JONAS, O FILHO DO PASTOR

🍁CAPÍTULO 02🍁

🍁 Jonas - A Verdade à Luz do Dia

O som das palavras do reverendo ecoava pela igreja, reverberando na sala cheia de mil pessoas. Ele falava com uma autoridade que fazia cada sentença parecer uma condenação.

— O senhor condena todos os que estão fora da igreja. O inferno é o destino daqueles que desviam dos caminhos do Senhor Deus! — proclamava ele, a voz carregada de uma certeza ameaçadora.

— Aleluia! — gritou um dos seguidores, aplaudindo com fervor.

Eu me sentava na primeira fileira, o coração pesado com cada palavra. O reverendo, meu pai, mostrava ao mundo uma face de moralidade irrepreensível, mas por trás das portas fechadas, sua verdadeira natureza era outra. A fachada de um homem de Deus escondia um lado cruel e implacável.

Ele continuava, suas palavras cortando como lâminas afiadas.

— Os adúlteros têm um lugar reservado no inferno. Prostitutas, afeminados, promíscuos, aqueles que usam calças apertadas e saias curtas... todos têm um lugar reservado no fogo eterno!

Cada declaração era uma facada no meu coração. A imagem de Jesus Cristo no altar parecia observar-me com um olhar de reprovação, como se eu fosse um pecado encarnado.

— FALA DEUS! — gritou uma mulher ao meu lado, interrompendo meus pensamentos sombrios.

O culto se aproximava do fim, e eu me levantei com os outros membros da igreja para a oração final. Enquanto a congregação rezava, o reverendo fez um anúncio que gelou meu sangue.

— Quero apresentar, esta noite, um grande filho do Reino de Deus! Jonas será, a partir de hoje, o nosso líder de evangelismo dos jovens. Ele será responsável por essa área em nossa igreja! — anunciou ele, com um tom de orgulho que parecia mais uma ordem do que um reconhecimento.

Senti o peso da responsabilidade cair sobre mim. O senhor mais velho da igreja me perguntou:

— Quer falar alguma coisa, Jonas?

Eu acenei com a cabeça, nervoso. Era a primeira vez que falaria para uma plateia tão grande. Peguei o microfone, as mãos trêmulas, e respirei fundo. Meu medo era palpável, mas precisava dizer o que eu acreditava.

— Boa noite a todos. Gostaria de falar brevemente... — comecei, minha voz vacilante. No entanto, as palavras começaram a fluir, guiadas por uma verdade que não podia ignorar.

— A essência do Evangelho é o amor. A fé precisa operar pelo amor, o amor pelo qual Jesus Cristo viveu, curou, ouviu e amou todas as pessoas, até aquelas que nós mais rejeitamos... Esperem de mim, na frente desse cargo, nada mais do que o meu pai, que está nos céus, fez no seu tempo. Eu irei me encontrar com as prostitutas, com aqueles que têm AIDS, com os famintos, com os sedentos, os presos, os endemoninhados, os doentes, os oprimidos e rebeldes. Eu levarei a mensagem do amor de Jesus, que transcende a nossa religião. Deus é amor e não se limita a um templo de quatro paredes, mas reside no coração daqueles que o acolhem com fé.

Enquanto eu falava, observei as reações da plateia. A maioria dos mais velhos e idosos mantinha semblantes duros e desaprovadores. A verdade que eu expunha não encontrava eco nos corações rígidos ao meu redor.

— Sábias palavras, Jonas — disse o reverendo, praticamente me empurrando do palco. — Irmãos, teremos culto na próxima segunda-feira.

Saí de cena, meu espírito abatido. Sabia que os que buscavam ódio e condenação não estavam interessados na mensagem de amor e humanidade que eu havia compartilhado. A reação do meu pai em casa seria a de sempre: uma explosão de raiva e talvez violência, por não seguir a linha rígida de sua moralidade. Eu estava pronto para enfrentar o que viria. O preço da verdade sempre foi alto, mas eu estava disposto a pagar.

Continua...

Voltei depois de algum tempo, espero que gostem do capítulo atualizado!