capítulo 2 Se não fosse tão lerda

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Tavares

Eu não acredito que em pleno café da manhã vou ter que ficar ouvindo isso.

— Minha filha, eu quero teu bem. A nova vizinha, neta da Sandra, é linda e da idade de vocês. Já, já eu vou embora e você e seu irmão não têm ninguém.

— Ih, veinha, relaxa aí, viu? Eu não fico só nunca, opção não falta pro pai. Quem tá encalhada aí é a Tavarez, vó — Alexandre fala com um pão na boca enquanto abraça nossa avó.

Por mais que ela diga que ama os dois iguais, eu sei que ela tem mais carinho por ele. Um fato é que depois da morte dos nossos pais, o Alex foi o que mais se abalou. Repetiu o primeiro ano do ensino médio e justamente por isso foi melhor vir morar com minha avó em Brasília. Ele ainda se atrasou pra passar na faculdade. Hoje ele é calouro enquanto eu sou veterana, mesmo sendo mais nova.

— Alex, coma antes de falar, meu filho. Vai acabar engasgando, caralho — na hora eu soltei uma gargalhada sincera.

— Aí, vó, não escuta esse loucão aí não. Eu tô muito bem sozinha, ok dona Rosa? Não precisa ficar achando namorada pra mim, não, vó — falei já terminando de comer e levantando pra pegar a mochila.

— Tá bom, minha filha, se você tá dizendo, né? Mas não vou desistir, não. Você e seu irmão têm que sair dessa vida de farra. Tenho certeza que vou encontrar duas moças pra vocês, bonitas e direitas — dei um beijo na bochecha dela sabendo que não iria adiantar falar nada. Querendo ou não, eu gosto da minha vida de solteira, das farras de final de semana. Não nasci pra relacionamento, não. Sempre fui bicho solto, gosto das minhas farras. Tô ainda no início da faculdade de arquitetura e só eu sei o quanto foi difícil chegar até aqui.

Puta que pariu, já não bastando essa conversa no café, eu só lembrei do caralho do trabalho do professor já no ônibus lotado. Yasmin vai tirar meu fígado. Pra completar, uma louca lesada pra cacete ainda fez o favor de quase me levar junto enquanto corria. Essa calourada é sempre um cu no início de semestre.

— Garota, você tá por acaso me ouvindo? — Yasmin pergunta me cutucando com aquela agulha que chama de unha. Sério, gente, como alguém consegue deixar uma coisa assim na mão? Papo reto, eu, quando tô ansiosa, como as minhas tudinho e nem grandes elas são.

— Aí, Yasmin, se tu tiver falando, novamente, que acha o professor pau no cu, eu já disse que não posso fazer nada se a mulher dele não dá um chá bem dado, beleza?

A piveta tira pelo menos dez minutos da manhã só pra enfatizar o quanto não suporta esse velho.

— Cala a boca que nem disso eu tava falando. Disse que o trabalho não vai ter que entregar hoje porque o professor faltou. Ele mandou a Pâmela avisar no grupo — ela fala lixando as garras.

— No meio de tanto aluno, ele vai pedir logo pra ela avisar? Sei nem como a informação realmente chegou.— Papo reto, a Pâmela é a maior pau no cu da nossa turma. O que ela conseguir fazer pra manchar você para professor, ela tá fazendo.

— Eu já disse que ela provavelmente dá pra ele, viada. Aquela ali vive vindo de decote quando é dia de aula dele — o legal de fofocar com a Yasmin é que ela simplesmente não tem vergonha ou medo de apanhar, porque enquanto ela fala isso, ela ainda vira a garra indicadora dela pra menina.

— Yasmin, caralho, será que tu não sabe falar sem apontar, não? Lesa igual calouro.

— Aí, por que todo esse mau humor de manhã, hein? Foi bem a mina que esbarrou contigo, né? Você bem queria que ela te levasse.

— Aí, cala essa boca, vai. Presta atenção no calvo porque já, já ele tá mandando você sair.

Falei e no final não adiantou nada. Antes mesmo de acabar a aula dele, ela pergunta se eu quero ir pro boteco de frente à universidade no final do dia. Eu deveria dizer o quê? “Ainda é segunda, filha da puta, dá pra aquietar seu fogo, não?” Porém, o que saiu foi:

Entre Flores | SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora