Distância (cap. 8)

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Assim que solto essa afirmação, um silêncio ensurdecedor se instaura. Os antes julgadores se entreolham, agora surpresos. Felipe solta um suspiro de alívio, e aproveita para ir o mais longe possível de Mateus, que se encontra em um estado de choque e constrangimento. Lucas resolve quebrar o silêncio.

Lucas – Mateus? Isso é verdade?

Mateus gesticula, sem fazer sentido algum. Parece não conseguir encontrar as palavras certas. Volta o olhar para mim por um instante, quase que procurando por ajuda. Por fim, formula a melhor frase que consegue, dada a situação.

Mateus – É... mas, oia só, Lucas, tem uma história...

Alice – Você não contou para nós? Fizemos papel de bobos enquanto você brincava de teatrinho com ela? De quem foi essa ideia idiota?

Os olhares se voltam para Mateus, depois por mim, depois de volta a Mateus. Pareciam indignados com a situação. E com razão. Mateus não se encontra em condições de fornecer explicações, então tomo as rédeas.

(S/N) – O que aconteceu foi que tiraram fotos nossas enquanto ele me ajudava, como se eu fosse sua namorada. Por causa disso, perdi meu emprego, e Mateus me fez a proposta de fingir ser sua namorada em troca de minha estadia na fazenda. Acontece que acabei me apaixonando por Felipe, e ele por mim. Então eu tentei levar essa vida dupla, entre namoro falso e amor verdadeiro. Foi errado da minha parte, eu admito, porque eu enganei todos vocês. Fingi ser algo que não era, enquanto escondia minhas verdadeiras relações.

Vanessa – Está tudo errado nessa história, vocês realmente acharam que isso ia dar certo?

Mateus – Vanessa... o que eu ia fazer?

Lucas – Literalmente qualquer coisa seria melhor que isso. – Ele demonstra irritação.

Mateus suspira, frustrado.

Mateus – Não vem ao caso agora. Eu só preferia não ser traído, mesmo que falsamente, pelo meu próprio primo.

Felipe arranja um jeito de colocar um sorriso irônico na cara.

Felipe – Desculpe se a sua namorada de mentira não é feliz com um namoro, bem, de mentira.

Mateus torna seu olhar enraivecido a Felipe, cujo sorriso desaparece na hora.

Mateus – já chega. (S/N), vai pro seu quarto e arruma suas coisas. Amanhã de manhã ocê vai embora.

Embora já esperada, essa notícia foi impactante. Confesso que não me programei para isso. Terei de arranjar um emprego, qualquer coisa, para não voltar à casa dos meus pais. E logo o pior pensamento me assombra: Não poderei mais ver Felipe. Percebo que o mesmo sentimento passou por ele, pois o mesmo exibe uma feição de leve desespero.

Alice – Mas ela já é da família, não é justo...

Lucas – Confesso que também fico triste de vê-la partir, mas é melhor assim.

(S/N) – Eu... acho que é melhor mesmo.

Passo pelos observadores para chegar ao corredor, mas antes voltei meu olhar para Felipe. Ele estava com um olhar que eu nunca havia visto, triste, desolado. Quase que chorando. Vou embora logo, para não verem minhas lágrimas rolando.

Entro em meu quarto, já em prantos. Coloco minhas roupas uma a uma na mala, sem nenhum cuidado, pois nada mais importa. Ao terminar, deito-me na cama, desconsolada, e choro até dormir.

O dia chega, enfim. Demoro a me levantar, pois não quero que o presente chegue. Olho para a janela, e percebo que minha carona já está me esperando. Me dirijo para fora do meu quarto, carregando a mala. Entretanto, não posso deixar de dar um último adeus ao meu namorado. Não um "boa noite", ou um "até logo", mas um "boa vida". Bato na porta, e logo Felipe me atende. Ele parece cansado, como se não houvesse dormido. Seus olhos estão inchados. Sem falar nada, abraço ele fortemente, como nunca havia feito antes. Ele retribui, e quando nos dermos conta, estávamos chorando nos braços um do outro. Havia tantas coisas que eu poderia dizer, mas nada seria o suficiente para descrever meu carinho e admiração por ele. Então, opto pelo simples e eficaz.

(S/N) – Eu te amo, Felipe. Muito.

Felipe abre um sorriso fraco, porém genuíno.

Felipe – Não mais que eu.

Nos separamos, por fim. Dou um adeus rápido às demais pessoas da fazenda, com exceção de Mateus, que estava enraivecido demais para se despedir. Entro então no carro, pensativa. E, acima de tudo, agradecida por tudo que esse lugar me proporcionou. As experiências e momentos e, principalmente, as pessoas. Nunca vou me esquecer das pessoas desse lugar.

(Quebra de tempo – cerca de um mês)

Faz algumas semanas que me reestabeleci na sociedade. Arranjei um emprego de garçonete na capital, com salário suficiente apenas para pagar minhas contas. Meus dias são monótonos, mas não posso reclamar. Minha vida está pacífica pela primeira vez em muito tempo. Entretanto, sempre me pego pensando na fazenda, nostalgicamente. Devo admitir que sinto falta de lá. E Felipe, ah, como ele me faz falta. Às vezes, tudo que queria era sua companhia para lhe contar como foi meu dia, ou só sua presença, para poder abraçá-lo eternamente.

Levanto-me um dia para ir ao trabalho, um dia comum. Começo minha rotina diária, quando sou interrompida por um barulho de campainha. Acreditando ser o carteiro, levanto-me e me dirijo à porta vagarosamente. Ao abrir a porta, arregalo os olhos.

Felipe – Oi.

Aquele agroemo (Felipe X Leitora) - Entre Laços e AmassosOnde histórias criam vida. Descubra agora