Eu o deixei ir

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P.O.V

ANDREW


O dia amanhecia lentamente ao lado de fora, a brisa da manhã entrava pela janela entreaberta do quarto e eu observava as nuvens dançarem entre si em um céu ainda escuro demais.

Segui Kevin no Exy depois que sai das raposas. Eu perdi qualquer força para lutar por algo, por querer ou não querer alguma coisa. Não vi mais motivos para discutir ou falar mais que duas palavras por dia. Eu não permiti que mais ninguém entrasse em minha vida e nem se aproximasse mais.

Escolhi um prédio alto para alugar depois que me formei, é eu sei que tenho medo de altura, penso nisso todos os dias quando insisto em olhar para baixo.

Eu preciso olhar para baixo.

Escolhi a altura como válvula de escape, assim como o álcool, o cigarro e os doces, coisas para me fazer sentir algo, qualquer coisa que seja.

Um dia eu tive alguém que me fez sentir, mas faz muito tempo...

Eu não o esqueci, eu nunca esqueço, mas ele não está mais aqui. Não, ele não morreu. Eu que o deixei ir naquele dia.

Eu ainda lembro dele toda vez que ascendo um cigarro e toda vez penso em apenas largar o maldito vício e tentar esquecê-lo... Mas alguém como eu nunca esquece, não importa o que eu faça... Eu já tentei.

Quando o céu azul cintilante sorri para mim em dias bonitos, me lembra da cor dos olhos dele, tão intensos e tão reais para mim... Tão verdadeiros mesmo em meio a tantas mentiras.

Toda vez que sinto a brisa bater em meu rosto no alto desse prédio, lembro de nós dois sozinhos no alto da torre das raposas.

Tudo me lembra ele. E eu odeio sentir falta. Odeio guardar tantas feridas e tantas mágoas que me fizeram deixá-lo.

Eu disse que o protegeria e eu estava disposto a entregar minha vida por ele, não importa quem fosse e ele sabia. Ele sabia e mesmo assim jurou, ele sabia que não voltaria mais, ele sabia o que e quem estava atrás dele e jurou olhando no fundo dos meus olhos e mesmo assim ele quebrou essa promessa.

Eu não suportei vê-lo, não suportei encará-lo no chão todo quebrado, remendado, me olhando com um pedido de desculpas nos malditos olhos marejados e maltratados.

Devia ser eu ali naquele piso gelado, afinal eu devia, teria e queria protegê-lo... Mas ele sempre foi um maldito mártir.

Eu deixei que ele fosse embora, deixei que ele sumisse, deixei que toda a luz e esperança que tivessem dentro de mim fossem junto com ele.

Ele era tudo pra mim, mesmo em pouco tempo, ele foi tudo que um dia eu poderia querer, que um dia eu pude merecer.

Eu o deixei ir.

Eu não devia, mas deixei.

Eu o vi ir embora e permiti que fosse sem dizer nada. Acompanhei seus olhos nos meus até que ele estivesse trancado no carro dos agentes, até estar longe demais para me arrepender. Até ser tarde demais.

Eu voltei a ser sozinho, voltei a ser o que eu era antes de tudo... Não, eu não tinha como voltar, não depois que alguém como... Alguém como Neil passa por nossas vidas.

Ainda dói quando lembro seu nome.

Lembro todos os dias.

Antes eu não tinha nada e eu me contentava com isso, aceitava que era isso que eu merecia e era isso que eu teria para todo o resto de minha pequena eternidade e foi então que eu conheci Neil.

Neil Abram Josten.

Ele chegou como um furacão, um caos tão bonito e me fez ter tudo, me fez ser digno de algo, merecer algo, querer algo, querer alguém, querer ele... Me fez amar e ser amado. Mesmo que nenhum de nós soubesse o que é isso.

Então... Como eu poderia voltar a ser o que eu era antes? Se antes eu não tinha nada e depois eu tinha tudo e perdi.

A resposta é simples, não podia.

Eu me tornei apenas uma casca vazia, ou pior, uma fina casca sem vida. E desde então não consigo passar um dia sem pensar nele e me arrepender pela primeira vez na vida da maldita decisão que tomei. Dos malditos traumas que carrego comigo.

E então toda vez que a noite chega e o sono não vem, eu o desejo ainda mais, desejo que ele volte, desejo que o tempo volte atrás.

Queria mais de seus toques, mais de seus olhares intensos que me faziam desviar o olhar, dos sorrisos, risadas, momentos, queria mais dele.

E todas essas vezes eu sinto meus dedos tremerem ao redor do celular, se eu soubesse seu número eu ligaria. Se eu soubesse algo sobre ele agora, talvez eu realmente corresse ao seu encontro, porque eu não tenho nada a perder.

Perdi tudo quando perdi Neil.

Eu sei que a culpa é toda minha, eu devia tê-lo feito ficar. Devia ter lutado, implorando com todas as minhas forças.

Mas eu já havia gastado todas as minhas forças antes. Eu nunca fui equilibrado, eu sempre fui quebrado, problemático, não suportei mais uma promessa quebrada, mais uma confiança quebrada.

Não tinha forças para lutar com ele.

Para lutar por ele.

Eu o perdi e a culpa é minha.

O sol finalmente toma conta do céu por inteiro e eu o observo, como em todas as manhãs, laranja como seus cabelos e mais uma vez eu me pego pensando nele, pelas coisas mais triviais de um dia tão comum quanto qualquer outro.

Quando ele se foi, uma parte minha foi junto.

Não queria mais promessas, não queria mais desejos, mais quereres, não queria mais nada. Eu só continuo com minha frágil existência por não ter forças para acabar com tudo ou talvez eu ainda tenha a pequena e avassaladora esperança de que um dia eu possa reencontrá-lo uma última vez. 

A noite - AndreilOnde histórias criam vida. Descubra agora