Reflexo Das Flores VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora