8
LUZES DE SEXTA À NOITE
Na manhã seguinte, o som dos cachorros latindo foi estranhamente reconfortante. Isso significava que eles estavam atrapalhando o lance entre Wangji e a sua peguete.
Queria saber se ela havia comido um dos meus muffins.
Vadia.
Eu nem tinha pensado em pegar um para mim antes de deixar a cesta com ele.
Eu estava sendo ridículo? Afinal, tinha um encontro hoje à noite! A verdade era que estava me forçando a ir a esse encontro.
Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos. Não esperava ninguém tão cedo, nem estava vestido. Meu cabelo estava preso e eu tinha certeza de que havia olheiras debaixo dos meus olhos.
Wangji não parecia muito melhor quando abri a porta.
Ainda com as mesmas roupas de ontem, ele levantou a mão.
— Oi.
— Oi.
— Posso entrar?
— É claro.
Aparentemente tenso, ele pôs as mãos nos bolsos lentamente enquanto olhava para mim.
— O que aconteceu ontem à noite?
— Do que você está falando?
Boa tentativa se esquivando da pergunta.
Ele se aproximou de mim.
— Do que estou falando? Você me deixou com uma enorme cesta de muffins e fugiu antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Lembrou?
— Pensei que estivesse sozinho. Aquilo me pegou desprevenido.
Os olhos dele suavizaram.
— Ficou chateado...
— Não, não fiquei.
— Você mente muito mal, Wuxian . É péssimo nisso. Não consegue esconder o que sente.
— Você acha que sabe tudo a meu respeito, não é?
— Tudo não, mas não preciso ser astrofísico para te ler.
Essa é uma das coisas de que eu gosto em você, aliás. É uma das pessoas menos falsas que já conheci.
— Então, me fala, por que acha que fiquei chateado?
— Honestamente? Acho que está confuso sobre mim.
— Confuso...
— Sim. Acho que está se perguntando por que não eu quis jantar com você e, em vez disso, acabei com uma mulher que literalmente tinha acabado de conhecer, alguém que não é tão gentil como você e não é tão bonita quanto você. Então, está se perguntando onde eu estava com a cabeça. É isso?
Era exatamente isso que eu estava pensando.
Ele continuou:
— Eu sei que não nos conhecemos há muito tempo, mas eu sinto uma conexão com você, sabe? Se sentiu alguma coisa, você não está imaginando.
— Bom, se eu não estava confuso antes... agora estou.
— Eu sinto que preciso dizer isso agora porque não suporto pensar que você pode achar que não te acho desejável, quando é justamente o contrário.
Cruzei os braços.
— Ainda não estou entendendo.
Ele fechou os olhos como se tentasse encontrar as palavras certas.
— Só sei que não posso ser o que você quer com alguém como você. Precisa em um namorado, em um parceiro. Não é que não vamos nos divertir ou que não vai ser ótimo no começo. Eu não sou bom para você a longo prazo, não sou para casar. E as razões são muito complexas para falar delas agora, basta dizer que não têm nada a ver com você e tudo a ver comigo.
Eu não posso, em sã consciência, começar alguma coisa com um garoto como você.
— Um garoto como eu...
— Sim. Você não é o tipo de garoto que um cara leva para casa para dar uma rapidinha. Você é o garoto que ele mantém.
Certo. Exatamente como Chao fez.
— Não precisava explicar tudo isso. Você não me deve nenhuma explicação.
— Bem, se não estivesse chateado, eu não teria falado nada. Acontece que não sou de fazer rodeio e não gosto de enganar ninguém. Não sou como o seu ex. Mas também quero que você entenda que há uma diferença entre não querer estar com alguém e não poder. Eu sei que, mais do que tudo, você está com medo de se machucar de novo. E mesmo estando muito a fim de atravessar essa linha com você, se eu for em frente, vou te machucar. E não vou ser esse cara.
Sentindo um peso no peito, eu disse:
— Obrigado pela honestidade. Foi uma conversa um pouco mais profunda do que eu esperava agora, tão cedo.
— Eu sei. E sinto muito. Senti que precisava dizer alguma coisa depois do jeito como você saiu. Não consegui dormir a noite toda pensando que você estava chateado.
