Verdades não ditas - Mitake

11. Permissão

- Não vai terminar de comer? Você mal tocou no seu café da manhã, precisa se alimentar direito - Smiley reclamou, tirando apenas um suspiro e um revirar de olhos do moreno que o encarava com um olhar tedioso. - Você ficar doente é uma dor de cabeça que eu gostaria de evitar.

- Não se preocupe, eu não fico doente fácil - A mobília levantou uma sobrancelha, sinalizando sua falta de fé no que o outro disse - Pode ser difícil de acreditar para alguém que vive num lugar desses, mas morar em um lugar tão insalubre te faz criar anticorpos, meu sistema imunológico é forte.

- Se você diz. Apesar de que há outras formas de ficar doente, e se você ficar, eu vou cuidar de você com muito carinho, as injeções daqui são ótimas e curam bem rápido - O rapaz sorria de uma forma sinistra e Takemichi franziu as sobrancelhas. Smiley era muito esquisito aos olhos do mais novo. - Você só precisa aguentar a dor.

- Achei que você só pudesse falar se alguém permitisse, acho que me enganei, né?

- Não preciso de permissão, caso seja algo relacionado aos meus deveres como mobília e, infelizmente, cuidar da sua saúde é uma das minhas responsabilidades.

- Você é chato, né, cara? Quer que eu coma? Tá bom, só me deixa em paz, ficar aqui preso dentro desse apartamento já é uma grande tortura, não preciso de mais uma perturbação.

- Agradeço muito a sua colaboração - A voz do mais velho era carregada de sarcasmo. Aparentemente ambos não iam um com a cara do outro. - Ah, quase me esqueci devido as suas reclamações. O senhor avisou que quer falar com você hoje, não durma até ele chegar.

- Ele disse que horário mais ou menos vai chegar? Dormir me tira do tédio infernal de ficar preso aqui sem fazer nada.

- O senhor Sano é muito ocupado, não há um horário certo para chegar em casa, porém, quando termina suas atividades cedo, costuma ser por volta das 18h ou 19h.

- E isso é cedo? São quase 12h por dia, já que ele sai às 8h da manhã. Achei que os loiros não trabalhassem tanto, uma vez que não arrumam a vida de quem realmente precisa.

- Há inúmeras coisas a serem discutidas e trabalhadas quando se governa um planeta, não é uma tarefa fácil, é algo que exige bastante dedicação.

- Jura? Nossa, eles trabalham muito, né? Devem sofrer bastante... sinto muita pena de uns desgraçados que moram num lugar confortável desses e comem do bom e do melhor, realmente é uma dureza a vida deles.

O sarcasmo na voz de Takemichi era praticamente palpável, mas o que impressionou o outro foi o olhar gélido e cheio de ressentimento que o mais novo carregava. A mobília teve a certeza que o ódio daquele homem pelos loiros era muito maior do que ele poderia sequer imaginar, e agora ele precisava que saber o motivo de tanto rancor, pois o outro provavelmente nunca tinha encontrado um loiro antes do seu dono, e mesmo que o Sano tivesse o humilhado, ele tinha convicção de que não seria o suficiente para criar uma mágoa tão grande e profunda.

- Se odeia tanto a elite, por qual motivo aceitou se tornar pet de um? Não faz muito sentido.

- Seu dono não te explicou, não? Achei que ele te contasse tudo.

- Só sou informado do suficiente para realizar minhas obrigações, não sou amigo do patrão, sou apenas uma mobília.

- Por que começou a trabalhar nisso? Há tantas outras oportunidades para gente como vocês que moram fora dos muros de Oteim.

- Curioso sobre a minha vida, hm? Quer ser meu amigo, é?

- Estou falando sério, quero mesmo saber o motivo. Custa me falar?