Capítulo 1

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Amor e ódio são viscerais. Só de pensar naquela pessoa, seu estômago já revira. No peito, o coração bate pesado e forte, quase visível debaixo da pele e da roupa. Seu apetite e sono ficam seriamente comprometidos. Qualquer interação faz o sangue ferver com um tipo perigoso de adrenalina e você se vê quase em uma reação que beira o limite entre lutar e fugir. Seu corpo parece prestes a perder o controle. Você é consumida, e isso a assusta.

Amor e ódio são versões espelhadas do mesmo jogo e você tem que vencer. Quem me dera viver apenas um desses sentimentos, meu relacionamento de 6 anos, para minha sorte, não tem me consumido tanto quanto a raiva que sinto pelo meu insuportável colega de trabalho, Travis Kelce.

Desde que a The Archer Company, agência de publicidade onde trabalho desde o inicio da minha carreira, havia se fundido com o Chiefs Group, onde Travis trabalhava, formando a agência Arrowhead. Travis e eu fomos obrigados a trabalhar no mesmo ambiente, ter um colega na mesma função que eu parecia animador, mas na realidade se provou uma tortura.

Se tornou comum ver os dois gerentes de projetos gritando um com outro em todos os cantos da agência, constantemente discutindo sobre as contratações da empresa, brigando pelas decisões estratégicas, criativas ou para decidir qual conta cada um atenderia.

Estamos envolvidos em um dos nossos joguinhos infantis, os quais não requerem palavras. Como tudo o que fazemos, é um jogo terrivelmente imaturo.

Travis parece uma criança no corpo de um adulto, não existe um dia em que não perturbe com alguma piadinha ou apelido novo.

Sua ideia do dia é imatar todos os meus movimentos. Cada movimento que eu faço é repetido do seu lado do escritório com um brevissimo delay. Ergo o queixo, que continuava apoiado na palma da mão e giro a cadeira. Ele, discretamente, faz a mesma coisa. Tenho 33 anos e parece que estou em sala de aula do jardim da infância ou em um hospício.

Meu telefone toca. Joe Alwyn, meu namorado. Sinto vontade de desligar o telefone e jogá-lo na parede. Joe e eu não estamos vivendo nossa melhor fase no momento e falar com ele no trabalho só me causa mais ansiedade.

- Oi, como está? - quando falo ao telefone, minha voz se torna um pouco mais calorosa.

Do outro lado da sala, Travis vira os olhos enquanto começa a punir seu teclado.

-Com saudades, queria saber se você chega cedo hoje? Precisamos conversar amor. - Acho que minha enxaqueca está voltando. Não consigo nem olhar para a tela a essa altura.

-Acho que hoje não terei que trabalhar até tarde, então chego no meu horário normal.

-Ótimo Taylor, então você vai conseguir preparar um jantar maravilhoso para nós e tenho certeza que vamos nos resolver.

-Claro... - Meu cérebro está gritanto para terminar de uma vez, mas estamos juntos há tanto tempo que me sinto incapaz disso. E olhando pelo lado positivo dessa vez ele quer resolver a situação.

- Você é a melhor, até mais tarde querida.

Suas palavras doces me ajudaram a diminuir um pouco o ressentimento.

Desligo o telefone e sequer preciso olhar para Travis. Sei que ele está balançando a cabeça para deixar clara sua reprovação.

-Você ainda está com esse otário? - ele diz.

-Não sabia que se importava com meu relacionamento. -retruco

-Não me importo, mas se um cara faz minha colega de escritório chorar no mínimo uma vez por mês eu presumo que ele não é gente boa.

-Você namora aquela maluca e acha que pode apoinar sobre o relacionamento alheio? Muito fofo da sua parte.

Travis revira os olhos e solta um suspiro exasperado. Seu rosto exibe uma expressão de irritação, mas também há algo mais lá, algo que não consigo decifrar completamente.

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