A recuperação de Juliette era lenta. Apesar das várias sessões de fisioterapia e das massagens extra que Rodolffo dava, as pernas dela não davam mostra de reagir.
- Não adianta, Rodolffo. Eu nunca mais vou conseguir andar.
- Proibo-te de teres esses pensamentos. Desistir é para os fracos e tu és uma menina muito forte.
- Mas já faz tempo. Já devia ter reacção.
- Demore o tempo que demorar. Tu vais andar.
- Eu sinto que estou a empatar a tua vida. O certo era largares-me e seguires adiante.
Rodolffo olhou para ela com olhar triste. Não respondeu pois não queria discutir com ela.
- Vamos fazer a massagem. Já disseste asneiras suficientes hoje.
A massagem que antes era feita no meio de muita risada e alguma safadeza hoje estava mais profissional. Rodolffo não falava e Juliette percebeu que já tinha falado demais.
Já estava quase a terminar quando Juliette soltou um ai.
- O que foi? perguntou sem se dar conta do que tinha acontecido.
- Não precisas pressionar tanto. Doeu, sabias?
- Como doeu? Juliette, tu sentiste?
- Doeu sim.
Rodolffo pressionou no mesmo local e ela voltou a gemer. A seguir tentou na outra perna e de novo outro ai.
- Abraçou-a caindo sobre ela. Afastou uma mecha de cabelo da sua face e beijou-a.
- Nós vamos conseguir. Tu tens sensibilidade, agora é questão de muito treino. Logo estarás a correr por aí.
- Desculpa o que disse mais cedo. Não foi de coração.
- Nem lembro mais, mas deixa de ser pessimista. Mesmo que eu tivesse que te carregar de cadeira de rodas eu não desistiria de ti.
Rodolffo apalpou vários pontos das pernas dela e também nos pés e verificou que estava tudo normal.
- Anda, amor. Vamos tentar que fiques em pé. Eu seguro-te.
Juliette bem tentou, mas sentiu as pernas cederem. Rodolffo estava a segurá-la pela cintura e evitou que ela caísse.
- Está tudo bem, amor. Uma coisa de cada vez. Vou montar aqui duas barras para te apoiares e tentares caminhar. Podes treinar com a fisioterapeuta e comigo.
Rodolffo colocou-a na cadeira de rodas e desceram para contar a novidade a Inês. Artur chegou logo em seguida e ficou felicíssimo, já Inês soltou apenas um "que bom, Ju" e voltou ao que estava a fazer.
Todos achavam muito estranho as atitudes Inês ultimamente. Juliette até conversou com o pai sobre isso, mas ele disfarçou, mudando de conversa.
Final de semana.
Sábado de manhã, Rodolffo levantou-se cedo e saiu para ir ao barbeiro. Tinha trazido Juliette para a sala e dado o café.
Inês estava no seu quarto sózinha pois Artur estava de serviço. Desceu pouco depois arrastando uma mala.
- Que mala é essa? - perguntou Juliette.
- São as minhas coisas. Vou embora desta casa. Estou cansada.
- Porquê? Que aconteceu com o pai?
- O que vem acontecendo há muito tempo. O nosso tempo já terminou. Vou seguir a minha vida e ele a dele. Tu já não precisas de mim, agora tens o teu marido, como vocês dizem.
- E vais para onde? O pai sabe que vais embora?
- Está aqui uma carta para ele. Vou até sair lá da delegacia. Já pedi transferência para outra cidade. Vou ser feliz. Adeus Ju.
E saiu porta fora.