Capítulo 8 - Que o jogo comece!

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Acordei ao meio da noite, com um pesadelo a sufocar-me. Uma máscara cobria-me o rosto. Nas minhas mãos, uma tinta de spray vermelha, carregada de X pretos. Ao longe, estava a escola, grafitada com asas e uma auréola. O sinal dos infernos fez-me revirar os olhos e, do nada, um espelho apareceu à minha frente. X vermelhos cobriam-me a face, sentados nos meus olhos e no meu sorriso retorcido. Uma multidão aproximava-se de mim, como zombies em busca de carne humana.

- «Tu és o Eleito! » - gritou um corpo sem face.

- «Vais pagar por tudo!» - gritou outra.

Os corpos moviam-se como fantasmas e um medo desesperante comia-me a pele. Ao longe, consegui ver Noah, e algo se acalmou no meu peito.

- «Noah! - gritei, com todas as forças que tinha. Senti um rasgo de esperança ao vê-lo.

Mas, quando ele se virou, o meu coração estilhaçou-se por completo.

- «Sabia que gente como tu não era de confiança!» - O seu rosto retorcido esmagava-me ainda mais o peito. - «Nunca foste amado, nem nunca serás, Dante Cirne. Nem por mim, nem por ninguém!»

Lágrimas soltaram-se do meu rosto e a multidão engoliu-me. Um grito abafado soltou-se da minha garganta e despertei, finalmente. Tinha as costas suadas e a cama encharcada em suor. Afastei o cabelo dos olhos e reparei que eram três da manhã. Desbloqueie o telemóvel e vi uma notificação de mensagem do Noah.

«Dorme bem, bailarino.»

Uma mensagem de boa noite, pensei.

Desejava não senti-lo, mas algo palpitava no meu coração, logo ao lado da aversão que sentia do Noah e do medo despertado por este pesadelo. Ele podia ser o maior chibo que tinha conhecido, o maior sem noção de sempre. Quem é que podia ser tão tapado ao ponto de acusar alguém sem provas? Ao ponto de poder prejudicar a vida de alguém para sempre, apenas porque pode? Ele não sabia que era um privilegiado, que nunca tinha passado por problemas nenhuns. Enfim, o tipo de pessoa que desprezava. Mas, por alguma razão, não conseguia abanar o que estava a começar a sentir por ele.

Era tarde, mas respondi a sua mensagem. Talvez ele acordasse e visse a sms. Talvez pensasse em mim. Ou então não. Não me importava com isso. Não me importava com ele. Pensava eu.

Abri a página do Eleito e, depois de um refresh, reparei que ainda não haviam novas atualizações no seu perfil. O último vídeo ainda lá estava. Um quadro com um oceano pintado, uma faca de dois gumes perfurando-o. E todos os outros posts, claro.

Não sabia o que é que o Eleito queria dizer com aquilo. Mas lembrava-me das suas palavras macabras. Quem quer que estivesse por detrás daquela máscara tinha um sentido de humor horrível. Momentos depois, Noah respondeu-me à mensagem.

«Ainda acordado? Parece que não sou o único a ser atormentado pelos planos do Eleito! O que é que pensas sobre a última cena que ele fez?»

Respondi-lhe alguns segundos depois. Não queria que ele pensasse que estava desesperado pela sua atenção ou assim. Porque eu não estava mesmo. Talvez

Sabia que ele queria mais que saber qual era a minha resposta. Queria saber o que eu achava porque devia ter algo na cabeça, uma teoria qualquer maluca que queria provar certa. Mais uma perigosa suposição, portanto. Mas a curiosidade, como sempre, estava a levar-me a melhor e eu tinha de saber o que ele realmente queria com aquela pergunta.

«Penso que ele nos quer enviar uma mensagem clara: que é ele que domina. E isso deixa-me enojado.»

«Hm, então preferes dominar é isso? E pensar que tu, bailarino, preferes dominar Talvez também gostes de ser dominado e só não tenhas experimentado com a pessoa certa.»

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⏰ Last updated: Apr 26 ⏰

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