Capítulo 9 "poderia ser pior"

12 2 29
                                    

Luana

Eu fugi. Foi exatamente isso que aconteceu: dormi nas costas de uma completa desconhecida, acordei sem saber nem que bairro era, tive que quase derrubar o portão da Tavares pra ir embora e ainda tive que ir na frente do ônibus porque não tinha dinheiro pra passar a catraca. Mas poderia ser pior.

— Seu chefe te ligou, na verdade, ele ligou pro telefone daqui de casa. — É, ficou pior, esqueci completamente que tinha prometido ao Rodrigo que ia ficar hoje de manhã na loja. Merda, merda, merda! Luana, como você consegue ser tão tapada assim?

Eu tinha chegado em casa há menos de dez minutos. Letícia manteve a palavra e não bebeu nada a madrugada toda, o que significa que a única ressacada da casa sou eu.

— Você atendeu? Puta merda, eu tinha esquecido completamente que tinha que abrir a loja hoje. — Já vou correndo pro meu quarto, procuro uma roupa mais adequada. Aliás, roubei uma das camisas da "estranha", não poderia sair com um micro cropped vomitado às seis da manhã, né? Valei-me.

— Lua, fica calma, ainda são sete e meia. Você pelo menos vai me dizer onde esteve a madrugada inteira? A Alissa tava tão bêbada que nem me explicou direito, só disse que você trocou a gente por uma mulher. — Ok, eu nem lembro de ter falado com a Alissa ontem depois de vomitar.

— Certo, eu tenho até as dez pra te explicar tudo e me arrumar. Pode preparar um café forte enquanto eu corro pra tomar um banho? Prometo que conto tudo pra você depois. — Falo já me afastando direto pro banheiro, escuto ela murmurar todo tipo de xingamento possível.

Tento tomar um banho rápido só pra tirar o resto do sono e a cara de ressaca, o que não adiantou muito, mas tomei um remédio pra dor e maquiei minha cara pra tentar disfarçar mais.

— Pronto, dona Lua, agora pode me dizer que merda você fez a madrugada toda? — Letícia entra no meu quarto com uma bandeja de café preto e pão com ovo, tudo o que eu precisava agora.

— Não lembro de termos comprado ovo. — Pego o café e levo à boca. Sério, como o café dela é melhor que o meu? Eu trabalho literalmente em uma cafeteria. Letícia me olha com uma sobrancelha levantada.

— Bom, um dos amigos do ficante da Alissa ficou me fazendo companhia e me trouxe até em casa. Ele perguntou se eu queria comer alguma coisa antes, então eu disse pra gente passar no mercado. Aproveitei, ele ia pagar mesmo. — A olho abismada.

— Ah não, nem vem com essa tua cara. Sumiu a madrugada toda e eu voltei com o café.

— Certo, certo. Bom, eu... dormi na casa de uma menina. — Meu Deus, acho que nunca senti tanta vergonha, a não ser naquele dia no colégio, quando uma coordenadora pegou eu e uma menina do terceiro ano no banheiro feminino, na mesma cabine.

— ISSO EU JÁ SEI, agora eu quero os detalhes. Quem é ela? De onde a conheceu? Por que não avisou?

— Calma, primeiro para de andar pelo quarto, não quero que faça um buraco no chão. O nome dela, bom, pelo menos o sobrenome, é Tavares. Ela mora em um bairro meio fresco daqui, eu conheci ela lá mesmo. Ela acabou trombando em mim... — Conto a história quase toda, pelo menos as partes que lembro direito e que não acho que sejam ilusão da minha cabeça. Tipo, eu tenho certeza de que o fato de eu pensar que beijei o cangote dela tá errado, eu nunca faria isso, né?

— VOCÊ FUGIU??? Cara, você é muito burra! A mina provavelmente era o amor da sua vida e você fugiu dela. — Letícia se joga na cama enquanto ri da minha cara. Eu devo estar sem moral mesmo nesse momento.

— Você fala igual uma sapatão emocionada. Eu não achei o amor da minha vida em uma noite de bebedeira universitária, Letícia. — Falo já tendo terminado o café e escovando os dentes.

Entre Flores | SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora