🍁CAPÍTULO 08🍁

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🍁Jonas

Alguns meses se passaram desde que a coragem me levou a denunciar meu pai como um predador sexual. A repercussão foi avassaladora. As manchetes em todos os jornais ecoavam escândalos que abalavam as fundações das igrejas evangélicas na Alemanha. As ruas se encheram de pessoas clamando por justiça, famílias se unindo para denunciar pastores que, como meu pai, tinham se escondido atrás de um manto de autoridade e respeito. Eu sentia uma paz interior, uma certeza de que, mesmo em meio ao caos, minha fé e coragem haviam contribuído para que outros também tivessem a chance de se libertar.

Foi necessário que eu deixasse a casa que um dia foi meu lar para encontrar a força de enfrentar meu algoz. A cada dia, percebia que estava ajudando a ressurgir o cheiro de justiça sobre um povo que, por tanto tempo, havia se perdido em erros e hipocrisias. Enquanto assistia à televisão, não pude deixar de notar a queda vertiginosa nas pesquisas do candidato à presidência, um extremista de direita que sempre se posicionou contra os ômegas. A ideia de que ele poderia assumir o poder e causar mais dor e sofrimento me aterrorizava. Mas agora, em seu lugar, surgia uma mulher ômega, uma física brilhante chamada Merkel. Com ela, eu finalmente via uma luz no fim do túnel.

Estava em meu novo apartamento, um espaço que eu conseguira alugar com o que sobrou da minha herança. O lugar era pequeno, mas tinha uma vista maravilhosa da capital, e já estava mobiliado. Consegui um emprego na Starbucks do centro, onde trabalhava apenas de manhã. O salário era bom, e eu finalmente tinha meu próprio dinheiro, o que me dava uma sensação de dignidade que eu nunca havia experimentado antes. A liberdade de ser eu mesmo, de viver sem medo, era uma nova realidade.

Após um lanche rápido, peguei minha mochila e verifiquei se tudo estava em ordem. Hoje, teria que fazer hora extra para cobrir um colega que estava de licença maternidade. Com um suspiro, saí do apartamento e cumprimentei o porteiro, um homem gentil que sempre me sorria. Apreciava o caminho até o trabalho, especialmente de bicicleta. O vento nos cabelos me fazia sentir vivo, como se estivesse deixando para trás todo o peso do passado.

Chegando à Starbucks, troquei de uniforme e fui direto para o salão. Meu primeiro pedido foi do Senhor James, um cliente regular que sempre me tratava com respeito. Enquanto eu servia as mesas, notei um rapaz sério na mesa oito. Ele estava cercado por livros, apostilas e um notebook. Quando me aproximei, a conexão foi instantânea. Seus olhos castanhos, quase dourados, me prenderam. Sua pele bronzeada e corpo atlético davam a impressão de que ele era um modelo que havia saído de uma revista de surfistas.

— Boa tarde, aqui está o seu pedido — disse, tentando manter a compostura.

— Obrigado — ele respondeu, com um sorriso tímido que fez meu coração acelerar. Havia algo nele que me atraía, uma energia que eu não conseguia ignorar. Enquanto atendia as outras mesas, percebi que ele me observava. Quando nossos olhares se cruzavam, ele apenas sorria e voltava a se concentrar em seus livros.

A tarde passou rapidamente, mas quando voltei ao salão, a mesa oito estava vazia. Um pouco desapontado, fui até o banheiro para me refrescar. Depois de um banho quente, senti uma queimação estranha na pele, mas não consegui identificar a causa. Vesti minhas roupas e saí do estabelecimento, pegando minha bicicleta para voltar para casa.

O caminho parecia tranquilo, até que decidi pegar um atalho por uma avenida menos movimentada. Foi então que percebi algo nas sombras, algo grande e veloz. Antes que eu pudesse reagir, ouvi o canto agudo de pneus no asfalto. Um carro me atingiu em cheio, fazendo-me cair e me machucar gravemente. O impacto foi brutal.

O carro que me atingiu seguiu em frente, mas logo percebi que ele voltava, acelerando em minha direção. Quando olhei para o volante, meu coração parou: era meu pai. O terror tomou conta de mim, e fechei os olhos, esperando pelo impacto final. Mas então, um outro carro, um Porsche preto, colidiu de frente com o dele. A cena se desenrolou em câmera lenta, e o que restou foi uma confusão de fumaça e gritos.

Antes de perder a consciência, juro que escutei a mesma voz do homem da mesa oito, ecoando na confusão. O que ele estava fazendo ali? O que isso significava para mim?

Continua... 

JONAS, O FILHO DO PASTOROnde histórias criam vida. Descubra agora