Já era tarde quando Juliette entrou em casa.
Inês estava na cozinha a preparar o jantar. Artur estava de plantão nessa noite.- A estudar até estas horas, Juliette?
- Aproveitei e fui namorar um pouquinho, também.
- Onde?
- Não vai fazer um inquérito agora? Vou tomar um banho e já venho ajudar.
A minha relação com Inês tinha esfriado um pouco desde que eu iniciei o namoro com Rodolffo. Apesar dela agora já ir aceitando, ainda não voltámos ao que tínhamos no início.
Jantámos juntas e ela não tocou mais no assunto namoro. Conversámos sobre a escola apenas.
Quando terminámos de arrumar a cozinha, ela recolheu-se ao seu quarto e eu ao meu.
Fui olhar uma vez mais o presente de 15 anos que Rodolffo me deu. Todas as noites, desde então eu tinha este ritual.
Rodolffo tinha-me dado um livro com as páginas em branco.
Na primeira página uma dedicatória.Para o amor da minha vida
Queria ser poeta e deixar em cada uma destas páginas gravado, todo o amor que sinto por ti.
Queria ser poeta para descrever os meus pensamentos quando à noite, na solidão do meu quarto, a tua imagem me aparece.
Queria ser poeta e escrever bonito, mas sou só um chucro apaixonado.
Amo-te
RodEm várias outras páginas não havia nada escrito, mas todas elas tinham pequenos bilhetes, datados, com declarações de amor que terminavam com ❤️❤️.
Hoje o sol brilhou, mas o dia esteve cinzento para mim. Não consegui ver o sol da minha vida.
Beijo-te em pensamento. ❤️❤️...
Fica cada dia mais difícil não te mostrar o quanto te amo. Sonho com o dia em que possa chamar-te minha namorada.
Imagino-me a beijar os teus lábios.
❤️❤️Estes e outros bilhetes estavam em mais de metade do livro. Disse ele que escreveu um por dia desde o primeiro selinho.
Ela adorou o presente, mas queria que ele tivesse escrito directamente na página.
Ele diz que não o fez por achar a sua letra muito feia.Mas ela resolveu o assunto. Recortou ligeiramente as margens dos bilhetes e escureceu algumas partes para dar a ideia de pergaminho. A seguir colou um por um nas páginas do livro.
Pediu que ele continuasse a escrever bilhetes. Queria completar o livro como se de uma caderneta de cromos se tratasse. Já tinha até escolhido o título.
" O amor em papel e caneta"
Desenhou e pintou a capa do livro em branco, que já não era mais branco.
Muitos dirão que é muito brega, mas o amor é brega e este é o meu presente, por isso deixem-me juntamente com Rodolffo sermos bregas à vontade.