Capítulo 2

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Ao chegar à Arrowhead, sou recebida pelo frenesi habitual da agência. O ambiente agitado é com certeza uma das minhas coisas favoritas dessa agência.

Enquanto me sento em minha mesa, sou atormentada pela presença de Travis, parado ao lado dela com um sorriso irônico nos lábios. Meus olhos se encontram por um breve momento, e sinto um arrepio percorrer meu corpo inteiro.

- Bom dia, Taylor. - Travis me cumprimenta, sua voz carregada de um tom específico que me deixa louca.

- Bom dia, Travis.

- Você recebeu nova identidade visual que a equipe de arte está criando? - ele pergunta me encarando por cima da tela de seu computador.

- Ainda não recebi. - levanto meu olhar encarnando-o - Você vai me mostrar ou vou ter que descer até o setor de criação?

- Abre seu email, acabei te enviar lorinha.

- Obrigada Kelce, mas não me chama assim, já te disse que não gosto.

Verifico meu e-mail, tudo em ordem. Olho para o relógio, são 09h15, o dia será longo. Confiro meu batom no reflexo da parede reluzente perto do monitor do meu computador e dou uma olhada em Travis, que me encara com desprezo. Encaro-o de volta, agora estamos fazendo o Jogo de Encarar.

Devo dizer que o motivo maior de todos os nossos joguinhos é fazer o outro sorrir. Ou chorar, algo assim. E eu sei quando saio vitoriosa.

Quando conheci Travis, cometi um erro: sorri para ele. Meu sorriso mais brilhante, com todos os dentes expostos, olhos brilhando com um otimismo idiota de quem acreditava que a fusão das agências não seria a pior coisa a acontecer na minha vida. Seus olhos me analisaram do frizz no cabelo à sola dos sapatos. Depois, olhei pela janela. Ele não retribuiu o sorriso e, de alguma forma, sinto que desde então criamos essa relação doentia de competição, provocações e brigas. Com isso, Travis está um ponto na frente.

Cubro a boca e bocejo. Em seguida, olho para o bolso da camisa de Travis, sobre seu peito esquerdo. Todas as camisas do mundo parecem ficar ótimas nele e isso me irrita profundamente. Todas as cores combinam com ele.

- Sua gravata está torta – observo em voz alta.

Ele me lança um olhar que é ao mesmo tempo presunçoso e irritadiço.

- Você presta atenção demais em mim, Loirinha. Mas devo lembrá-la de que comentários sobre a aparência dos colegas de trabalho vão contra a política de Recursos Humanos da Arrowhead.

Ah, a provocação dos Recursos Humanos. Fazia tempo que não brincávamos disso.

- Pare de me chamar de Loirinha ou vou denunciá-lo ao RH.

Mantemos um registro um do outro, só posso imaginar que ele mantenha. Parece sempre se lembrar das minhas transgressões.  Cada um fez quatro queixas ao RH durante o último ano.

Ele recebeu uma advertência oral e uma escrita por causa do apelido que inventou pa mim. Eu recebi duas advertências: uma por abuso verbal e outra por uma pegadinha infantil que saiu do controle. Não me orgulho disso.

Nossa última discussão foi há dois dias, recentemente o grupo P&G se tornouclienteda agência, mas obviamente não de todas as marcas já que eles possuem centenas, porém a Arrowhead recebeu uma quantidade considerável de campanhas. Travis e eu ficamos responsáveis pela Always, marca de absorventes e produtos intimos femininos.

Aparentemente simples, certo? Errado! Travis tem a mania de questionar cada passo meu.

- Estava pensando em pedir uma pesquisa de mercado, precisamos de dados atualizados sobre a faixa etaria que mais utiliza os produtos. - digo quando nos sentamos para analisar o briefing.

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