Engoli em seco, sentindo uma mistura de tristeza e desapontamento. Sem saber o que dizer, eu sorri.
— Amizade também está fora de cogitação?
— Claro que não. Eu me sinto melhor com esse lance de amizade, agora que me expliquei para você. Só não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós, sabe, se...
— Se você estiver com alguém — interrompi.
Ele assentiu.
— Ou se você estiver com alguém.
Wangji tinha dito que ele se sentia melhor, mas não era o que parecia. Ele não estava aliviado. Estava chateado e tenso.
E eu estava mais confuso que nunca.
Brian Steinway era legal, um típico americano.
Depois de se mudar de Iowa para o Vale do Silício para trabalhar na Hewlett Packard, ele era relativamente novo na Bay Area.
Durante nosso encontro no café, ele ouviu atentamente cada palavra que eu disse e repetiu várias vezes quanto eu era mais bonito pessoalmente. Ele tinha cabelos loiros e olhos azuis e, francamente, parecia o irmão que eu nunca tive. Brian era doce e modesto, e tudo que um cara deveria querer, em tese.
Em nosso sofá de canto do Starbucks da Powell Street, bebi meu latte enquanto conversávamos confortavelmente em meio aos sons das máquinas de vaporizar leite e moer grãos de café. Eu fingi estar realmente interessado no que ele dizia, embora Wangji estivesse presente o tempo todo em meus pensamentos, distraindo-me quando eu deveria estar dando toda a minha atenção a esse doce de homem na minha frente.
Eu não pude deixar de pensar no encontro de mentira que deveria ter acontecido com o Wangji On-line. Mas me lembrei rapidamente da conversa que tivemos naquela manhã e isso me levou de volta à realidade. As últimas vinte e quatro horas tinham sido como um sonho estranho.
Quando nos levantamos depois de duas horas inteiras conversando, Brian pegou meu copo para jogar fora.
— Eu adoraria te dar uma carona para casa.
— É claro — respondi sem pensar.
Wangji me diria que era uma má ideia. Mas ele realmente não tinha que dar palpite. Além do mais, eu tinha certeza de que Brian era inofensivo.
Quando chegamos ao meu bairro, Brian estacionou a uma
Quadra da minha casa. Ele deu a volta para abrir a porta do lado do passageiro e me acompanhar até o prédio. Eu não queria convidá-lo para entrar, por isso parei no pátio.
Antes que eu tivesse a chance de dizer boa-noite, uma luz forte iluminou o céu noturno. Brian e eu olhamos em volta assustados com o que parecia ser a iluminação de um estádio e clareava o pátio como se estivéssemos no meio de um jogo de futebol.
O que estava acontecendo?
Quando olhei para cima, Wangji nos observava da janela do segundo andar. Ele estava de braços cruzados e se afastou casualmente quando me viu olhando para ele.
— Qual é a das luzes? — Brian perguntou.
— O síndico é meio maluco. Ele deve ter instalado a iluminação para afastar os ladrões.
— Elas têm um sensor, ou algo assim?
— Algo assim — respondi, sabendo muito bem que Wangji estava controlando tudo.
— A gente pode sair de novo? Talvez um jantar, em vez de café?
— Sim, seria legal.
— Eu ligo para você em breve, então. — Brian se inclinou e me deu um beijo na bochecha. Ele ficou no pátio até eu entrar e fechar a porta.
Meu primeiro instinto foi atacar Wangji e exigir que dissesse por que tinha acendido as luzes no exato momento em que eu apareci com Brian. Mas percebi que, provavelmente, essa era a reação que ele esperava de mim.
Depois da conversa de hoje de manhã, eu precisava recuar, ter orgulho e deixar as coisas acontecerem.
Sentado no sofá, tentei me concentrar em uma revista.
Sem pensar, virava as páginas e me sentia entediado. Eram só pouco mais de oito horas; a noite era uma criança.
Alguns minutos depois, ouvi música no apartamento ao lado.
Wangji aumentou muito o volume de repente. Demorou um pouco para perceber que a música era “Two Is Better Than One”.
Meu telefone vibrou.
