Capítulo 9| Corpo.

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22 de fevereiro | quarta-feira. 

Saímos do carro com pressa. 

A chuva caía bruscamente sobre meus ombros, molhando meu corpo por inteiro. Yuki me emprestou um de seus casacos de couro, que possivelmente não era dela. Com a pá nas mãos, descemos a rua atrás de um posto de gasolina abandonado, onde o beco se estendia até um cemitério. 

Um declínio. 

Em plena luz do meio dia, lá estávamos nós. Prestes a enterrar o corpo que se degradava no fundo dos portões do estabelecimento. Não era o que pensava para início de conversa, não era o que ninguém esperava, mas quem poderia imaginar que tamanha crueldade viria de minha pessoa? 

Ninguém. Ninguém pensou nisso, nem mesmo eu. 

- Devemos voltar antes das duas da tarde. - mencionei. 

- Pretende participar do leilão? - apoiou o corpo na pá cravada ao chão. 

- Eu não tenho escolha. - comecei a cavar a terra molhada. - Aliás, preciso ir ao médico hoje. 

Ficou quieta por uns minutos, parecia que alguém tinha morrido naquele momento. Seu rosto parecia repugnar algo, e sabia exatamente o que era. 

Olhei-a com curiosidade, e cuidadosamente, escolhi as melhores palavras a serem ditas a alguém. 

- Eu te amo. - sussurrei. - E nada, nem mesmo um bebê, poderá nos separar. 

Sorriu tímida, mas com receio de dizer algo. 

- Enquanto o Sam? Vai fugir para sempre dele?  

Abaixei o olhar, nervosa em ouvir seu nome. Faz um mês desde sua última aparição, e não foi de nada agradável. Sam me encontraria não importa onde eu fosse, ainda mais agora que sabe que estou supostamente casada. 

- Vamos deixar a cidade. - falei excitada. - Vamos abandonar tudo assim que terminar com o Thomas. 

Sorriu de canto, com um brilho apaixonado nos olhos castanhos que tanto amo. Se aproximou, curiosa. 

- E para onde iriamos, Debby? Não temos nada além disso. - apontou para o cadáver. 

- James está morto - conclui- Vamos assim que tudo terminar. 

- Enquanto o Fernando? - franziu o cenho. 

Fernando...droga. 

Jamais deixaria minha partida acontecer. Ainda mais depois do nosso acordo. Não posso sair do país antes do bebê nascer. Estou presa a esse inferno com um demônio. 

- O bebê, preciso ter o bebê. - apoiei as mãos em seu ombros. - Vai dar tudo certo, amor. 

...

- Estou meio confusa em relação a tudo isso. 

Continuava sem dizer uma palavra, fumando seu cigarro. Me olhava com carinho, mas assustadoramente agressivo. Eu o amava como um irmão, apesar de ter ameaçado o meu próprio em morte. 

- Você não precisa pensar em nada. - tentou me tranquilizar. - Eu mesmo já o fiz antes. 

- Eu não posso perder esse bebê. Se não, terei que fugir de dois homens. 

- Débora...- colocou whisk em um copo. - Estamos falando de muito dinheiro. Tanto que me faria ficar rico por seis ou dez gerações. 

Comecei a me questionar sobre tudo aquilo. Era realmente necessário fazer tudo aquilo? Seduzir outro homem não estava na minha lista de afazeres. 

- Não vou transar com outra pessoa por você! - berrei. 

- Você é uma sedutora profissional, por isso te contratei. - tomou um gole. - Faça seu trabalho. 

Juntei as sobrancelhas. 

- Como assim? Não somos sócios? 

- Eu te protejo do loiro oxigenado, você executa coisas em meu nome. - concluiu sensato. - Somos muito mais que sócios. 

Escorregou os olhos pelo meu busto, observando meu vestido branco apertando. Nele, descansava um colar que me dera de presente. Um belo presente. 

- Olhe para seu pescoço. O que vê? - ergueu uma sobrancelha. 

- Vou leiloar esse colar hoje. Não me aborreça. 

- Débora, seduza e mate Aaron. Só isso que lhe peço. - se aproximou de mim. 

- Por que? - fiz uma careta nada agradável em surpresa. 

- Ele fez um boletim de ocorrência, poderia ter colocado nosso trabalho no ralo. - apertou o maxilar. 

- Eu não posso fazer isso!- gritei - Não posso transar com ele! 

Olhou-me com toda a fúria que um homem poderia conter em si mesmo. 

- Você deve fazer isso, caso queira sua parte o trato. - suspirou. - Ele a quer, tenho certeza disso. E você também o deseja. 

Como pode dispuser tal coisa?! Porra! 

- Vou fazê-lo ficar quieto. Satisfeito? 

- Ótimo. 

Eu vou matar Aaron Salvatore a mando de alguém que amo. 

E ninguém irá saber de tal feito. 

Não por mim.

...


 

 



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