Capítulo 2

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Diante de mim, estava Andrea, com seus olhos que nunca souberam esconder, que me revelava medo de alguma retaliação, via também a sua mágoa, ali tão pungente, na mesma proporção em que seus olhos cor de chocolate eram tão pedintes, e só não conseguia decifrar o que eles pediam, ou talvez estivesse com medo e naquele momento, naqueles olhos, eu vi algo que me fez deter-me, uma sombra de tristeza, um brilho diminuído, um reflexo da dor que eu mesma causei.

Por um instante, senti um aperto no peito. Como pude ter sido tão cega? Como pude ignorar o impacto de minhas palavras e ações sobre ela? Andrea, a jovem que ingressou em minha vida com determinação e promessas de mudança, estava ali, diante de mim, ferida e desgastada pelas minhas inseguranças.

E, enquanto a observava, algo dentro de mim despertou. Era um senso de responsabilidade, um desejo de reparar o dano que causei. Claro que naquele momento, Caroline era minha prioridade, uma criança frágil em suas emoções precisava de meus cuidados maternos, mas estava em mim a possibilidade, a chance de reparar esse mal.

Eu queria dizer algo, encontrar as palavras certas para expressar os sentimentos que se acumulavam dentro de mim e também do meu arrependimento de não ter corrido atrás dela em Paris e palavras pareciam insuficientes diante da magnitude do que eu sentia. Em vez disso, deixei que meu olhar falasse por mim, deixei que Andrea visse a sinceridade em meus olhos, o desejo genuíno de fazer as coisas direito.

E naquele momento, enquanto eu lutava para encontrar redenção em meu próprio coração, vi um lampejo de algo nos olhos de Andrea. Talvez fosse esperança, talvez fosse a vontade de acreditar que as coisas poderiam mudar entre nós. E com essa chama frágil acesa entre nós, prometi a mim mesma que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para merecer novamente sua confiança e respeito.

Fora do consultório da pediatra, à poucos metros de distancia uma da outra, foi percebido um certo desconforto mútuo onde nenhuma de nós duas parecia saber o que dizer ou fazer, até que Andrea, mais corajosa, se aproximou lentamente:

- E então Miranda? Como a Caro está? Tem algo grave com ela? - Notei em seus olhos a sua preocupação genuína.

- Está tudo bem Andrea. Nada que repouso, uma alimentação leve e momentos de diversão não resolvam e isso inclui você?

- Como é que é? - perguntaram em uníssono.

- Isso mesmo que ouviram. Andrea se não tiver nenhum compromisso esta noite e neste final de semana, gostaria muito que ficasse com a gente.

Andrea me olhava cada vez mais espantada, certamente jamais imaginaria que eu finalmente fosse capaz de inclui-la em nossas vidas. Ela não sabia o que dizer e meus diabinhos ruivos com uma retórica incrível a convenceram de passar esse tempo conosco.

No caminho liguei para Emily para que cancelasse meus dois últimos compromissos do dia, que avisasse Nigel para me passar o relatório da reunião e que não queria ser incomodada, exceto em caso de extrema emergência.

Fizemos uma pequena parada no apartamento de Andrea para que pegasse o que fosse precisar para o final de semana fora de casa e não me espantei nem um pouco em ver as meninas que fizeram questão de acompanhá-la no intuito de ajuda-la e também conhecer seu apartamento, com um embrulho cada uma.

Meu Deus, mesmo magoada comigo ela pensou em minhas meninas, algo que ninguém foi capaz de fazer por elas, exceto familiares como minha mãe a maluca da minha irmã, Donna e minha sobrinha Sophie, por quem as meninas tinham verdadeira adoração, mas nos encontrávamos apenas no final do ano, e passávamos as festas de natal e ano novo todas juntas.

Perguntei as meninas o que eram aqueles embrulhos e as duas me responderam que nem mesmo elas sabiam e que a surpresa só seria revelada após o jantar.

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