Wangji: Está ouvindo? Escreveram uma música sobre você e suas fantasias de ménage.
Wuxian : Você não tem nada melhor para fazer em uma sexta à noite?
Wangji: Como foi o encontro?
Wuxian : Legal. E o seu?
Wangji: Eu não tive um.
Wuxian : Muito ocupado espionando o meu? Sério, qual foi o lance com as luzes?
Wangji: Instalei um tempo atrás, quando uma molecada andou mexendo no meu mural. Posso controlar tudo daqui.
Wuxian : Isso foi realmente invasivo.
Wangji: Só estava cuidando de você.
Wuxian : Quase me cegando?
Wangji: Haha. Você conseguiu o nome completo dele? Posso fazer a verificação de antecedentes.
Wuxian : Eu tenho o nome, mas ele é inofensivo. Confie em mim.
Wangji: Você não deveria ter deixado o cara saber onde você mora tão cedo.
Wuxian : Eu sabia que você ia dizer isso.
Wangji: Então por que deixou?
Wuxian : Está tudo bem.
Wangji: Vai sair com ele de novo?
Wuxian : Provavelmente.
Wangji: Vou dar uma checada. Qual é o nome completo dele?
Wuxian : Brian Steinway.
Wangji: Como o piano.
Wuxian : Sim, hehe.
Wangji: Alguma outra informação?
Wuxian : Nasceu em Iowa, trabalha na Hewlett Packard, mora em Sunnyvale.
Wangji: Certo.
Wangji ficou quieto depois disso. Não ouvi mais nenhum barulho, até as batidas fortes na minha porta uns vinte minutos depois.
Fui abrir.
— Que foi?
— Vim dar as notícias pessoalmente.
— Que notícias?
— Chequei o cara com quem você está saindo.
— E?
— Bom... estou com medo... — Ele coçou o queixo.
— O quê? Conta!
— Nada. Completamente limpo. — Ele sorriu.
— Que susto — falei, batendo nele de brincadeira.
Wangji se abaixou para pegar alguma coisa do chão. Era a minha cesta, sem os muffins.
— Aqui está a sua cesta de volta. — Ele havia posto nela uma garrafa de vinho branco e alguns biscoitos que pareciam recém-saídos do forno.
— O que é isso?
— Um agradecimento pelos muffins. Comi três hoje. São deliciosos.
— Não precisava. Os muffins foram minha maneira de agradecer por sua ajuda na Noite das Artes.
— Ah, não foi nada. Portanto, considero os muffins um presente. E não aceito nada sem retribuir. Minha mãe me ensinou assim.
Dei uma mordida em um dos biscoitos de chocolate e falei com a boca cheia:
— São muito bons. Acho que, sem querer, você pode ter começado um campeonato de confeitaria. Não sei cozinhar, mas posso fazer sobremesas.
— Ah, combinado! — ele brincou. — Eu tento comer de um jeito saudável, mas tortas, biscoitos, bolos... tudo que é de confeitaria ... isso é meu ponto fraco. — Ele pegou um biscoito e mordeu.
— Bem, só queria trazer a informação e os biscoitos.
— Obrigado de novo.
Quando ele começou a se afastar, eu o chamei:
— Wangji?
Ele se virou.
— Oi?
— Vai fazer alguma coisa agora?
— Não.
— Não quer ver um filme?
Ele mordeu o lábio inferior enquanto pensava no meu convite, depois sorriu.
— Só se eu puder escolher o filme.
— Tudo bem.
— Você tem um DVD player?
— Tenho.
— Eu volto em meia hora.
A batida exagerada na porta era cadenciada. “Toc. Toc.”
Fui abrir e Wangji olhou para a minha roupa.
— Ainda está arrumado.
Ele usava uma calça de moletom cinza que colava ao corpo de um jeito que eliminava qualquer possibilidade de ele não ser bem-dotado. O elástico da cueca boxer estava aparecendo.
Droga.
Levantei a cabeça e disse:
— Não sabia que era festa do pijama.
Ele passou por mim, me envolvendo em seu cheiro excitante.
— Vamos ver um filme. Quis ficar confortável. Mas sinta-se à vontade para ficar de jeans . Faz todo sentido.
