Capítulo 12: O homem que me comprou

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Carolina

Meus olhos lutam para se abrir, ardendo com cada raio de luz que passa pela  janela. A dor latejante de cabeça parece me prender à cama, mas um aroma delicioso de bolo recém-assado invade, e meu estômago responde fazendo um barulho impaciente, me forçando a despertar.

Onde estou..

Confusa, olho em volta tentando desvendar o mistério. Não é meu quarto, nem mesmo minha casa.
Com cautela, ergo-me, temendo desmaiar.
A porta de madeira maciça range ao meu toque, como se fosse um aviso de minha presença. E adentro o que parece ser a sala de visitas, e uma voz reconfortante me alcança.

"Você precisa descansar, filha..." Um homem de batina se aproxima, preocupado, verificando minha temperatura.
"Onde estou?",  questiono com a voz trêmula.

"Você se lembra de quem é?" Ele responde com outra pergunta.

Claro que sei quem sou.

nesse momento flashes dos eventos recentes me atingem como lâminas afiadas, e busco apoio nos braços do homem.

Eu sei onde estou. Estive aqui antes. Gritando feito uma insana, e depois, cavalgando, e então, caída no chão. E quando lembro o motivo de ter vindo aqui, a sensação de desamparo se intensifica.

"Tudo vai ficar bem, querida..." O homem sorri, acariciando meu ombro com ternura. "Mas antes, você deve estar faminta".

Não tenho tempo para protestar, pois meu estômago se antecipa com uma fúria que ecoa pela sala.
Enquanto me acomodo à mesa, ele me serve um suco fresco e uma fatia de bolo. O homem finalmente se apresenta, fazendo jus a presença da batina

Claro Carolina...

Ele me conta como José Ricardo me encontrou, desacordada, chamou um médico e me trouxe para sua casa, onde fiquei desacordada por um dia e meio, e ter ficado fora por tanto tempo me assusta.

Desesperada, levanto e tento encontrar meus sapatos, enquanto o padre me segue, bombardeando-me com uma avalanche de perguntas, cada uma mais intrusiva que a outra, tentando descobrir para onde estou indo.

"Para casa, é claro! Minha família deve estar em pânico", respondo com frustração. Tenho certeza de que, se minha mãe descobrisse onde estou, arrancaria pelo menos metade dos meus cabelos.

Se eu não fosse a fonte de renda dela, com toda certeza ela me mataria

uma voz estridente interrompe, fazendo com que minhas pernas tremam. A mesma voz que me atormentou desde o primeiro momento.

"Sua mãe sabe onde você está", ele diz com um tom cortante que me deixa arrepiada, enquanto continuo de costas para ele.

"Ótimo, então diga a ela que já estou indo", retruco, sem me virar para encará-lo.

"Você não vai a lugar nenhum, criança", ele se aproxima por trás, e tomada pela raiva, viro-me para encará-lo.

"Se não o que!?", grito, incapaz de conter minha indignação.

Quem ele pensa que é afinal? meu dono?
Se ele realmente acha que vou me casar com ele, o sol deve ter torrado seus miolos!

Ele enrola meu cabelo em suas mãos como se fosse uma corda, puxando-me para perto e segurando firmemente meu quadril. 

E eu nunca senti aquilo antes

"Se não amarro você como uma égua na beira da cama, Carolina", ele diz com um suspiro furioso, me soltando bruscamente como se fosse um esforço.

A cena se desenrola diante de mim, com ele e o padre discutindo ferozmente. José Ricardo o amaldiçoa com tantas palavras em uma frase que assusta, enquanto o homem permanece calmo apenas o aconselhando. Me sinto como se estivesse prestes a ser arrastada por uma correnteza.

Então, de repente, as palavras cortantes de José Ricardo ecoam:

"ELA É MINHA ESPOSA!"
Meu coração dispara como um coelho assustado.

"Não, eu não sou!"  grito, subindo desajeitadamente no sofá de couro, tentando me impor.

"Sim, você é! E desça daí antes que bata a merda da cabeça de novo!" Ele tenta se aproximar com a voz carregada de autoridade.

"Eu não me casarei com você! Nem morta!"

"Você já se casou, Carolina. E pelo que parece, está muito viva", ele afirma, e tudo desmorona ao meu redor.

Ele não pode ter feito isso, afinal de que maneira conseguiria, a não ser que...

"Você pagou...?" Minha voz sai em um sussurro frágil, enquanto o chão parece se abrir.

E sem rodeios.
"Sim, paguei. E até o momento você está saindo bem caro"

"Você me comprou..." As palavras escapam dos meus lábios, carregadas de desespero. Meus olhos se enchem de lágrimas, e eu não posso mais conter essa avalanche.

Ele me olha com indiferença, como se eu fosse apenas mais um pedaço de terra, uma propriedade em seu império.
Sinto as bochechas molhadas, minhas lágrimas caindo como uma torneira que fora esquecida aberta.

Droga, Eu não quero chorar na frente dele, não quero dar a ele o prazer de me ver quebrada.

Com passos trêmulos, corro para fora da casa, para o único caminho que lembro: o celeiro.
Lá, encontro o cavalo de meu pai, deitado no feno. E é ali, ao lado dele, que me permito desabar completamente.

Rezo em silêncio, implorando por um milagre, por uma fuga dessa vida que me foi imposta. Rezo para que meu pai venha me salvar, mesmo sabendo que é impossível. Então Rezo para que Deus me salve ou que me leve, me leve desse homem..

Me leve
Do homem que me comprou.

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