Capitulo 97 - Onibus para Londres

142 14 17
                                    

Eu tinha saído correndo daquela casa, como se eu pudesse fugir para algum lugar, como se a propriedade não fosse cercada por uma floresta sem fim, e eu não pudesse encontrar um taxi ou qualquer outra coisa que me levasse embora.

Estava frio, chovendo, e meus saltos afundavam quase completamente na grama, se tornando um martírio continuar correndo sem ter para onde ir.

Meu coração estava ferido, não pela mentira, talvez eu já estivesse acostumada com elas. Eu também era uma tremenda mentirosa. Mas por perceber que eu nunca conheci alguém que se apaixonou honestamente por mim. Seu Christopher me usou por uma empresa, e o Henry por um titulo. A história sempre se repetia, e eu nao entendia o que deus estava tentando me ensinar, e temia que ela fosse se repetir milhares de vezes até que eu entendesse o recado.

E quando finalmente parei de andar, quando meus saltos agarraram na grama, eu me desequilibrei até o chão, despencando sobre a terra enquanto a chuva levava o meu choro embora, junto da minha maquiagem que se derretia completamente. Já nem sabia se estava triste, ou aliviada por me livrar daquele compromisso. Mas lógico que estava ferida por perceber que o meu bote salva-vidas, estava furado, e a cada segundo eu me afundava ainda mais em mim mesma, e no meu desespero. Eu criei uma expectativa, e ela me frustrou. Tudo porque eu havia ignorado os avisos de todos. Minha mãe tinha razão, eu não fazia ideia de quem era o homem com quem eu estava prestes a me casar. Se algo tivesse saído minimamente diferente essa noite, eu só teria descoberto a verdade depois de me casar. E então, o que aconteceria depois?

Enquanto a pergunta pairava sob meus pensamentos, Henry correu até mim, tentando me puxar de volta para cima, mas assim que suas mãos me tocaram, sem pensar nas consequências, o estapeei, enquanto me esquivava bruscamente do seu toque e gritava para que me deixasse. Eu não queria senti-lo próximo de mim, estava assustada, e com medo. Estava cercada de pessoas que eu não conhecia, com um homem que eu não fazia ideia de quem era. Já não sabia mais o que ele seria capaz de fazer.

- Ceci... - Ele segura meus braços, tentando me impedir de continuar estapeando-o. - Ceci, para, para, por favor, para...

- ME SOLTA, ME SOLTA, NÃO TOCA EM MIM, ME SOLTA...

- ENTÃO PARA! - Exige - Por favor, me escuta...

- ME SOLTA!

E então ele obedece, largando os braços que se prendiam envolta do meu tronco e caindo sentado no gramado molhado, tão cansado quanto eu.

- Por favor... - Suplica - Me deixa explicar...

- EXPLICAR O QUE? - As gotículas de água voam por meus lábios, com o ar que sai tão forte que sopra a chuva para frente. - COMO PODE EXPLICAR TER ME ENGANADO? COMO PODE EXPLICAR TER ME USADO PARA CONSEGUIR UM TITULO? COMO PODE EXPLICAR TER MENTIDO SOBRE TUDO?

- Eu não menti... - Finalmente as lagrimas caem dos seus olhos, se misturando a tempestade que cai do céu. - Como pode achar que eu seria capaz de mentir sobre amar você? Eu tive medo de te contar a verdade e você me deixar. Você odiava a elite novaiorquina, não tinha como gostar da aristocracia britânica. E eu também não gosto, acredite, mas eu não vou abrir mão de tudo o que meu pai conquistou, eu não vou entregar tudo para essas pessoas... - Aponta para a casa, que havia ficado alguns metros para trás. - Mesmo com as nossas diferenças, eu não posso fazer isso... Talvez eu quisesse acreditar que sim, mas... quando ele adoeceu... Ceci, eu não posso!

- E pra ter tudo isso, preferiu me enganar. Podia ter me contado a verdade mas escolheu mentir. E o que planejava, Henry? O que ia fazer quando nos casássemos e eu descobrisse tudo?

- Eu não menti, Cecilia... talvez no inicio, mas... eu me apaixonei... eu me apaixonei de verdade e eu esperava que quando isso acontecesse, você já estivesse tão apaixonada por mim, que fosse capaz de me perdoar.

A Estranha Cecília - Chris EvansOnde histórias criam vida. Descubra agora