Depois da nossa conversa, por que eu ainda me incomodava em me arrumar para encontrá-lo?
Ele estava certo.
— Legal, espertinho, vou vestir meu pijama.
Ele levantou um pacote para micro-ondas que tinha trazido e o sacudiu.
— Vou fazer pipoca e configurar o DVD player. — E olhou em volta.
— Onde ficam as vasilhas?
Apontei um dos armários.
— Ali.
— Legal.
— Você vai ter que mudar o modo da TV para conectar os dois. Usa o controle remoto da Sony — falei a caminho do quarto.
— Entendi — ele gritou da sala.
Embora minha cabeça soubesse que Wangji havia fechado a porta para qualquer possibilidade de um envolvimento romântico entre nós, meus nervos certamente não tinham recebido a mensagem. Tirei a roupa que estava ainda me sentindo um idiota. Meu coração batia um pouco mais rápido que o normal quando vesti a bermuda preta e a velha camiseta dos Bruins que havia sido do Chao e eu costumava usar para dormir.
Sentindo uma leve movimentação na barriga, decidi que provavelmente aproveitaria a oportunidade para usar o banheiro.
Fazendo cagada em vários sentidos, hein, Wuxian ?
Minha visita ao banheiro demorou mais que o esperado.
Fiquei surpreso por Wangji não me atormentar por causa disso.
Quando finalmente acabei, me sentia muito melhor. Isto é, até voltar à sala de estar.
Meu estômago revirou quando ouvi aquela voz. O sangue subiu para a cabeça.
A voz dele.
Uma voz que eu não ouvia havia muito tempo. Uma voz que eu tentava banir do meu cérebro diariamente.
Chao.
Demorei alguns segundos para perceber que não era ele realmente. Era o DVD que eu deixara no player havia muito tempo, o que vi várias vezes quando terminamos. Eu não usava o DVD fazia meses, mas o disco ainda estava lá.
Wangji não percebeu que eu estava atrás dele. Estava ali paralisado, olhando atentamente o vídeo caseiro. Eu não sabia o que dizer ou fazer, então fiquei ali envergonhado.
Quando gravamos aquele vídeo, Chao e eu deveríamos ter filmado uma apresentação para o Centro da Juventude, mas acabamos fazendo palhaçada no parque com a câmera emprestada. Na época, achei que o filme seria uma lembrança fofa. Eu não tinha ideia de que só seria usado como um instrumento de autotortura logo depois do nosso rompimento, parte da minha constante pesquisa sobre o que havia dado errado.
Ouvir a gravação era como ser lentamente apunhalado no coração com Wangji como testemunha do meu massacre. Eu me encolhi ao escutar a minha voz no vídeo.
— Você não deveria estar me entrevistando, Chao?
— Eu me distraí.
— Com o quê?
— Com o quanto você está lindo embaixo desse sol. Adoro olhar para você por esta lente.
— Obrigado.
— Você é muito fofo. Não acredito que ainda fica vermelho quando eu te elogio.
— Eu fico?
— Fica. E estou avisando, continua olhando para mim desse jeito e isso vai virar um filme adulto não intencional em dois segundos.
Risos.
— Talvez a gente possa tentar mais tarde lá em casa, sr. Cinegrafista.
— Sério, a câmera te ama. Eu também, na verdade.
— Ah, é?
— Sim, Xian. Amo de verdade.
— Quanto?
— Deixa eu te mostrar.
Chao abaixa a câmera.
Barulho de beijos.
Risadas.
— É verdade, amor, você me faz muito feliz. Sou o cara mais sortudo do mundo.
Quando Wangji finalmente se virou e notou que eu estava ali, ele desligou o vídeo e ficou olhando para mim.
Silêncio.
A expressão em seu rosto era uma mistura de pena, raiva e compreensão. Eu acho que ele finalmente percebia por que eu estava tão destruído.
Quando uma lágrima começou a cair, ele a pegou em meu rosto e disse:
— Ele é um idiota do caralho. Não é digno do jeito como você olhava para ele naquele vídeo e certamente não é digno dessas lágrimas. Ele deslizou o polegar pela minha bochecha.
