capítulo 4 Estágio é uma escravidão chic

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Tavares

Não sei como ninguém quer contratar estagiário hoje em dia. Recebe menos que meio salário mínimo e o esforço é sempre máximo. Nem quando eu procurava emprego na adolescência era tão difícil assim. Eu não queria ter que pedir ajuda a alguém.

Sempre quero vencer pelo meu próprio esforço, sem ajuda de quem não tem obrigação, tá ligado?

— Kauane, eu não vejo problema em você aceitar a proposta do seu primo. Menina, deixa de ser teimosa — minha avó fala enquanto tricota.

— Vó, sei que ele quer me ajudar, mas não quero ouvir que só estou lá por ser prima dele. Relaxa, coroa. Já já eu arrumo algum — falo querendo encerrar a conversa. Hoje não tenho aula de manhã e tirei o luxo de acordar mais tarde para passar a manhã com Dona Rosa enquanto ela tricotava.

— Kauane, então tá bom, mas não vou dizer pra ele que você não quer, minha filha. Pensa melhor, ok? Não tem como você ir naquela cafeteria que te falei não, meu bem? — ela fala já tirando os óculos e sorrindo.

— Dona Rosa, eu não sei o que faço com a senhora. Vamos logo, hoje não tem como fugir — falo subindo para trocar de roupa. Querendo ou não, não posso chegar lá feia. Vai que a menina é bonita mesmo.

Depois de trocar de roupa, coloquei uma calça cargo bege clara, uma camisa verde larga e uma correntinha prata básica. Decidi que depois da cafeteria iria direto para a faculdade e, já que hoje é sexta, é dia de farra.

— Pra quem não queria ir, hein? Tô sentindo o perfume daqui, minha filha — minha vó diz.

— Bem capaz mesmo, viu? Hoje a mãe tá procurando problema — falo rindo.

— Aí, Kauane, para de falar igual aqueles meninos sem rumo. Tenta ser normal na frente da menina, viu? Ela é diferente dessas que você traz aqui e somem antes do café.

Ah, se ela soubesse quantas vezes pulei a janela de casa de ficante, certeza que me deserdava.

— Tá bom, tá bom, Dona Rosa. Vamos logo que ainda tenho faculdade hoje — falo abrindo a porta.

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Viado, o lugar é lindo. Não era minha cara, cheio de flor e cheirando a café passado na hora, mas as coisas lá pareciam ter outro ar.

— Nem precisa falar nada, pela sua cara já vi que tava certa — minha vó fala procurando alguém. — Oi, Samu, bom dia. Onde está a Lua?

— Ah, Dona Rosa, bom dia. A Lua não está agora — um garoto moreno fala enxugando xícaras no balcão.

— É uma pena, Samu. Me vê dois cafés, do jeitinho que gosto. Trouxe minha neta comigo — eu e ela sentamos próximas ao balcão. Eu aceno com a cabeça para o garoto.

— É uma pena a Lua não estar, Kauane. Mas pelo menos você prova o café. É mágico.

— Que tipo de nome é Lua? Acha que é filha da Viih Tube? — falo fazendo graça.

— Aí, Kauane, cresce. É só apelido de Luana. Vou perguntar ao Samuel o motivo dela não estar — a véia diz me dando uma cotovelada. — Muito obrigada, Samu. Por que a Lua não pôde vir hoje?

— Ah, Dona Rosa, a Lua tá atarefada com faculdade. Ela vem à tarde, se a senhora quiser vê-la.

— Só vim hoje para ver se conseguia apresentar Kauane a ela — MINHA VÓ SIMPLESMENTE PISCOU, VIADO.

— Tá de operação cupido agora, Dona Rosa?

— Ela tá é em operação iludida, Samuel. Já tentei mudar a cabeça dela, mas a véia é firme — falo tentando esfriar o café.

— Véia é a porra do seu avô, me respeita, garota — ela diz enquanto Samuel se afasta para atender outro cliente.

Duas coisas boas desse "mini encontro": o café realmente é mágico, (não sei se eles usam uma erva da boa nele) e o girassol que comprei para minha vó na hora de sair.

Independente de chás ou flores, hoje é sexta e é noite de cachorrada. Por isso nem fiz questão de chegar na hora na aula.
Principalmente para ver uma velha que parecia querer me comer toda vez que me via, vulgo minha professora.

— Tá achando que a vida é um morango, Tavarez? Quase perdia a chamada da véia — Yasmin, como sempre, um doce.

— Fica suave, tá bom? Não tô aqui? Hoje vamos pra onde depois?

— O que te faz pensar que eu sei? — Por que alguém iria com uma saia de paetê preta brilhante e um cropped tomara que caia pra faculdade? Pra ir farrear depois, né?

— Para de cao, Yasmin. Diz logo porque a gente vê quem racha o Uber com a gente.

— Nem vai precisar, Japa tá de carro. Vai levar a gente tudinho.

— A gente tudinho você quer dizer com quem?

— Você não tá sabendo? A Júlia pediu carona também. Vai eu, você, o Japa e o Alex com ela. — Era só o que faltava. Não que eu não gostasse da Júlia, mas ela era grudenta e ciumenta pra cacete. Só consigo curtir o rolê depois de dar um fora nela.

— Ah, tô de boa, já é então — quero logo encerrar o assunto "Júlia".

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Né que a Júlia foi mesmo? Nem acreditei quando vi Alex abrindo a porta pra ela.

— Iae, Tavarez? Tá sumida, pô. Nunca mais te vi por essas bandas — a mina disse isso enquanto me olhava de cima a baixo. Parecia mais que eu era um pedaço de carne e ela era gaúcha.

— Tô ligada. Tô tentando focar no começo do período. Mas depois tô por aí de novo.

— Ah, entendi. Tava com saudades já, nunca mais você me procurou. — MEU DEUS, DESGRUDA SATANÁS, TÁ AMARRADO. — Se quiser, pode ir comigo pra casa hoje.

— Foi mal aí, tô de copiloto hoje, pô. — Era mentira? Não completamente, mas hoje eu queria pegar geral sem me preocupar com a Júlia no meu pé. De qualquer forma, eu já tinha falado com o Japa que hoje quem trazia todo mundo de volta era eu. Por isso mesmo não vou beber muito. Então, a noite vai ser longa.

Notas da autora: gente eu encurtei mais esse capítulo após corrigi-lo, achei bem melhor assim, porém aceitando opiniões sobre.

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