A noite - Andreil

Me desculpa

Nicky o encarou com curiosidade, mas seus olhos são vagos o suficiente para realmente saber quem ele é, Aaron apenas arqueou a sobrancelha, mas Andrew, como foi doloroso encará-lo e sentir o medo correr por todo seu corpo e sentir todo aquele sentimento voltar com tudo. Não, agora não, aqui não, isso não pode acontecer Neil pensou. Andrew o olhou com um brilho estranho, os cantos de seus lábios ameaçaram se curvar.

– Oh, erro meu, desculpe – O ruivo sorriu suavizando a expressão raivosa e está pronto para virar-se e voltar para seu lugar.

– O senhor é o dono desse lugar? – Nicky perguntou e parecia despretensioso, mas ainda sim passar mais tempo ali parecia muito perigoso.

– Sou sim – Uma das mãos estava apoiada no batente da porta, uma parte dele queria apenas ir embora dali e evitar tudo aquilo, mas ele sentia tanta saudade.

– Um ótimo lugar, lembro de vir aqui uns bons anos atrás e era tão deprimente, com todo respeito – Nicky disse sorrindo, puxando o assunto com naturalidade como sempre.

– Obrigado, realmente seu Pietro não ligava muito para a estética e essas coisas, mas era um querido – Por que você tá dando trela pra eles, Neil? Caralho que boca de sacola desgraçada! Pensou enquanto se martirizava por dentro.

Aaron já havia desaparecido junto de Pepe pelos corredores de doces e Andrew parecia ter se perdido de vista, menos mal.

– O senhor tem alguma recomendação de doces desses assim pra casamento? – Neil o encarou com incredulidade – É eu sei que é estranho, mas eu e meu noivo queríamos algo bem diferente e decidimos uma mesa repleta de doces – Ele sorria abertamente ao falar de Erick, Neil não chegou a conhecê-lo, mas esperava que as atitudes de Nicky tenham mudado e que fosse um casamento feliz – E é por isso que queríamos os doces mais vendidos ou os que as pessoas mais gostam – Neil poderia pedir para Gil fazer isso, mas aquela maldita guria havia sumido pelos corredores, ele devia ter saído dali quando teve chance.

– Ah sim, claro, temos muitas opções – Ele sorriu, fingindo que não estava morrendo por dentro – São alguns desses – Neil se direcionou até um lado das prateleiras apontando e falando sobre cada doce, tomando o cuidado para não deixar seu rosto muito amostra.

Pensou cada segundo que deveria matar seus melhores amigos e enterrá-los no jardim do apartamento.

Em algum momento Nicky havia se afastado, parecia conversar com Aaron sobre algumas opções, Neil agradeceu aos céus, pronto para voltar para sua salinha escondida e de preferência trancado até conseguir voltar a ser gente de novo, mas Andrew foi mais rápido, ele já estava parado ao seu lado o encarando.

– Ian, certo? – Ele perguntou, com a voz arrastada e até mesmo um pouco cansada, mas ainda sim reconfortante, depois de tanto tempo, tão doce... Neil se concentrou para não sorrir, para não demonstrar nada.

– Sim, por quê? – Respondeu com medo de que sua boca agisse antes que seu cérebro e ele falasse o que não deveria.

– Sinto que eu me lembro de você – Andrew falou e Neil sabia que ele não teria como esquecer, sua memória terrivelmente impecável, mas ele não podia... Ele não devia.

– Acho que você está se confundindo, senhor – Respondeu com um sorriso tímido e ele agradeceu mentalmente por ter cabelos longos que cobriam boa parte de seu rosto – Eu tenho certeza que me lembraria de alguém como você – E mais uma vez, sua boca de caçapa venceu e ele queria se esconder no buraco mais próximo, de preferência em uma cova.

– Talvez sua memória não seja boa – Ele provocou, disposto demais em um assunto e Neil sabia onde tudo aquilo acabaria.

– Talvez, me desculpe – Disse, quase mordendo a língua, ele precisava ir embora dali – Se o senhor me der licença, eu preciso voltar para minha sala – Neil sorriu de forma cordial e virou-se para voltar até sua sala, torcendo para que tudo acabasse, torcendo para que Andrew desistisse.