— Ninguém é.
— Não consigo evitar.
— Mas sabe... agora eu entendi. Depois de ver isso. De ouvir isso. Eu entendo por que é tão difícil para você. Sei que brinco sobre você ser maluca e tudo isso, mas você tem todo o direito de ficar chateada e confusa. As coisas que ele disse para você... o jeito como ele disse... Eu também teria acreditado. E eu tenho uma capacidade de percepção filha da mãe. Não se faz isso com ninguém. Mais do que isso... você merece coisa muito melhor.
— Isso foi só três semanas antes de ele ir para Boston e encontrar com ele de novo, quando tudo mudou. Quando ele estava fora, encontrei um anel na gaveta. Ele ia me pedir em casamento.
Wangji fechou os olhos momentaneamente e resmungou uma série de palavrões.
— Acho bom ele nunca pisar no nosso prédio. Se algum dia esse cara aparecer por aqui, juro que acabo com ele.
Nosso prédio.
Deixei escapar uma risadinha quando pensei na cena.
— Obrigado por querer fazer isso por mim.
— Você não devia estar vendo esse vídeo.
— Eu não estava. Não recentemente. Juro. Nunca uso o DVD player, agora que tenho Netflix. Esse disco está aí há vários meses.
Ele ejetou o disco e o segurou na minha frente.
— Você não precisa ouvir essa merda nunca mais. Com sua permissão, vou destruir. Posso?
O que eu deveria dizer? Tive que concordar.
Relutante, assenti.
— Ok.
Wangji entortou e quebrou o disco, depois foi jogá-lo no lixo.
E limpou as mãos de um jeito exagerado.
— Qual é o próximo?
— Como assim?
— Essa camiseta que está usando. Era dele, não era?
— Era.
— Vira.
Esperando que ele tentasse tirar a camiseta de mim, meu coração começou a bater descompassado. Fechei os olhos
Quando senti Wangji juntar o tecido nas minhas costas e puxar. A proximidade do corpo atrás do meu fez minha pele esquentar.
— Fica parado — ele disse, e senti que estava cortando a camiseta com o que eu imaginava ser a minha tesoura de cozinha. Uma corrente de ar frio substituiu o calor da camiseta quando ele a arrancou de mim.
— Vai colocar outra camiseta.
Cruzei os braços sobre o peito e desapareci no meu quarto, onde me apoiei à porta e esperei um minuto até me recuperar.
Ele havia cortado a camiseta e desencadeado uma estranha mistura de emoções. Por um lado, era um símbolo de finalização. Aquela camiseta era o último item de Chao que eu ainda tinha. Mais do que isso, fui pego de surpresa por quanto havia ficado excitado por ele ter rasgado a camiseta.
Forçando-me a lembrar o que tinha ido fazer ali, peguei a camiseta perfeita para a ocasião e voltei para a sala de estar.
Wangji sorriu quando olhou para o meu peito.
— Você me deixa doido de bacon. Boa escolha.
— Bom, é verdade. Você me deixa doido de vez em quando, mas de um jeito bom. Obrigado por me obrigar a fazer algo que eu realmente precisava fazer. Inclinei-me e o abracei, um abraço de amigos. Eu me recusava a reconhecer que o coração dele estava disparado e que o meu tentava bater no mesmo ritmo. E me recusava a reconhecer que ele cheirava tão bem que eu podia praticamente sentir seu gosto.
Wangji tomou a iniciativa de se afastar.
— Pronto para o filme?
— Sim. O que você trouxe?
Ele sorriu, foi até a bancada e pegou o DVD que ainda estava na embalagem plástica.
— Sua autobiografia.
— Chamas da vingança. Eu devia saber.
— Você já viu esse? — Ele sorriu.
— Não.
— Nem eu, mas é sobre um cara que provoca incêndios.
Então, sinto que já o conheço.
— Interessante.
— Não é?
— Você comprou isso?
— Encomendei on-line na noite em que comemos pizza.
Estava esperando o momento perfeito para mostrar.
— É bem a sua cara.
— Eu gosto de mexer com você. Mas é tudo brincadeira.
