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Capítulo 7 - Faca de dois gumes

Passaram-se três dias desde que o Eleito revelou o segredo da Laura. A escola fechou depois de mais uma praga de ratazanas e era claro que toda a comunidade estudantil ia ficar ao rubro. As redes sociais explodiram com o #AssasinaHipocrita e a página do Eleito tinha ganho o triplo dos seguidores desde o momento em que tinha revelado parte da vida de Laura. Antes da diretora dar ordem para se fechar a escola, proibiu que se trouxesse telemóveis para a escola e toda a rede pública de intranet foi desmantelada. Claro que isso não foi impedimento para que os alunos continuassem nos seus mundos digitais. Fosse pelo que fosse, aqueles miúdos riquinhos gostavam tanto de ver o sofrimento alheio que preferiam arriscar-se a serem expulsos do que perderem os últimos mexericos.

Pelos vistos, o Eleito tinha conseguido hackear todos os projetores e computadores da escola para sincronizar o vídeo que tinha mostrado sobre a Laura. Eu e Dante tentámos telefonar-lhe, mas, como era de esperar, o seu telemóvel estava desligado, ou sem serviço. O Eleito estava a ter um impacto cada vez maior na escola. De uma forma qualquer, todos os intervalos cresciam X nas paredes ou asas em todo o lado. No pátio, nas casas de banho, na cantina, nas secretárias Até mesmo na porta do gabinete da diretora. Os auxiliares tentavam limpá-las tão depressa como apareciam. Mas, para todos os efeitos, deviam ser os estúpidos dos miúdos que ainda achavam que aquilo que estava a acontecer era uma brincadeira

Laura desapareceu das redes sociais e começaram-se a formar grupos que apoiavam o Eleito e grupos que eram totalmente contra. Já haviam sussurros no corredor de grupos professores e alunos que eram contra o abordo que tomaram automaticamente Laura como irresponsável ou como uma vadia. Nas palavras deles, uma puta. Outros, achavam que ela era uma psicopata ou assim, por, acidentalmente, ter provocado o colapso da mãe. Dante e eu não queríamos saber disso. Pelo menos, eu combatia a vontade de lhes esmurrar a cara. Sei o que é ser julgado e o que esta gente faz melhor, é isso mesmo: julgar.

Com as aulas canceladas, tivemos o tempo todo do mundo para rever os vídeos do Eleito. Apesar de Noah os ter gravado em primeira mão, o Eleito era tão autoconfiante, que os postava nas redes sociais. Detestava admiti-lo, mas o que o Noah tinha dito era verdade Ele estava a gostar de ser visto. E as visualizações nos seus vídeos dispararam, assim que ele fez mais um post, com uma simples frase:

A JUSTIÇA NÃO TARDA A CHEGAR

Depois de horas a tentarmos analisar o vídeo, não chegamos a conclusão nenhuma. O Eleito era demasiado inteligente para deixar alguma pista ou algum detalhe que pudéssemos utilizar para chegarmos a ele.

A casa de Laura não ficava longe. Noah apanhou-me em casa, com a sua mota e seguimos caminho até lá. O céu estava ameaçador e previa-se chuva para a tarde. Chegámos e ainda não tinha começado a chover. Sabia que o pai de Laura era bastante rico, mas, ao ver a casa dela através do capacete da mota comecei a perguntar-me como é que ela podia ter mau gosto, no que tocava às roupas que vestia.

Tirei o capacete e atirei-o ao Noah, que os guardou no assento da mota. Era uma casa de estilo cúbico, com dois andares. Era vedada por cercas de metal cinzento que combinavam com as paredes de granito e com o céu escuro. Tinha janelas enormes, tapadas por cortinas elegantes - a única coisa que se conseguia ver através dos vidros fumados. As paredes eram brancas como o cal, quase refletindo os poucos raios de sol que se escapavam pelas nuvem. De repente, um rasgo vermelho atingiu-me os olhos e reparei que numa delas estava grafitado um par de asas e uma ourela. Por baixo, estava algo escrito, com letras garrafais: Assassina Hipócrita.

- Achas que foi o Eleito que escreveu aquilo?

Noah olha para a parede e franze as sobrancelhas.

Duvido. Ele não se preocupa em atormentar as pessoas, assim. Ele quer ser visto, mais que tudo. Ouvido. Ele quer plantar a discórdia e, além disso, ainda tem outras pessoas na lista. Isto não lhe daria notoriedade. Quanto mais, fazia dele um criminoso. Devem ter sido uns palermas da escola.