【Capítulo 18】

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Havia já mais de uma semana que Alastor se encontrava instalado no palácio, e tudo parecia estar alinhado de maneira perfeita para ele. Dedicava-se a auxiliar Lúcifer com os dilemas do dia a dia, compartilhavam momentos de lazer juntos, e numa dessas ocasiões, visitaram Rosie. Para surpresa de todos, um evento inesperado se desdobrou: Lúcifer e Rosie se entenderam harmoniosamente, algo que parecia quase um milagre.

Apesar das aparências serenas e dos dias preenchidos por agradáveis companhias e atividades, Alastor sentia-se inquieto. Uma sensação sutil, mas persistente, de que algo estava fora de lugar o acompanhava. Não era a presença de Lúcifer ou Rosie ao seu lado durante mais um passeio após uma longa sequência de tarefas e compromissos. A estranheza era mais profunda, mais pessoal.

Em um momento de reflexão, Alastor se pegou observando um pedaço de carne em sua mão. Curiosamente, ele não sentia o desejo habitual de consumi-la. Seu apetite parecia ter desaparecido, assim como a familiaridade do dia a dia.

Seria a ausência das chamadas de Charlie, que haviam cessado inexplicavelmente? Era costumeiro que Charlie lhe telefonasse para compartilhar detalhes de seu dia, desabafar sobre dificuldades ou buscar conselhos para suas incessantes tentativas de solucionar problemas. A falta desse contato era uma alteração significativa na rotina de Alastor, deixando um vazio que ele não conseguia ignorar.

Além disso, a recente mudança de Husk e Angel Dust para o prédio dos Vee's, adaptando-o aos seus gostos pessoais, era outra mudança no cenário habitual que Alastor ainda estava tentando processar. E, talvez mais perturbador ainda, era o comportamento de Niffty, que havia parado de aprontar suas usuais travessuras, e cuja presença se tornara estranhamente escassa e distante.

Todos esses elementos compunham um mosaico de mudanças que Alastor não podia simplesmente ignorar. Sua intuição lhe dizia claramente que algo estava errado. Embora não pudesse identificar exatamente o que era, a sensação era inegável e desconfortável. Algo não estava bem, e essa percepção estava longe de ser algo trivial. A inquietação crescia dentro dele, uma sombra fria que contrastava com a fachada perfeita do palácio e a alegria aparente dos que o cercavam.

Enquanto Alastor contemplava esses pensamentos, a noite caía ao redor da cidade canibal, trazendo consigo uma quietude que apenas intensificava sua reflexão.

Era essencial entender essa dissonância emocional, por mais sutil que parecesse. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria enfrentar o que quer que estivesse perturbando a harmonia de sua existência.

Enquanto a noite se adensava ao redor do estabelecimento de Rosie, Lúcifer percebeu a inquietude palpável de Alastor, que se mantinha imóvel, absorto em seus pensamentos sombrios.

Rosie, por sua vez, havia se deslocado para atender um cliente, deixando um breve vácuo de silêncio entre os dois.

Aproveitando o momento, Lúcifer aproximou-se de Alastor, sua expressão suavizada por um sorriso terno. Com um toque delicado na mão de Alastor, ele indagou com uma voz cheia de preocupação: "Al... Você está bem, amor?"

Alastor suspirou profundamente, suas orelhas abaixando um tanto, um sinal claro de seu desânimo.

Era impossível esconder qualquer coisa de Lúcifer, um ser tão perspicaz. "Eu... Só... Um sentimento estranho," começou Alastor, sua voz um sussurro quase inaudível. "Como se algo ruim fosse acontecer. Minha sombra não atende ao meu chamado e me sinto mais... Fraco no quesito de poder..." Ao confessar isso, o habitual sorriso de Alastor falhou em mascarar o desconforto que turvava seu semblante, e ele baixou a cabeça em desalento.

Com um gesto suave, Lúcifer ergueu o rosto de Alastor, encarando-o com uma expressão ainda mais ternamente. "Al, saiba que nada neste inferno ou céu vai—" Antes que pudesse terminar, o som insistente de um celular cortou o ar, obrigando Lúcifer a pedir licença com um gesto de mão antes de se afastar um pouco para atender a chamada.

Cumplicidade 【Appleradio】Onde histórias criam vida. Descubra agora