Sabe disso, não sabe? Eu me divirto com você, Wuxian .
— É recíproco... quando você não está me repreendendo — Brinquei.
— Mesmo quando estou repreendendo, é para o seu bem.
— Sei. — Sorri.
Quando nos sentamos para ver o filme, Wangji se acomodou no meu sofá, pôs os pés grandes em cima da mesinha de centro e inclinou a cabeça para trás. Eu me acomodei do meu lado do sofá, tomando cuidado para não chegar muito perto.
Tinha ouvido falar muito desse filme, mas não tinha ideia que iria gostar.
Não era o meu tipo de história, então acabei sonhando acordado com muitas coisas, olhando de vez em quando para Wangji enquanto ele comia a pipoca. Ele parecia compenetrado. Era sério? Parecia estar gostando muito.
Em um momento, ele se virou e viu que eu estava olhando para ele.
— Que foi? Não está gostando?
— Não é o tipo de filme de que gosto.
— Por que não falou?
— Você estava curtindo muito a ideia toda de ver o filme.
Não queria ferir seus sentimentos.
Ele abaixou o volume.
— Quer ver alguma coisa na Netflix? Do que está a fim?uns amassos com você.
É a única coisa que estou a fim de fazer agora.
— Está ficando tarde para começar outro filme. Não se preocupe.
— Bem, não vou continuar, se você não está gostando. —
Ele pegou o controle remoto e parou a exibição.
De repente, tudo ficou quieto.
— Posso te perguntar uma coisa, Wangji?
— A resposta é sempre sim, para de começar sempre com essa pergunta.
— O que exatamente você inventou para ter dinheiro para comprar este prédio?
— Era um tipo de tecnologia de fones de ouvido. Eu e um colega vendemos a patente por dez milhões.
Como é que é?
— Que coisa incrível.
— Depois de pagar os impostos e dividir o lucro líquido, não sobrou muita coisa. Eu usei a minha metade para comprar este prédio em um leilão e fazer a reforma.
— Então, investiu tudo aqui.
— Sim. E compensou.
— Você foi muito inteligente por investir o dinheiro, em vez de desperdiçá-lo.
— Adoro poder dar emprego para algumas pessoas. Essa é a melhor parte, honestamente.
— Murray só disse coisas boas sobre você.
— Meu trabalho é fácil. O que você faz nesse Centro da Juventude todos os dias, moldando a visão da vida e do mundo daqueles jovens, abrindo os olhos deles para coisas novas... Isso é muito mais difícil do que qualquer coisa que eu já fiz.
— É engraçado. Tem uma menina que veio falar comigo, pedir conselhos sobre relacionamento... justo para mim.
— Fala para ela que todas as respostas estão no unicórnio.— ele disse, revirando os olhos com ar debochado.
Isso me fez explodir em gargalhadas.
— Eu devia deixar você ir dar os conselhos. Mas acho que ela nem ia mais ligar para o Kai, depois de ver esses seus olhos dourados e ouvir você gritar que ela tem que superar essa história.
Eu me arrependi imediatamente do comentário sobre os olhos. Ele só sorriu para mim, como se não soubesse como responder.
— Eu grito? — perguntou.
— Só de vez em quando.
Ficamos conversando confortavelmente no sofá por um tempo, até que ele disse:
— Bom... não vamos ver outro filme, então?
— Não. Nada de filme. Acho que vou dormir.
Ele se levantou do sofá.
— Essa é minha deixa, então.
Wangji se abaixou para tirar o DVD do aparelho.
Eu o acompanhei até a porta.
— Obrigado por tudo.
Ele fez uma pausa antes de dizer:
— Seus olhos também não são feios.
Eu sorri e senti que meu rosto ficava vermelho.
Ele continuou:
— O babaca do seu ex estava certo sobre uma coisa.
— O quê?
— Você realmente fica vermelho toda vez que ouve um elogio. Mais uma pausa. — Toda vez.
Eu tinha certeza de que estava ainda mais vermelho quando falei:
— Boa noite.
— Boa noite.
......
De dar
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Lovely Neighbor
FanfictionToda história de amor verdadeiro começa com um coração partido....