Meu peito se transformou em um emaranhado de dor e sofrimento, algo me puxa cada vez mais para baixo do poço que eu mesma criei, Sara tenta compensar essa dor com piadas sem graça, dou sorrisos falsos, uso máscaras para disfarçar minha dor, tenho que parecer forte, porque assim eu finjo que sou, pelo menos as pessoas me respeitam, gostam de mim. Eu e Sara viemos no BK,como prometido, mas na minha mente só ecoam as palavras do pai do Cool. Mordia aos poucos o hambúrguer, tomava poucos goles do refri de cola, descia gelado na minha garganta.
— Tua cara tá meio estranha Bia, você tá bem mesmo? — Perguntou Sara se apoiando na mesa de mármore do BK.
— Eu já te disse que eu to bem, porra! — Sinto dificuldade em pronunciar qualquer palavra, deveria estar morta, para não precisar mais mentir.
— É que um dos seus melhores amigos morreu hoje, em batalha, é bem compreensível você estar mal! — Sara se movimentava bastante, de um lado para o outro enquanto falava.
— E-eu sei... Acho que não tô me sentindo muito bem, a gente vai pra minha casa, eu tomo meus remédios, tudo fica bem! — Forço um sorriso falso, Sara assente e se levanta, já pagamos os hambúrgueres quando pedimos, então só vamos embora.
O caminho era cinzento, era noite, o neon brilhava, mas minha visão turva não deixava eu prestar atenção neles, meu estômago está embrulhado, eu estava tonta. Nunca pensei perder ele agora, tão jovem, uma vida calejada inteira para viver. Os outros pedestres são como eu, vivendo de sorrisos falsos, e mentiras mal contadas, alguns nem disfarçam, tem a cara triste, expressão marcada. As ruas estavam sujas, cheias de lixos, poeira e sem tetos, a times square nunca esteve tão cinzenta, andávamos rápido entre as ruas vastas de NY, já se afastamos da times square, e o cinzento estava se tornando escuridão, chegando a parte mais pobre da cidade nem neon tinha mais, lá só tinham caras fechadas, todos em uma guerra pela vida e felicidade, sabe se lá quantos conhecidos meus dali já tinham morrido, eu nasci pobre, fui criada na dor e desespero, talvez em algum dia eu me acostume com a dor, quarenta minutos depois que saímos do BK chegamos à casa da minha avó, tinha um pequeno muro na frente, depois dele um caminho de pedras, aí chegamos a casa de tons nude da minha avó. O caminho todo foi silencioso, nem eu, nem Sara arriscamos a dar uma palavra sequer. Abri a porta da minha casa, sai do caminho do sofá, passei pela sala de jantar, quando ia entrar em meu quarto minha vó surgiu atrás de mim.
— Bia, está tudo bem? — A velha tinha feito duas tranças em seus cabelos grisalhos, quase brancos, que caiam em seus ombros. — Está bem pálida!
— Eu to bem... Só um pouco tonta, sabe, um dia sem tomar meus remédios! — Dou outro sorriso falso.
— Não omita a parte principal! — Falou Sara que surgia na porta do corredor, meus olhos se encheram de lágrimas.
— Cool morreu! — Entrei no meu quarto batendo a porta forte, corri até minha prateleira de comprimidos, antidepressivos, analgésicos, relaxantes musculares, remédios para ansiedade. Tranco a porta do meu quarto e se jogo na minha cama de solteiro, me enrolando nos cobertores e choro forte.
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The Heroes of the Earth
Ficção CientíficaSara Andersan, uma menina caótica e com poderes mágicos cai em outro universo sem querer, ela se vê em um mundo mais caótico que ela, um mundo onde a Terceira Guerra Mundial estourou em 2022, uma realidade onde a tecnologia teve um grande avanço. C...