CARLOS SAINZ JR.
Se eu ousasse expressar a plenitude da minha angústia após o fatídico dia em que testemunhei Beatriz se distanciando, sem a menor possibilidade de intervir, eu estaria, sem sombra de dúvidas, destilando pura falsidade. Desde então, minha existência se transformou em um contínuo mergulho nos abismos do desalento, com um amargor que ecoava incessantemente em meu âmago. Cada passo, cada suspiro, cada pensamento era impregnado pela presença onipresente de Beatriz, entrelaçada em cada fibra do meu ser.
A chegada do e-mail dela foi como um bálsamo inflamando meu peito de maneira exuberante, revigorando toda a chama que outrora ardia apenas na presença da minha amada Beatriz, de forma verdadeiramente romântica. Lembro-me das sábias palavras de Jeff Buckley, quando ele disse: "Em uma noite única e fresca, perdi-me sob a sombra de uma árvore de lilases". E assim como o lilás, transformei essa experiência em um néctar divino, um vinho celestial que embriaga minha alma a cada gole, pois em cada gota deposito todo o meu amor, levando-me todas as noites de volta aos braços do meu único e verdadeiro amor.
Após a partida de Beatriz, encontrei-me imerso em uma melancolia que parecia não ter fim. Resisti bravamente, porém, a cada dia, percebia essa melancolia corroendo insidiosamente as entranhas do meu coração. E como se não bastasse, o silêncio ensurdecedor da faculdade em relação às minhas solicitações me atormentava, enquanto observava meus pais crescentemente preocupados com o meu estado. Talvez fosse apenas a ansiedade diante da incerteza, considerando as muitas perdas que havia sofrido de repente. Então, dei início ao meu curso de Administração. O que menos desejava naquele momento era despertar piedade ou qualquer sentimento semelhante nas pessoas ao meu redor, pois já bastava a angústia que afligia meus pais (ainda que eu soubesse, no fundo, que tudo emanava do mais puro amor paternal, pois eles testemunhavam o declínio emocional do filho com profunda apreensão).
Não foi uma tarefa árdua me ajustar à dinâmica da faculdade; ao contrário, me integrei de maneira surpreendentemente fácil. O ambiente era pulsante, com alunos percorrendo os corredores com uma energia frenética, quase correndo, discutindo sobre provas que estavam a meses de distância, mas, mesmo assim, mergulhados em uma atmosfera festiva. Na minha primeira incursão em uma dessas festas, fui arrastado por Roberto, ou melhor, Teto, um veterano do terceiro semestre do curso de Administração que estranhamente se interessou por mim e acabou se tornando não apenas um colega, mas um grande amigo. Embora ainda estivesse no terceiro semestre, Teto já era uma figura popular em diversos cursos da faculdade. Nós éramos a personificação da dicotomia entre introvertido e extrovertido. Surpreendentemente, ele nunca me deixou à margem, mesmo enquanto flanávamos pelos corredores em meio às conversas animadas com outros estudantes. No início, pensei que essa camaradagem improvável seria passageira, mas estava redondamente enganado. Quando compartilhei com Teto a minha história com Beatriz, ele ficou boquiaberto a maior parte do tempo, como se tivesse deslocado a mandíbula.
— Cara, isso é completamente insano! — Teto exclamou, cobrindo o rosto com as mãos, incapaz de acreditar no que acabara de ouvir.
O apoio de Teto se intensificou após esse episódio. A diferença de idade de dois anos entre nós não afetava nossa relação; pelo contrário, ele compartilhava suas façanhas amorosas e me auxiliava nos estudos, aproveitando sua posição mais avançada na faculdade.
Retomando a questão da festa, eu não tinha ideia, mas de certa forma, Teto tinha me "encaixado" com uma garota, e foi isso que me deixou irritado com a situação, pelo modo casual com que ele tratava o assunto. "Ficar" com alguém e pronto? Era algo que eu repudiava profundamente... Não sei se era porque meu relacionamento com Beatriz tinha começado de maneira diferente, ou se o tempo simplesmente avançara e eu me via estagnado no passado.
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As The World Falls Down | Carlos Sainz Jr.
Fanfiction"Eles eram como peças de um quebra-cabeça, onde cada uma se encaixava perfeitamente na outra, formando uma imagem completa e harmoniosa. Mesmo nos momentos de discordância, eles encontravam um equilíbrio que permitia que suas divergências se transfo...