Aquele Que Tem Sentimentos

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— E essa letra, você precisa fazer os traços um pouco mais afastados, compreende a diferença? — Falei gentilmente, enquanto passava o caderno para o rapaz de belos olhos azuis, fantásticos, hipnotizantes.

— Sim... — Ele copiou meus traços com delicadeza, escrevendo na folha. — Acho... q-que lembro um pouco...

Ele apontou para a folha, confuso com o que estava escrito, esperando que eu falasse para ele.

— Kaedehara Kazuha, esse é meu nome! Você aprende rápido. — Comentei, enquanto desviava meu olhar para frente, segurando um peixe espetado num graveto, em frente a fogueira improvisada que havíamos feito mais cedo.

— K-kaede-...hara Ka-kazu...ha... — O rapaz circulou meu nome com o lápis, fazendo um coração na frente.

Senti meu rosto esquentar, enquanto desviava o olhar para a escuridão do jardim, ele havia desenhado um coraçãozinho?! Isso foi um flerte discreto? E se foi, eu estou interessado?! Ahhh-

Balancei a cabeça, tentando ignorar, vai que ele só achou bonitinho! É, pare de ser paranóico, seu nome é bonito! Kaedehara Kazuha, Kaedehara Kazuha, sim, um belo nome.

Já era tarde da noite, e se me falassem antes de ontem que eu estaria em um jardim abandonado cozinhando peixes que um boneco vivo pegou do lago pulando lá dentro a alguns dias atrás, eu não acreditaria.

Kuni se aproximou um pouco mais de mim, seu olhar fixo nas chamas dançantes da fogueira. Ele estendeu sua mão, suja e manchada de verde, tocando o fogo com cuidado.

— Você não sente dor, né? — perguntei, observando sua expressão.

Ele parecia triste, fitando as chamas intensamente, me pergunto o que passava naquela cabeça, que tipo de pensamento ele tinha sobre mim, sobre o jardim, e sobre si mesmo.

Ele não respondeu imediatamente, mas seu olhar refletia uma mistura de nostalgia e resignação.

— Antes... s-sentia. — Ele murmurou finalmente, sua voz suave carregando uma melancolia perceptível. — Agora... n-não s-sinto mais nada...

Suas palavras ecoaram no silêncio da noite, deixando-me atônito com a profundidade de sua angústia.

Ele puxou sua mão de volta do fogo, agora seus dedos tinham uma mancha preta na ponta, mas ele não parecia se importar com isso, na verdade, ele não demonstrava nenhum tipo de importância com a sua aparência a um bom tempo.

Kuni pegou meu caderno que estava em seu bolso, começando a rabiscar algo enquanto eu finalmente retirava nossa janta do fogo.

— O que está fazendo aí? — Perguntei, mordendo meu peixe no espeto.

Ele me estendeu a folha, mostrando-me um desenho.

Era um rapaz de cabelos e olhos azulados, o cabelo era curto em forma de tigela, vestindo roupas delicadas, brancas e roxas, destacando-se especialmente seu véu charmoso.

— Você era assim? — Perguntei, e ele concordou com a cabeça. — Uau, parecia mesmo um príncipe!

Seu rosto ganhou um leve rubor, embora fosse difícil de ver devido à sujeira acumulada.

Ele voltou a rabiscar na folha, me fazendo ficar mais curioso sobre o que sairia daquele balançar sútil do lápis. Assim, me apontou a folha, estava desenhado uma mulher dessa vez, alta e de longos cabelos roxos, com uma trança que ia até seus pés.

Reflexo Das Flores VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora