Capítulo 9

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Quero sair correndo, mas minhas pernas parecem incapazes de sequer me sustentar.

— Nem pense nisso — ele me diz.

Entro em seu carro e fico quase inconsciente. Seu cheiro se torna mais forte aqui, intensificado pelo verão, preservado pela neve, selado e pressurizado dentro do vidro e metal. Inalo como uma perfumista profissional. Notas superiores de menta, café e algodão. Se esse é o cheiro de seu carro, imagine o cheiro da sua cama. Boa ideia. Imaginar a cama dele.

Travis entra, joga meu casaco no banco traseiro, e eu olho de rabo de olho para o seu colo. Puta que pariu!

Deslizo o olhar para outro lado. Seja lá o que ele tem ali, é grande o suficiente para atrair outra vez a minha atenção.

— Você ficou chocada — censura, como um professor.

Minha respiração sai trêmula, e ele se vira para me observar com olhos sombrios e venenosos. Ergue a mão e me faz estremecer. Franze a testa, pausa, então ajeita cuidadosamente o meu brinco.

— Pensei que você fosse me matar.

— Ainda quero te matar.

Travis estende a mão para alcançar o outro brinco, e agora a parte interna de seu pulso está tão próxima que eu poderia morder. Ele afasta com cuidado as mechas de cabelo até meu brinco estar outra vez no lugar certo.

— Eu quero. Você não tem ideia do quanto — eu respondo, hipnotizada pelo brilho de seus olhos.

Ele liga o carro, dá ré e sai dirigindo como se nada tivesse acontecido.

— Precisamos conversar sobre isso — minha voz sai dura e rouca.

Seus dedos se ajeitam ao volante.

— Parecia o momento certo.

— Mas você me beijou. Por que fez isso?

— Eu precisava testar uma teoria na qual venho pensando há algum tempo. E, para dizer a verdade, você retribuiu meu beijo.

Remexo-me em meu banco e o semáforo à nossa frente fica vermelho. Ele diminui a velocidade até parar e olha para minha boca e para minhas pernas.

— Você tinha uma teoria? Para ser sincera, acho que você só queria me deixar perturbada antes do meu encontro.

Os carros atrás de nós começam a buzinar, e eu olho por sobre o ombro. Pego um espelho na minha bolsa, lembrando que não posso me encontrar com Joe nesse estado.

— Verde. Vá.

— Ah, verdade, seu encontro. Com seu namorado insuportável.

— Você quer mesmo falar de namoro? E a sua namorada? Aposto que está em casa te esperando. Inclusive, se fosse você, tomaria cuidado; tem batom em todo o seu rosto.

Travis limpa os lábios com a manga da camisa, um gesto despreocupado que me irrita e excita ao mesmo tempo. Ele não parece nem um pouco arrependido do que acabou de acontecer. Enquanto ele dirige, eu tento entender os pensamentos e sentimentos confusos que borbulham dentro de mim. A culpa por trair Joe luta com a excitação que Travis despertou em mim.

Nunca mais vou receber um beijo desses pelo resto da minha vida.

O restante da viagem é silencioso, cheio de uma tensão densa e quase palpável. Quando finalmente chegamos ao Olive Garden, ele estaciona o carro e se vira para mim, o olhar mais suave do que eu esperava. Ele parece estar procurando palavras mas não encontra nenhuma.

Permanecemos nos encarando por alguns minutos, tendo uma conversa silenciosa porém muito confortável. Depois de um tempo, me dou conta de que tenho que encontrar meu namorado. Não me despeço; apenas abro a porta do carro e saio rapidamente, tentando recobrar a compostura antes de entrar no restaurante. Joe já está lá, sentado em uma mesa próxima à janela. Quando me vê, abre um sorriso que me faz sentir um aperto no coração.

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