Capítulo 5 - O tiro saiu pela colátera

0 0 0
                                    

Depois da confusão no refeitório, ficámos todos culpados daquele espetáculo ridículo. Ficámos condenados a limpar os corredores da escola, incluindo o refeitório e o espaço exterior durante uma semana, depois das aulas. A diretora pôs-nos ao cuidado da professora Hertz de química. Só Adriel, o Filipe e o gangue de nadadores de poças é que a conheciam. São os dos cursos de ciências e, pelo que sei, vão dar toda a graxa possível para se escaparem ao trabalho.

Tive a sorte de ser dispensado durante alguns dias, à tarde, quando tenho grande parte das minhas aulas são no conservatório. Senti-me grato por passar mais tempo no chão e em barras de ballet do que naquela espelunca. Pelo menos, até a diretora dizer que tinha que compensar esses tempos, nos períodos livres que tenho durante a manhã. Ao menos, não vou ter que aturar Tod e o presidente perfeito, o Adriel.

Já tínhamos o saco quase cheio de lixo, quando a dor no joelho voltou a aparecer. Massageie-o, tentando amenizá-la.

- Dói-te a perna? - Perguntou Noah, atirando mais um copo de plástico para o saco. Por alguma razão os paspalhos dos alunos adoravam poluir o pátio.

- Devem ser dores dos ensaios. Já passa. - Menti, com todos os dentes que tinha.

Laura pôs-se no meio de nós, meio aborrecida.

- Bem, ao menos ficámos juntos! Quando a professora disse que nos ia dividir por grupos para limparmos várias zonas da escola tive receio que acabasse por ficar com o Tod.

Suspirei. Ela tinha razão. Pensei exatamente o mesmo. Se ele fez aquele espetáculo no refeitório com tanta gente a olhar, não quero pensar no que poderia ter feito se ninguém tivesse interferido.

- Ele não te ia fazer nada. - Disse. - Nós não deixávamos.

Laura mandou uma gargalhada sonora. Depois, olhou para mim com um sorriso macabro.

- Fiquei com medo por ele! Não fiquei com medo dele! - Exclamou, com um sorriso tão ameaçador, que mais parecia um tubarão. - Não sei se me conseguiria controlar desta vez! Aquele cretino

Noah aproximou-se e colocou os braços por cima de nós os dois, abraçando-nos.

- Coitado! Ele que tentasse! Ia sofrer a fúria da caracóis prateados!

Rimos em coro. Mas, no fundo, sabia bem que a Laura era muito bem desenrascada. Idiotas como o Tod, infelizmente, eram o prato do dia. Limpar o lixo da escola era fácil, mas limpar o lixo da cabeça das pessoas? Principalmente pessoas como o Tod? Uma tarefa quase impossível

- O que é que acham que o Eleito quis dizer com aquela lista? - Perguntou Noah, olhando em nosso redor. Não me admirei. Estávamos perto da direção, na zona da entrada da escola. Podia ser já de tarde e, pelo que parecia, só nós, os outros grupos do castigo e professora Hertz estávamos na escola. Mas, ainda assim, Noah não deixava de ser cuidadoso.

- Não decorei todos os nomes, mas consegui tirar uma foto no momento em que o vídeo passou na televisão do refeitório. - Continuou.

O meu telemóvel vibrou e peguei nele. As redes sociais não paravam de vibrar com a recente aparição do Eleito.

- Não precisavas. - Disse-lhe. Lancei o telemóvel para si e Laura juntou-se a ele. A imagem era clara. Uma lista de nomes denominada de A Lista dos Escolhidos. - O Eleito não se poupou a esforços para denunciar estas oito pessoas. E ainda diz que esta não é a lista definitiva.

- O que é que ele quer dizer com isto? Porque não diz logo quem são as pessoas, afinal? - Perguntou Laura, já frustrada por apanhar tanto lixo da zona da entrada. - Porcos! - Refilou, para ninguém em particular.

Controle DeleteWhere stories live. Discover now