Capítulo 8| O olho que tudo vê.

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14 de fevereiro| terça-feira 

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14 de fevereiro| terça-feira 

Abro os olhos lentamente, enquanto sinto meus joelhos se apertarem no pequeno espaço do confessionário. 

Sinto o suor escorrer em meu pescoço, me deixando nervoso. Eu não era um mentiroso nato, muito menos gostava de tais atos. Mas tudo o que poderia fazer era algumas omissões, que de acordo com Débora, não trariam mal algum a mim. 

Não acredito em uma única palavra do que disse. 

O padre pigarreou, chamando minha atenção. Ainda suava, mas desta vez, frio. Estava pronto para a farsa. 

- Padre, preciso confessar algo. - puxei a saliva, engolindo em seco. - Algo que vi recentemente. E pode ser pavoroso, para vossa santidade. 

Ele continuou calado, apenas escutando atentamente cada som que eu fazia. 

- Eu vi um homem ser morto. - um silêncio constrangedor em toda a catedral me fez estremecer. 

- E você tem algum envolvimento nisso, meu filho? - disse tão calmo quanto pode. 

Olhei para minhas mãos, tentando lembrar de suas palavras bem ditas, as informações que me propôs. Coragem, Aaron. 

- Não. - suspirei. - Mas sei quem foi. 

- Então...por que não fez um boletim de ocorrência? 

- Eu o fiz, mas confio apenas em você para dizer tudo. 

Talvez minhas palavras me afoguem em um mar de desafios, mas, esse peso em meus ombros é insuportável de carregar. Preciso dizer algo para alguém. E eu escolhi a pessoa certa. 

...

Levantei da cama, algo me incomodava muito. 

A luz branca entrava pela janela, iluminado parte do quarto. Desde que comecei esse novo negócio, não consigo dormir direito. Talvez os pesadelos sejam por motivos psicológicos ou a culpa esteja me consumindo. 

Era um objetivo bobo, ou até mesmo, banal. 

Mas eu não era do tipo ambicioso, mesmo assim, o que houve comigo? Era mesmo necessário fazer tudo isso por dinheiro? Queria poupar minha juventude, construir algo meu, mas nem tudo é como queremos, e isso saiu completamente do meu controle. 

Desci as escadas, dando de cara com uma figura nada encantadora dela na cozinha, devorando o frango assado da manhã seguinte. 

- Acordado a essa hora? - lambeu os dedos. - Sabe que horas são? 

- E você, não para de comer não? - resmunguei. 

Revirou o rosto, me punindo com seu silêncio tão desejado por mim. 

- A propósito, por que foi a missa hoje? - passou a língua nos lábios. - Quer por tudo água abaixo? 

- Não tenho mais o direito de manifestar minha fé? 

- Sua fé? - gracejou. - Desde quando sua fé é católica? 

- Desde que me meti nessa confusão. 

Ela me olhou com o olhar de que já sabia minhas reais intenções. Tentei esconder em meu rosto o desespero para manter tudo em segredo, mas ela consegue arrancar de mim as maiores verdades. 

- Você sabe que ela já tem dono. - lavou as mãos na pia, enquanto juntava os pedaços de frango no prato. 

- Como alguém pode ter um dono, Débora?- franzi as sobrancelhas - Você e Colin eram assim? 

Suspirou, e por um momento, me dei conta de ter comentado sobre ele. 

- Desculpa. - sussurrei. 

Virou-se para mim, tentando abrir um sorriso tímido e melancólico. Seus olhos ainda eram tristes quando se tocava no assunto. Seu assassinato havia deixado sequelas nela, algo que jamais iria esquecer. 

- Colin e eu éramos apenas almas gêmeas, destinados a ficar juntos. - direcionou seu olhar a um porta retrato de Yuki, que descansava em uma pequena bancada da cozinha. 

- Você a ama, e eu admiro isso. É seu recomeço, mesmo que seja passageiro. 

- Vocês não sabem falar mais baixo não? Acabei de colocar ela na cama. - resmungou, aparecendo no corredor.

Estava sem camisa, suas tatuagens ficaram a mostra. Sua calça de moletom com os óculos de grau o deixavam menos intimidador, o que era estranho. Sempre o vi como alguém que fosse um lobo em pele de cordeiro.

 Um monstro. 

- Não consigo dormir, você não comprou meu remédio. - olhou com raiva para ele. 

- Faz quanto tempo isso? - perguntei, inquieto. 

- Desde o assassinato. - levou as mãos aos cabelos loiros. - Não consigo tirar aquela cena da cabeça. 

- Você dormiu o caminho todo no carro. - murmurou.

Olhei-o com receio, ele era insensível. 

- Eu não consigo dormir direito. - aveludou a voz em gracejo - Entendeu, ou quer que desenhe? 

- Se você não dorme direito, é porque tem alguém pensando em você...- estendeu as mãos - e não sou eu. 

Soltei um leve sorriso. 

Um grunhido veio do lado de fora nos interrompendo. A porta rangeu e Muffy entrou com o pequeno tufo arrebitado. Seus olhos penetraram os de Debby, miando de forma agradável e simpática.

O completo oposto de seu tutor. 

...



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