🍁CAPÍTULO 06🍁

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🍁Jonas

Depois de alguns dias na casa dos meus amigos em Berlim, comecei a sentir que, talvez, pudesse realmente refazer minha vida. Passava horas traçando planos para o futuro, imaginando o primeiro passo: arranjar um emprego digno, algo que me permitisse ter um lugar para chamar de meu, dinheiro suficiente para comer e me sustentar com a dignidade que minha mãe sempre quis para mim. Sabia que Deus estaria ao meu lado, e com o nome da minha mãe, esperava que as portas se abrissem.

Enquanto isso, na casa dos amigos que me acolheram, decidi ser útil de todas as formas que pudesse. Durante o dia, enquanto eles estavam no trabalho, eu mantinha a casa impecável. Passava o aspirador nos cantos, tirava o pó dos móveis, e deixava tudo em ordem. No fim da tarde, preparava o jantar e depois me sentava na sacada do sobrado, observando a periferia de Berlim com suas ruas acolhedoras e vizinhos amistosos. Quando o sol começava a se pôr, eu me permitia um momento de paz, bebendo meu chá de canela enquanto a sensação de pertencimento enchia meu coração de alegria.

Mas a paz durou pouco. Uma leve coceira no pescoço começou a me incomodar, e logo veio a febre. Era algo que me preocupava, já que sempre fui vulnerável a doenças. Fui direto ao armário da cozinha, em busca de uma dipirona para aliviar aquela sensação ruim. Quando encontrei a caixinha de remédios, meus olhos brilharam de alívio. Tomei dois comprimidos de uma vez, esperando que a febre passasse.

— Pequeno Jonas! Que cheiro bom é esse? — Ouvi a voz de Mada vindo da entrada. Apressei-me a ir até o casal, pegando os casacos deles e os pendurando no suporte.

— Obrigado, querido, você é um fofo. — Disse Mada, me dando um beijinho na bochecha, seu sorriso sincero me confortando.

— Como foi seu dia, grande homem? — Christian perguntou, bagunçando meus cabelos loiros de um jeito que sempre fazia quando queria me animar.

— Ah, foi meio entediante... — Respondi timidamente. — Não consigo ficar sem fazer nada, então espero que não se incomodem por eu ter arrumado a casa e feito o jantar.

Mada se jogou na poltrona com um suspiro aliviado, tirando os sapatos. — Incomodar? Jamais! — Ela disse, exausta, mas grata.

— Eu estou faminto. — Christian acrescentou com um sorriso satisfeito. — Já estava imaginando ter que fazer o jantar.

— Então deu certo! — Falei, contente por ser útil, por poder retribuir de alguma forma.

Foi então que Christian, com um tom mais sério, revelou algo inesperado: — Falei com um amigo meu, que é promotor no fórum onde trabalho. Expliquei sua situação, e ele quer te ver amanhã para regularizar tudo.

Fiquei imóvel, o susto me congelando no lugar. — Como assim? Ele quer me ver? — Perguntei, a ansiedade subindo.

Christian me olhou com a calma de quem sabia que estava fazendo a coisa certa. — Sim, mas não precisa temer. Ele disse que, sendo emancipado, você pode dar entrada para obter seus direitos patrimoniais sobre os bens e a herança da sua mãe. E mais, Jonas, com a emancipação, você é completamente independente do seu pai. Não precisa mais viver com medo daquele homem. Você é livre agora.

As palavras dele soaram como um trovão. — Isso quer dizer que... posso viver minha vida sem ninguém tirar minha liberdade? Livre? — Repeti, ainda processando.

Mada estendeu a mão e a segurou com ternura. — Para sempre, meu anjo, para sempre.

E naquele momento, a febre, a coceira, tudo desapareceu. Senti algo diferente, uma chama de esperança se acendendo dentro de mim. Berlim não era apenas uma fuga. Era o começo de algo novo, de uma vida que eu achava impossível. Mas agora, diante das palavras de Christian e do toque gentil de Mada, eu sabia que o futuro estava ao meu alcance.

Continua...

JONAS, O FILHO DO PASTOROnde histórias criam vida. Descubra agora