Capítulo 3 - Mentes invulgares criam planos inesperados

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Não consegui dormir, depois do baile. As redes sociais explodiram com vídeos dessa noite. O Eleito - como se autointitulou - passou a ser o assunto mais falado na escola. Ninguém ficou indiferente ao ataque cibernético no Baile de Outono. Ninguém o apoiava. Pelo menos oficialmente, à luz do dia. Mas nas casas de banho havia mensagens de apoio à investida. Nos cantos escondidos da escola também. Não tardou a surgirem alguns cartazes e cenas de vandalismo pela escola, apoiando o movimento do hacker. Da noite para o dia, asas partidas e olhos avermelhados em X foram pintados nas vitrines dos prémios dos clubes e em algumas janelas das salas. A mensagem da justiça retorcida do Eleito espalhou-se tão rápido como os ratos no baile.

Enviei uma mensagem ao Noah para ver se nos encontrávamos. Tinha ficado com a sua câmara. Estava partida, mas esperava que ele compreendesse. Entre ratos e centopeias, sair daquela barafunda era a minha prioridade. No calor do momento, afastamo-nos um do outro e ele desapareceu do mapa. Vim sozinho para casa, quando não encontrei a sua mota no parque de estacionamento. Não que fossemos um par, mas não o ver após o baile meio que me deixou pensativo.

Tocou para a hora de almoço e fui-me sentar na mesa do costume. Verifiquei o telemóvel uma última vez. Ele tinha visto a mensagem, mas não me tinha chegado a responder. De qualquer das formas, não éramos amigos. Ele simplesmente precisava do meu conhecimento para entrevistar o grupo de dança - que nunca chegou a atuar. Depois da infestação, o baile acabou de imediato. O pavilhão da escola está fechado para desinfestação até ao final do semestre, por ordem do conselho de escolas.

- Foi uma festa e pêras, este baile!

Noah surgiu atrás de mim, com a sua câmara ao pescoço. Não me espantei enquanto tirava uma fotografia aos olhos em X desenhados na mesa ao lado da minha.

- A quem o dizes. Ao menos tens material para o teu jornal até ao final dos teus dias como repórter. - Ironizei.

Mas ele não sorriu.

- Já se sabe alguma coisa sobre quem pirateou o sistema?

Sentou-se perto de mim. Ainda não estava habituado, mas era melhor do que as pessoas pensarem que o miúdo-fantasma andava atrás do jornalista sensacionalista da escola. Apesar de tudo, ele era muito querido entre os alunos e os professores. Estar com ele era a receita perfeita para deixar de ser o desaparecido e começar a assombrar a sua vida. Algo que muitos ansiavam, mas eu não.

- Tentei sacar alguma informação ao professor de informática, mas a diretora apanhou-me e afastou-me dele antes que pudesse saber qualquer coisa.

Franzi as sobrancelhas, num ato nada subtil de dúvida.

- É óbvio que não quer que nada se saiba antes que possa resolver o problema. Houveram muitos segredos enterrados por ela, mesmo antes de que se soubesse. Pelo menos é o que suspeito.

- Talvez. - Respondeu. - Só sei que o hacker pregou um grande susto. Pode ter sido uma brincadeira de mau gosto dos finalistas, mas os caloiros pareciam bem assustados.

Suspirei. Não era uma piada, de certeza. Nunca tinham havido grandes ondas por esta escola. Até me custava acreditar no que o Eleito dizia. Era praticamente impossível haverem tantos casos de injustiça. Quero dizer Esta escola não é o sítio perfeito, mas nunca vi nenhuma injustiça acontecer. Pelo menos, não grande o suficiente para ser digna de ser reportada. Ou que se soubesse.

- Vou encontrar-me com a Laura para ver o que é que ela conseguiu gravar do Baile.

- Era ela de quem estavas a falar, quando disseste que alguém estava a cobrir o Baile?

Ele sorriu, como quem se me dissesse que sim.

- Vamos. Ela está à espera na sala do clube de jornalismo.

Controle DeleteWhere stories live. Discover now