22 de fevereiro | quarta-feira.
Saímos do carro com pressa.
A chuva caía bruscamente sobre meus ombros, molhando meu corpo por inteiro. Yuki me emprestou um de seus casacos de couro, que possivelmente não era dela. Com a pá nas mãos, descemos a rua atrás de um posto de gasolina abandonado, onde o beco se estendia até um cemitério.
Um declínio.
Em plena luz do meio dia, lá estávamos nós. Prestes a enterrar o corpo que se degradava no fundo dos portões do estabelecimento. Não era o que pensava para início de conversa, não era o que ninguém esperava, mas quem poderia imaginar que tamanha crueldade viria de minha pessoa?
Ninguém. Ninguém pensou nisso, nem mesmo eu.
- Devemos voltar antes das duas da tarde. - mencionei.
- Pretende participar do leilão? - apoiou o corpo na pá cravada ao chão.
- Eu não tenho escolha. - comecei a cavar a terra molhada. - Aliás, preciso ir ao médico hoje.
Ficou quieta por uns minutos, parecia que alguém tinha morrido naquele momento. Seu rosto parecia repugnar algo, e sabia exatamente o que era.
Olhei-a com curiosidade, e cuidadosamente, escolhi as melhores palavras a serem ditas a alguém.
- Eu te amo. - sussurrei. - E nada, nem mesmo um bebê, poderá nos separar.
Sorriu tímida, mas com receio de dizer algo.
- Enquanto o Sam? Vai fugir para sempre dele?
Abaixei o olhar, nervosa em ouvir seu nome. Faz um mês desde sua última aparição, e não foi de nada agradável. Sam me encontraria não importa onde eu fosse, ainda mais agora que sabe que estou supostamente casada.
- Vamos deixar a cidade. - falei excitada. - Vamos abandonar tudo assim que terminar com o Thomas.
Sorriu de canto, com um brilho apaixonado nos olhos castanhos que tanto amo. Se aproximou, curiosa.
- E para onde iriamos, Debby? Não temos nada além disso. - apontou para o cadáver.
- James está morto - conclui- Vamos assim que tudo terminar.
- Enquanto o Fernando? - franziu o cenho.
Fernando...droga.
Jamais deixaria minha partida acontecer. Ainda mais depois do nosso acordo. Não posso sair do país antes do bebê nascer. Estou presa a esse inferno com um demônio.
- O bebê, preciso ter o bebê. - apoiei as mãos em seu ombros. - Vai dar tudo certo, amor.
...
- Estou meio confusa em relação a tudo isso.
Continuava sem dizer uma palavra, fumando seu cigarro. Me olhava com carinho, mas assustadoramente agressivo. Eu o amava como um irmão, apesar de ter ameaçado o meu próprio em morte.
- Você não precisa pensar em nada. - tentou me tranquilizar. - Eu mesmo já o fiz antes.
- Eu não posso perder esse bebê. Se não, terei que fugir de dois homens.
- Débora...- colocou whisk em um copo. - Estamos falando de muito dinheiro. Tanto que me faria ficar rico por seis ou dez gerações.
Comecei a me questionar sobre tudo aquilo. Era realmente necessário fazer tudo aquilo? Seduzir outro homem não estava na minha lista de afazeres.
- Não vou transar com outra pessoa por você! - berrei.
- Você é uma sedutora profissional, por isso te contratei. - tomou um gole. - Faça seu trabalho.
Juntei as sobrancelhas.
- Como assim? Não somos sócios?
- Eu te protejo do loiro oxigenado, você executa coisas em meu nome. - concluiu sensato. - Somos muito mais que sócios.
Escorregou os olhos pelo meu busto, observando meu vestido branco apertando. Nele, descansava um colar que me dera de presente. Um belo presente.
- Olhe para seu pescoço. O que vê? - ergueu uma sobrancelha.
- Vou leiloar esse colar hoje. Não me aborreça.
- Débora, seduza e mate Aaron. Só isso que lhe peço. - se aproximou de mim.
- Por que? - fiz uma careta nada agradável em surpresa.
- Ele fez um boletim de ocorrência, poderia ter colocado nosso trabalho no ralo. - apertou o maxilar.
- Eu não posso fazer isso!- gritei - Não posso transar com ele!
Olhou-me com toda a fúria que um homem poderia conter em si mesmo.
- Você deve fazer isso, caso queira sua parte o trato. - suspirou. - Ele a quer, tenho certeza disso. E você também o deseja.
Como pode dispuser tal coisa?! Porra!
- Vou fazê-lo ficar quieto. Satisfeito?
- Ótimo.
Eu vou matar Aaron Salvatore a mando de alguém que amo.
E ninguém irá saber de tal feito.
Não por mim.
...
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Skyfall
FanfictionJessica nunca viveu uma vida normal. Seu pai sempre a destratou e escondeu segredos da família, criando um ambiente cheio de desconfiança. Quando Jess descobre uma pista intrigante sobre o passado de seu pai, sua curiosidade a leva a investigar. À m...