Cap. II

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Juliette passou a noite na delegacia, amparada pela cabo Inês.  Foi ela que lhe deu colo e a confortou até adormecer.

Acordou na manhã seguinte e perguntou pela mãe.  Sem muitos rodeios mas de forma leve, Inês contou-lhe que a sua mãe tinha falecido.

- A mamãe morreu porque eu cantei?

- Como é? 

- A mamãe estava doente e disse para eu não cantar.  Eu juro que só cantei baixinho.

- Escuta meu amor.  A mamãe não morreu por isso.  Ela já estava doente.  Tu não tiveste culpa e acredito que ela gostava muito de te ouvir cantar.

- E agora, eu vou ficar onde?

- Com o teu papai.

- Eu não quero.  Ele não gosta de mim.  Ele gritava com a mamãe e dizia que não era meu pai.

- Eu posso ir ao funeral da minha mãe?

- Tu já foste a algum funeral?

- Fui.  Da vóvó.  A vóvó vivia lá em casa.  Quando ela estava o meu pai não gritava, porque ela não deixava.

- Eu vou saber se podes ir.

Inês era casada e não tinha filhos, mas o seu marido sim.  Tinha um filho de 12 anos, fruto de outra relação.  Inês e o enteado não se davam muito bem.  Ele culpava-a de ter sido a causadora da separação dos pais, mas a verdade é que foi a mãe dele a trair o companheiro.

Rodolffo,  assim se chamava o jovem, vivia com a mãe e passava os finais de semana com o pai e a madrasta.

Inês tinha 32 anos. Casada há 4 anos, sofria de uma doença que a incapacitava de ser mãe.   No início sofreu bastante, mas hoje já está conformada.

Com Juliette voltou o instinto maternal.  Queria guardá-la num potinho para que ela não sofresse.

Falou com o tenente e disponibilizou-se para ir com ela ao funeral.

- Se eu pudesse levava-a para casa comigo.  Se o pai dela assinar, ela pode viver comigo?

- Podemos ver essa situação.   O pai não a quer.

Juliette foi ao funeral da mãe com Inês e o tenente.  O pai nem se aproximou dela e assinou de primeira o documento para ela ir viver com Inês.
Nesse mesmo dia foi entregar as coisas dela na delegacia.

O marido de Inês não se opunha a que ela fosse lá para casa.  Igualmente polícia, sabia do quanto ela tinha sofrido ao saber do diagnóstico de não poder ter filhos.

Não eram pessoas de grandes posses, mas viviam desafogadamente.

Inês conversou com Juliette e explicou que ela ficaria a morar com eles.  Ela, apesar de tudo gostou da ideia.

Chegaram a casa e Inês foi mostrar-lhe o quarto que habitualmente era usado por Rodolffo aos fins de semana.

Planos desfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora